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A natureza ambivalente do Humano
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Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)

A natureza ambivalente do Humano

A indiferença deste anarcocapitalismo com a pobreza se materializa pela proliferação de mentiras na política. Ela coloca em evidência um assunto fundamental: a ambivalência da natureza moral do Humano. Ele tem vocação para o bem? Ou para o mal?
DONALD Trump e Melania na cerimônia de despedida de Joe Biden e Jill Biden (Foto: JIM WATSON / AFP)
Foto: JIM WATSON / AFP DONALD Trump e Melania na cerimônia de despedida de Joe Biden e Jill Biden

A marca central do capitalismo ocidental é o crescimento da desigualdade social em paralelo à concentração de riquezas, gerando forte injustiça social. Joe Biden dedicou seu último discurso como presidente para alertar sobre o surgimento desta oligarquia antidemocrática dos muito ricos. Este alerta se evidencia com as práticas autoritárias de Donald Trump.

A indiferença deste anarcocapitalismo com a pobreza se materializa pela proliferação de mentiras na política. Ela coloca em evidência um assunto fundamental: a ambivalência da natureza moral do Humano. Ele tem vocação para o bem? Ou para o mal? A resposta invoca duas tendências diferentes de filosofia ocidental e que influíram no processo de institucionalização dos sistemas sociais modernos: uma idealista, outra, materialista.

No Ocidente, dominou, inicialmente, a articulação judaico-cristã da moral com o transcendental, fundando certo salvacionismo teleológico. Santo Agostinho, Rousseau e Kant, entre outros, eram simpatizantes da ideia do Homem como ser naturalmente bondoso.

A outra tendência, mais recente é a da filosofia utilitarista e individualista que vicejou a partir do mercantilismo inglês, desde o século XVIII. Sua essência foi descrita por J.S.Mill, como sendo aquela de maximizar o prazer e minimizar a dor, ou maximizar os ganhos e minimizar as perdas. Ela estimulou a cobiça cínica de colonizadores, industrialistas e financistas no momento presente.

A banalização da mística contribuiu para a degradação da representação do Humano. As consequências podem ser vistas pela presença de tendências políticas reacionárias que desacreditam no bem comum universal como prova de fé. Até parte das tradições religiosas cristãs atuais são influenciadas por ela, estimulando a crença cega nos ganhos materiais e comprovando a hegemonia do utilitarismo individualista.

Felizmente, a crítica moderna - que se efetivou por tendências como aquelas da fenomenologia, da psicanálise, do feminismo e do ecologismo -, ajuda a balancear estas duas tendências filosóficas em disputa, no Ocidente. Ela sugere compreensões mais pragmáticas e justas da vida, mediante reflexões que liberam a imaginação criativa na relação com o bem comum.

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