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Universo Cine Holliúdy vira fenômeno de massa
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Universo Cine Holliúdy vira fenômeno de massa

A estética, o linguajar e os personagens únicos de Halder Gomes retornam em quatro produções
Halder Gomes e o elenco da série Cine Hollywood em Pitombas, uma cidade cenográfica criada e mantida em segredo pela Globo (Foto: arquivo pessoal )
Foto: arquivo pessoal Halder Gomes e o elenco da série Cine Hollywood em Pitombas, uma cidade cenográfica criada e mantida em segredo pela Globo

Cine Holliúdy é hoje uma das marcas mais fortes de entretenimento no Brasil. Desde Chico Anysio e seu Chico City, o humor cearense, que produziu também o clássico Didi Mocó de Renato Aragão, não despertava risos e uma emoção tão forte nos brasileiros. O cearense Halder Gomes, que morou em Los Angeles, e conhece as manhas e as manhãs de Hollywood, onde trabalhou como dublê de filmes de ação, criou o que os estúdios e a cultura pop chamam de Universo Cine Holliúdy, um conjunto de heróis protagonistas que brilham em cenários imaginários, além de um extenso elenco de coadjuvantes de luxo, com narrativas e motivações próprias.

Nos próximos meses, o Universo Cine Holliúdy lança seu primeiro projeto internacional com a Netflix, mais dois longas e a segunda temporada da minissérie da Globo com direito a um projeto cenográfico especial chamado de Cidade Pitombas. Nessa entrevista (veja a íntegra no O POVO Mais), você vai conhecer um cearense apaixonado pelo seu povo e principalmente pela sua linguagem, um empreendedor do audiovisual com visão sofisticada do negócio e um ser humano disposto a enfrentar qualquer obstáculo com a potência ofensiva que trouxe do taekwondo.

De Senador Pompeu para o mundo

HG: Nasci em Fortaleza e, com 15 dias de nascido, fui morar em Senador Pompeu. Lá, acumulei memórias, referências de um cinema que não existe mais, mambembe, com programação descartável do que circulava na Capital. Aos 12, fui estudar em Fortaleza. Fiz intercâmbio, morei pertinho de Detroit. Foi o primeiro grande impacto cultural através dos filmes. No intercâmbio, cheguei num dia de tempestade de neve. Passei três dias num tédio. Nas Páginas Amarelas (lista telefônica), vi uma academia de Taekwondo. Aí acontece uma grande paixão, a arte marcial. Junto ao cinema, voltei para Fortaleza alucinado pelo Taekwondo. Conheci figuras importantes, saímos em competições e botei minha academia.

O cinema como divisor de águas

HG: Em Fortaleza, descobri colegas que trabalhavam no cinema como dublês de lutas e um amigo dirigia uma ação. Foi minha porta de entrada. Depois, fiz meu primeiro filme. De madrugada, montando o filme, surgem ideias, lembranças do interior. Surgiu o curta "Cine Holliúdy". Escrevi argumento, estruturei roteiro com uma parceria. Um edital do Ministério da Cultura era a única forma de fazer. O curta foi um grande laboratório, um estudo de estética, narrativa, personagem, linguagem, de público.

O sucesso de Cine Holliúdy

HG: O filme começou a bater produções americanas nas locadoras. Tinha algo que anunciava potencial. O curta quebrava, para mim, esse pensamento regional que vem pelo lado preconceituoso que nos impõe até um complexo de inferioridade. Via o filme funcionar em vários lugares do Brasil e do mundo. Quando a crítica de cinema Ana Maria Bahiana falou que eu precisava fazer um longa, foi uma chancela, porque uniu o olhar crítico com o popular. Teve freios, refutavam o projeto. Ouvia tudo que era contra. O filme veio de políticas que tornam projetos autorais, de difícil compreensão do mercado, possíveis. Não é o filme que mudou a regra de mercado, ele mudou o pensamento mercadológico no País.

Novos projetos

HG: "O Cangaceiro do Futuro" (série da Netflix com Max Petterson) lança no 2º semestre. É uma comédia em algum lugar do Nordeste, em 1927. Foram quatro meses de filmagens: quatro diárias em São Paulo e o resto em Quixadá. Tem "Vermelho Monet" (com Chico Diaz e Maria Fernanda Cândido), com um olhar para valorização da arte e o mercado de falsificações. Tem a 2ª temporada da série "Cine Holliúdy" na Globo. A gente gosta de locação real, só que agora transformou isso na cidade cenográfica de Pitombas, para facilitar a logística. Estar na maior emissora do País é uma representação do Ceará muito grande, do poder que a gente tem em horário nobre. É muito legal quando penso que isso começou a partir de uma memória na madrugada.

Comi e gostei

Visitei o Mar de Lima (Frei Mansueto, 1130, umas três vezes desde sua abertura e experimentei uma variação de entradas e pratos principais antes de escrever sobre ele. Achei que a simplicidade poderia ter alguns deslizes.

É um restaurante com proposta clara, simples e direta: fazer uma gastronomia de pratos de verão, leve e servi-los num ambiente confortável, sem esnobismo. O cardápio é, digamos, sazonal autoral com forte inclinação para peixes e frutos do mar.

A entrada chamada tuna é um delicioso atum fresco selado na crosta de gergelim, com redução de shoyu e aioli de cogumelo. Eles usam o atum sem os exageros dos falsos japoneses que pululam em Fortaleza. Outra boa opção de entrada é o atum fresco em cubos, maionese de cogumelos defumada e finalizada com ervas, servido numa mini casquinhas com uma massa bem crocante.

Como prato principal eu experimentei um filé ao molho bechamel com fettuccine. O molho bechamel merece servir como modelo para esses milhares de restaurantes que servem um bechamel que parece uma margarina velha.

Também experimentei o filé grelhado regado com molho roti de mostarda, cebola caramelizada, purê de mandioquinha e farofa crocante. O filé, o que é raro por aqui, é grelhado por fora e vermelho por dentro. Sim, eu sei que o cearense só come carne muitooooo bem passada. Mas como dizia um chefe francês amigo meu, isto não é filet é paralelepípedo.

Para fechar, comi uma sobremesa de esferas de mousse de limão com castanhas caramelizadas e creme de limão. Eu que sou apaixonado por limão, adorei.

O Mar de Lima é de uma qualidade acústica rara. E curiosamente, todo mundo acaba por falar baixinho. A carta de vinhos é apenas sofrível. Enfim, um cardápio que parece simples, executado com perfeição. É muito.

A Divina Comédia Cearense

Essa história o amigo querido Fred Lustosa conta no livro sobre o Mestre dos Mestres Augusto Pontes (Amigo Genial) que vai ser lançado. Uma tarde fomos eu, Fred, Augusto Pontes e Fernando Costa almoçar no Iguatemi. Depois do almoço, estávamos descendo a escada rolante quando vimos Tasso Jereissati e Renata subindo a escada paralela. Tasso, como sempre muito simpático e bem humorado com nosso grupo cumprimentou-nos festivamente:

- Como vai a turma?

Augusto respondeu com seu humor cheio de tiradas inusitadas e que oferecia algo mais por trás das piadas, as leituras precisas da sociologia da cidade.

- Como sempre, Senador. O senhor subindo e a gente descendo.

- Cai o pano rápido.

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