
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
* desde 1928: As notícias reproduzidas
nesta seção obedecem à grafia da
época em que foram publicadas.
RIO, 10 - Agravou-se novamente o estado de saúde do escritor paraibano José Lins do Rêgo. O escritor já está em estado de coma, a despeito de todos os esforços da ciência para salvá-lo. O estado geral do doente agravou-se com violento acesso de uremia. Os médicos mantêm-se à cabeceira do enfermo, porém mantêm apenas pequenas esperanças de poder salvá-lo.
12 de setembro de 1957
Morreu o escritor José Lins do Rego
Rio, 12 - Morreu José Lins do Rêgo. O seu passamento ocorreu à 1h. 30m. da madrugada de hoje, após mais de 48 horas de desesperador estado de saúde, em consequência de acidose urêmica, manifestada depois de uma intervenção cirúrgica a que se submeteu.
Já às 21 hs. 30m. de ontem, o H. S. E. distribuir o último boletim, afirmando nada mais restar a fazer, a não ser esperar o desenlace fatal. Enquanto isso, José Lins permanecia em rinho de todos os seus familiares e outras pessoas amigas do estado de coma, cercado do grande romancista.
Logo que se teve noticia do passamento, o Presidente da República enviou seu oficial de gabinete à residência do morto para apresentar condolências à família enlutada seguindo-se a visita de altas autoridades, parlamentares e amigos de José Lins do Rêgo.
Tido como um dos maiores romancistas de sua geração, José Lins morreu aos 56 anos, ainda moço, portanto, e em pleno vigor de seu talento literário. Sua obra compõe-se de doze romances, um volume de memórias e alguns livros de ensaio e crítica.
José Lins passou as últimas 48 horas em plena lucidez, sabendo, entretanto, que partiria breve para sua última morada.
Nasceu o romancista brasileiro na cidade de Pilar do Engenho, Paraíba, a 3 de julho de 1905. Era figura popular em todo o país, não sòmente pelo interesse que há vinte anos vêm despertando seus livros, como pelos dramas que vivia com as vitórias e derrotas de seu clube, o "Flamengo". Formado em Direito, José Lins foi Promotor no interior de Minas Gerais, tendo sido mais tarde nomeado Fiscal do Imposto de Consumo. Sua vida literária começou com a publicação de seu primeiro romance, Intitulado "Menino de Engenho", seguindo-se outros, como "Doidinho", "Banguê", "Moleque Ricardo" e "Usina". A seguir Zé Lins publicou "Pureza", "Pedra Bonita", "Riacho Doce". "Eurídico", "Agua Mãe". "Fogo Morto" e "Cangaceiro". Era casado com a sra. Naná Massa Lins do Rêgo, deixando três filhos e alguns netos. Sua última obra intitula-se "Verdes Anos", livro de memórias, concluido pouco antes de adoecer.
O corpo do romancista brasileiro ficará em câmara ardente na Academia Brasileira de Letras, para visitação pública.
As moendas da morte esmagaram por fim, o Menino de Engenho
O POVO realizou, hoje, uma enquete em tono de José Lins do Rego, que faleceu, pela madrugada na capital da República.
O crítico Braga Montenegro, que privou com o autor de "Banguê", quando êle, ao lado de Graciliano Ramos e Aurélio Buarque de Holanda, iniciava sua carreira literária, lançando seu romance "Menino de Engenho", em 1934, declarou o seguinte:
- "Zé Lins do Rêgo foi um dos maiores nomes do romance brasileiro. Em sua obra, criou, retratando o Nordeste, numa linguagem própria, muito expressiva e convincente".
Braga Montenegro há poucos meses recebeu do escritor uma de suas últimas obras, - "Gregos e Troianos" - com a seguinte dedicatória: "Ao amigo Braga, o seu admirador nordestino".
O professor Fran Martins afirmou:
- "Zé Lins foi um dos maiores romancistas do Brasil. Dificilmente o Nordeste voltará a ter um romancista capaz de retratar tão bem quanto êle a aplaudida obra com motivos do Nordeste e fez um romance regional que se projetou no país inteiro, pelo agradável estilo e vigor de sua substância social".
O jornalista J. C. Alencar Araripe declarou o seguinte:
- "O Brasil acompanhou, com emoção, todos os lances da luta para salvar a vida de José Lins do Rêgo. Infelizmente, não foi possível evitar a angústia maior, que representou o desaparecimento do consagrado escritor, que elaborou a vida do povo".
O poeta Artur Eduardo Benevides, que teve oportunidades de avistar-se pessoalmente com o autor de "Cangaceiros", acentuou:
- "A morte de Zé Lins, que foi uma das maiores figuras da moderna literatura brasileira, enluta profundamente as letras nacionais. De todos aqueles que lamentam o seu desaparecimento, nós, intelectuais do Nordeste, somos os que mais sentimos, pois Zé Lins foi, sobretudo, um escritor em cuja obra se espelha a alma e a fisionomia do nordeste".
O cronista Milton Dias:
- "Com José Lins do Rego desaparece uma das mais altas expressões da moderna literatura brasileira".
O jornalista João Jaques disse:
- "As moendas da morte esmagaram, por fim, o "menino de engenho", o criador do ciclo da cana de açúcar.
José Lins do Rêgo foi, antes de tudo, um nordestino. Em que pese às influências do tempo, que o tatuaram de imperfeições estéticas, arrastando-o para o terreno das liberdades da prosa sem policiamento, e para um esquerdismo e uma revolta muito natural em espirito sem profundidade filosófica, os seus romances ficarão pelo conteúdo humano, pelo bosquejo de uma análise sociológica à luz de uma intensa trama dramática, pelo sabor de vida e de realidade que possuíam.
O açúcar de "Banguê" amarga, tem fermento. Mas o sentimento do artista sofrido compensa e inebria.
Os anos o iam destilando. Não teve tempo, porém, de arrematar seus trabalhos com a obra pensada, forte e original de que era capaz pelo seu talento e pela sua acuidade de observador.
As moendas da morte também arrancam lágrimas dos vivos".
13 de setembro de 1957
Milhares de pessoas no sepultamento de José Lins do Rego
Rio, 13 - Na tarde chuvosa de ontem, foi sepultado, no Cemitério de São João Batista, o escritos José Lins do Rego, com fardão de académico e a bandeira rubro- negra do Flamengo. Os retos mortais do conhecido escritor e desportista permaneceram em câmara ardente na Academia Brasileira de Leiras, onde acorreram milhares de pessoas e altas personalidades, como o Presidente da República, os ministros de Estado e numerosos parlamentares. Dom Justino, a quem José Lins do Rego se confessou pela última vez disse que oe scritor "morreu como verdadeiro cristão": - contrito, convicto e consciente do destino que têm assim as que temem a Deus".
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.