Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
Com o desaparecimento gradual da representação ilusória de um tempo linear guiando o capitalismo ocidental, a ideologia do progresso histórico perde sua validade coercitiva. Com ela também empalidecem as representações progressistas do liberalismo e do socialismo, da direita e da esquerda tradicionais, lançando a humanidade numa espécie de subjetividade caótica.
A perda de validade da crença ufanista no progresso da história sugere que o tempo enlouqueceu, que o futuro idealizado naufragou e que ficamos órfãos. Esta sensação libera diversas possibilidades de reorganização das representações do tempo humano. O reconhecimento do presente como tragédia - que sempre esteve aí - de um presente regido por guerras, violências e injustiças, estimula a criação de novas utopias e distopias.
Temos o tempo apocalíptico revigorando a linguagem bíblica e as tendências de um movimento milenarista transnacional liderado por personalidades religiosas e políticas poderosas. Este tempo exalta o futuro não mais como pacto amistoso, conflituoso ou possível entre capital e trabalho, mas como reino mítico do justiçamento dos ímpios e redenção dos escolhidos.
Temos um outro tempo, consumista, ligado não ao futuro, mas às imagens imediatas do da acumulação ansiosa e frívola de mercadorias sejam dinheiros, bens materiais, corpos e sexos. As práticas intensivas e exaustivas de acumulação de objetos, de movimentações de músculos, de comilanças sôfregas e de turismos predatórios revelam bem os sintomas deste tipo de experiência apocalíptica - não do além, mas do aquém. Este tempo enlouquecido se funda sobre duas patologias crescentes nestes tempos contemporâneos: a ansiedade e a depressão.
Temos ainda o tempo ecológico ligado à urgência de reinstituir a relação entre o humano e a natureza em um nível superior de integração biológica e cultural. Este é um tempo novo e complexo que se revela com a urgência de resolução da crise climática e que pede sobriedade e compromisso com a vida presente, com as futuras gerações e com a preservação da espécie humana. A COP30 é prova deste novo tempo.
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