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Sonhos e pesadelos do cidadão comum
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Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)

Sonhos e pesadelos do cidadão comum

A "sociedade civil" não responde mais facilmente aos antigos dispositivos de formação da opinião pública enunciados pela Igreja romana, pelos partidos ideológicos, pela ciência empírica e pela imprensa tradicional
LULA tem feito anúncios acompanhado de Gabriel Galípolo e Fernando Haddad (Foto: Reprodução de vídeo/Agência Gov)
Foto: Reprodução de vídeo/Agência Gov LULA tem feito anúncios acompanhado de Gabriel Galípolo e Fernando Haddad

Vivemos um momento histórico que deixa os analistas perplexos. Por um lado, a política desenvolvimentista do governo Lula tem reconhecido sucesso como o mostram os excelentes desempenhos dos bancos estatais, as quedas das taxas de desemprego e os investimentos públicos e sociais. Mas, paradoxalmente, estes indicadores otimistas da economia não se traduzem em resultados concretos na adesão politica dos cidadãos comuns ao projeto lulista.

Quem chamou atenção sobre este aparente paradoxo não foi nenhum membro do PT, mas um conhecido jornalista econômico, colaborador de um periódico do Sudeste que defende a privatização das empresas públicas. Para ele, em termos econômicos este é o melhor natal desde 2013 e por isto o mal-estar, diz, é intrigante.

Há dois pontos para reflexão. Um deles é de que os fatos revelam não haver uma relação direta entre bom desempenho da economia e adesão política automática da opinião pública ao governo. Esta constatação desmente o mito do utilitarismo econômico que inspirou grande parte das políticas públicas liberais no século XX.

Na verdade, este mito confunde o entendimento das razões não-econômicas dos indivíduos na politica. O mito esconde expectativas não materiais do cidadão comum com relação aos motivos para uma vida de qualidade. Esta depende de bens materiais, sim, mas também daqueles bens simbólicos como memórias, afetos, valores morais e crenças diversas inclusive religiosas.

Há também que se considerar o fato de que a "sociedade civil" não responde mais facilmente aos antigos dispositivos de formação da opinião pública enunciados pela Igreja romana, pelos partidos ideológicos, pela ciência empírica e pela imprensa tradicional. A multiplicação de dispositivos de produção de verdades desorienta as massas e acentua os temores de uma vida com mais pesadelos que sonhos.

Então é hora de que as forças democráticas reflitam com mais profundidade sobre os elementos complexos que impactam nas decisões objetivas e na recepção pelo público das políticas governamentais voltadas para o social.

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