
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Tinha o hábito de, ao sair da escola com meus meninos e minha sobrinha, parar em um canteiro para pegar florzinhas. Eles enchiam os bolsos da farda e chegavam em casa tão alegres, distribuindo ternura para quem estivesse por perto, que o meu conflito sobre se era um erro diminuir as flores do canteiro amenizava.
Certa vez, estava apressada e não fizemos o que era de costume. A Marina logo disse:
- Mamãe, e as florzinhas?
- Minha filha, hoje não vai dar tempo.
Um pranto inconsolável começou. No carro, fui tentando acalmá-la. No começo, achei que podia ser birra, mas era um choro tão sofrido, daqueles que apertam o coração de qualquer mãe. Com os olhinhos vermelhos e marejados, ela disparou:
- Eu quero a Sara!
A Sara, prima-irmã, tinha ido recentemente morar em São Paulo. Meu Deus, como é que logo naquele dia não parei para pegar as flores? Já estava na Padre Antônio Tomás quando avistei as mesmas flores no canteiro central. Sem pensar, no sinal vermelho, rapidamente abri a porta e colhi às pressas, sem culpa, um ramalhete enorme.
- Pronto, meu amor,aqui estão.
Pois bem, lembrei esse episódio ao ler, há poucos dias, um texto do Freud. Ele descreve sua surpresa diante de um amigo poeta que não conseguia extrair alegria da beleza das flores. "Tudo aquilo que, em outra circunstância, ele teria amado ou admirado, pareceu-lhe despojado de valor por estar fadado à extinção. A questão é que, diante da efemeridade do que é belo, o valor de toda essa perfeição é determinado somente por sua significação para nossa própria vida emocional, não precisa sobreviver a nós; independe, portanto, da duração absoluta."
Aos meus olhos, as flores são belas, delicadas e, mesmo que durem poucos dias, não deixo de me surpreender e me encantar com o desabrochar de uma delas. Em uma quadra singela e profunda, Fernando Pessoa escreveu: "Dizem que as flores são todas palavras que a terra diz." Para mim, uma dessas palavras que a natureza nos oferece é saudade. E, quando vejo a felicidade das meninas em cada reencontro, eu me emociono e lembro que, mesmo em sua transitoriedade, as flores têm uma capacidade enorme de renascer, muitas vezes, em um solo mais fértil.
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