Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Era novembro quando saí em busca da metáfora a céu aberto. O projeto Poesia em Cartaz, idealizado pelo publicitário Paulo Fraga, vem fazendo a cidade respirar arte. Meu verso estava no bairro de Messejana. Que grata surpresa: vivi parte da minha infância lá, no sítio da minha avó. Antes de sairmos de casa, disse: "Mãe, vamos passar um batonzinho... a poesia é para a senhora.
Quero tirar uma foto ao lado do outdoor." No caminho, meu pai disse: "Guidinha, acho que o outdoor está bem próximo de onde a gente começou a namorar." Em seguida, lembrou: "Ela encostou a cabeça no meu ombro, então pensei: estamos namorando." Brinquei: as coisas eram bem mais simples naquela época! A conversa estava boa; víamos as mudanças no bairro ao longo dos anos enquanto relembrávamos o passado.
De repente, avistei a igreja. Ela permanecia lá, a igreja onde meus pais se casaram, numa pequena cerimônia pela manhã. O sol se punha. Seguimos mais um pouco. "É aqui, pai. Vira à direita..." Fiquei sem acreditar. O outdoor já não estava mais lá. Demorei, perdi, não consegui ver. Um silêncio me encontrou.
Segui procurando poesia. Desta vez em outro céu: O Céu da Língua, peça de Gregório Duvivier. Enquanto o ouvia, fui tomada por uma sensação de pertencimento, que só acontece quando alguém nomeia algo do nosso jeito. "A despedida é uma palavra nossa. Em muitas línguas, se despedir é apenas dizer tchau. A despedida não é só dizer adeus, mas é a cerimônia do adeus. Só uma língua que inventou a saudade poderia ter inventado a despedida."
Há palavras que só nos encontram quando deixamos de procurá-las. Lembrei-me do que havia me acontecido. Depois do silêncio, ela surgiu: Messejana. Uma metáfora da minha infância, da memória dos meus pais e, sobretudo, da minha avó, que amava demais aquele lugar.
Estava ao lado dela quando se foi. Ela já tinha perdido a capacidade de nomear as pessoas, as coisas e o que sentia. Confiava em mim, mas já não sabia meu nome. Segurei sua mão. A expressão era de dor. Chamou por Messejana. Despediu-se. Saudade.
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