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Quase 70 mil saborearam a travessia da fronteira
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

Quase 70 mil saborearam a travessia da fronteira

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Quase 70 mil alemães-orientais atravessaram a fronteira com a Alemanha Ocidental desde a noite de quinta, uns para ficar, outros apenas para saborear o gosto de sair livremente de seu país, logo depois de suavizadas, pelo governo, as restrições às viagens. Em apenas duas horas, e por apenas um posto de controle, 20 mil alemães-orientais atravessaram o Muro de Berlim e entraram em Berlim Ocidental, misturando-se à multidão que ali comemorava a abertura da fronteira. Cerca de mil ficaram, registraram-se como refugiados, enquanto os restantes voltaram para casa, satisfazendo-se com uma simples visita ao outro lado.

Fora esses 20 mil, 47.407 alemães-orientais entraram na Alemanha Ocidental desde a noite de quinta, informou o Ministério do Interior alemão-ocidental. Deles, 2.545 disseram que iam ficar. A abertura da fronteira, à noite, levou a uma comemoração espontânea junto ao Muro de Berlim, o símbolo mais óbvio da Guerra Fria, construído em 13 de agosto de 1961 para conter a fuga em massa de alemães-orientais.

Junto ao Portão de Brandenburgo, um marco fechado desde 1961, tanto os berlinenses orientais quanto os ocidentais deixaram de tomar conhecimento dos gritos dos guardas de fronteira orientais e, gritando "derrubem isto", subiram ao topo do muro, que tem mais de três metros de altura. Diante da massa que procurou chegar ao outro lado da fronteira, as autoridades da Alemanha Oriental suspenderam a anunciada exigência de visto e deixaram que os cidadãos seguissem sem serem perturbados.

11 de novembro de 1989

COMEMORAÇÃO

Assim que foi anunciado o fim das restrições às viagens entre as duas Alemanhas abrindo afinal, o Muro de Berlim, milhares de pessoas dos dois lados acorreram aos principais pontos divisórios entre Berlim Ocidental e Oriental, em uma celebração espontânea que entrou pela madrugada e continuou no dia de ontem. Logo, os principais pontos de passagem ao longo do Muro de Berlim estavam cheios de pessoas do lado ocidental e oriental, que se abraçavam emocionadas, abriam garrafas de champanhe e exigiam aos gritos que o muro fosse derrubado. Do lado oriental, filas enormes de carros se formaram, cheias de pessoas que só queriam dar um pulo até o outro lado para visitar parentes ou tomar um drinque, mais uma forma de comemorar o fim de 28 anos de separação. Funcionários dos postos fronteiriços calculam que cerca de 30 mil pessoas cruzaram a fronteira no curso da grande euforia pela derrubada das restrições.

Os moradores de Berlim Ocidental recebiam aqueles que cruzavam as fronteiras, muitos apenas para comemorar, oferecendo flores, bebidas, dinheiro ou simplesmente abraços. O chanceler Helmut Kohl disse que a Alemanha estava vivendo um momento histórico e que manteria contato direto com o líder alemão-oriental Egon Krenz para conversarem sobre a abertura das fronteiras e as reformas previstas.

12 de novembro de 1989

Alemães no Ceará estão surpresos

A abertura do Muro de Berlim, paredão construído em 1961 pelo governo da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) para evitar o êxodo de Berlim Oriental para Berlim Ocidental, dos descontentes com o regime comunista que vigorava na RDA, agradou também aos cidadãos de origem teutônica que moram fora da Alemanha dividida.

Os germânicos que habitam em Fortaleza também ficaram felizes com a abertura política do novo dirigente alemão-oriental, Egon Krenz. Todos acreditam que a iniciativa decorreu da política do líder soviético Mikhail Gorbatchov, que iniciou o processo de liberação dos países comunistas, com a implantação da Perestroika. Desde o final do mês de agosto deste ano, cerca de 150 mil alemães-orientais começaram a emigrar para o Ocidente, via países comunistas mais próximos, Tchecoslováquia e Hungria. A partir daí, a repressão aos fugitivos começou a ser intensa. Como o próprio Egon Krenz admite, antes de ser alemão, ele é comunista. Mas, depois de diversos acordos entre os representantes da cúpula comunista da República Democrática Alemã, surgiu a decisão de se fazer a liberação total.

Os alemães residentes no Ceará foram tomados de surpresa com a iniciativa do governo comunista. Para eles, esse fato já devia ter acontecido há muito tempo. Com o término da Segunda Grande Guerra, em 1945, a Alemanha foi dividida em quatro zonas de ocupação, tomadas pelas potências aliadas que foram vitoriosas. Eram elas: Estados Unidos, França, Inglaterra e União Soviética. Desde cedo, a URSS demonstrou interesse em separar sua área do resto do país. Com isso, houve o surgimento da Cortina de Ferro, foco de discussões e interferência de todo o mundo.

12 de novembro de 1989

EDITORIAL

A Alemanha e o socialismo

Para já, não há duas Alemanhas; há uma Alemanha dividida pelos interesses políticos, ideológicos e estratégicos das duas maiores potências do mundo, no pós-guerra. A língua que se fala no Leste e Oeste é a mesma, o povo detém vínculos culturais comuns e a mesma identidade, tanto se encontre aquém ou além do muro de Berlim. O desejo de unificação dos territórios ocupados pelos soviéticos e pelos chamados aliados, a partir de 45, está nas mentes e nos corações de toda a Alemanha.

Quem a visitou andou observando e conversando com o povo, sabe como foi trágica e dolorosa a separação. Pode acabar com o muro que já foi chamado de vergonha. Houve a fuga de milhares de cidadãos do Leste, abrem-se os portões, agora, para a ida e vinda de alemães que confraternizam e vão torcer pela reunificação. Mas, pelo que se tem visto nos noticiários, essa unificação não parece interessar aos dois blocos hegemônicos. Por que EUA e URSS não vêem com bons olhos essa possibilidade?.

A Alemanha do Oeste tem, hoje, um lugar privilegiado na economia mundial. É um dos países com as mais altas taxas de crescimento econômico, com excelente nível de vida. Um pouco educado e próspero, governado, alternadamente, por socialistas e liberais. Não esqueçamos isso. Foram os governos socialistas de Willy Brandt e Helmut Schmidt-para falar dos mais próximos que garantiram ao cidadão comum o direito amplo à educação, à assistência médica, ao transporte público, a uma digna aposentadoria.

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