
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Ele não é apenas mais um treinador de futebol que mexe com o coração de milhares de cearenses.
Ele colocou o Fortaleza entre os dez melhores clubes do País.
Ele redesenhou a concepção do que é comandar um time nordestino, dando ao Fortaleza mais do que padrão de jogo, ele criou um jeito de ser ousado e jogar criativamente a cada partida.
Por que ele é voda? Vojvoda é uma palavra eslava que significa comandante.
Ele sabe comandar.
Ele está nos lembrando do que podemos ser em campo como somos na vida: transparentes, ter relações delicadas, respeitosas e dignas entre jogadores e dirigentes.
Vojvoda traz para o futebol cearense solidariedade e humanidade.
O que ele está fazendo pelo Fortaleza para além das vitórias?
Está mostrando ao Brasil e à América do Sul que um time nordestino pode ter um conceito de jogar e viver dentro e fora de campo.
Vojvoda é também um argentino que veio para alargar a percepção do povo cearense do que é ser argentino.
Fortaleza é uma cidade marítima, turística e aparentemente aberta demais ao que vêm de fora.
Só aparentemente.
É cheia de temores e cuidados com modas que chegam aqui todos os dias. E com razão.
Em antropologia existe o conceito de potlatch.
Potlatch é uma cerimônia praticada entre tribos indígenas da América do Norte. Consiste num festejo religioso de homenagem que um povo faz a outro, geralmente envolvendo um banquete de carne de foca ou salmão.. A própria palavra potlatch significa dar, caracterizando o ritual como de oferta de bens e de redistribuição da riqueza. A expectativa do homenageado é receber presentes também daqueles para os quais deu seus bens, quando for a hora do potlatch destes.
Potlatch é o que na diplomacia se chama reciprocidade.
Se faço uma grande festa para um povo amigo, tenho que receber uma retribuição igual ou maior.
Se isso não acontece é guerra. O pau quebra.
O cearense e, principalmente, o fortalezense são abertos e generosos demais com o que vem de fora. Mas, no geral, não recebem nenhuma reciprocidade.
Vojvoda chegou aqui humildemente. São famosas as histórias dele morando no clube e pedindo para alguém abrir o portão ao chegar em horas incertas.
Quando virou sucesso e recebeu dezenas de propostas milionárias, ao contrário de Rogério Ceni e outros brasileiros, ele optou por ficar.
A Argentina tem um papa (aliás, uma figura luminosa), na minha opinião, o maior escritor de língua espanhola de todos os tempos (Jorge Luis Borges), também Maradona, Messi, Gardel, Piazzolla e Ricardo Darín. Mas do que isso: tem um povo com alta escolaridade.
As três coisas que o argentino médio mais gosta são: churrasco, psicanálise (BAs tem a maior per capita de psicanalistas do planeta) e futebol.
Entender e admitir nossos vizinhos não significa abrir mão do nosso amor próprio. É abrir nossa cabeça para países incríveis como Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Equador, por exemplo, que têm muita coisa legal para nos ensinar e deixar de ver o mundo só pelo prisma de europeus e americanos.
O que é Miami, na frente de Buenos Aires? Uma terra sem identidade, sem cultura própria, comandada por um fascista (Ron DeSantis, governador da Flórida) que recebe fascistas de férias.
Juan Pablo Vojvoda nasceu na grande B. Aires (em General Baldissera, mas foi criado em Cruz Alta) e foi um jogador apenas mediano. Estudou Medicina em Rosário, largou na residência e faz de sua vida no futebol uma lição de enxergar o outro, com suas virtudes e problemas. Que bom que temos um mito como Vojvoda no Ceará. E olha que quem está escrevendo isso é um torcedor apaixonado do Ceará.
Que venham outros Vojvoda.
Fortaleza e a paixão pelas padocas
Cresci numa padaria paulistana, eu diria exagerando um pouco. Na verdade, passei o final da minha adolescência e o começo da vida adulta em São Paulo. As padarias de São Paulo são o melhor e maior espaço de sociabilidade que cada paulistano tem. Padarias também existem no Ceará há séculos. Mas essa relação que passamos agora a ter com as padarias é nova.
Elas são, como no caso de São Paulo, uma extensão de casa. São home office, divã, lugar de fazer DR (discutir a relação), pós-academia para começar o dia, e por aí vai.
No meu bairro, a Varjota, o novo Leblon de Fortaleza (com a vantagem que você não esbarra toda hora naqueles malas dos atores da Globo), três padarias representam esse novo universo.
Primeira Linha
(Tavares Coutinho,135).
Essa padaria é o novo fenômeno comercial do setor. Vive lotada e cresce sem parar. É impressionante como sempre cabe mais um.
Tem a clássica mesa com omelete, panquecas, tapiocas, frutas, cuscuz, sanduíches prontos, sopas com reposição muito rápida e boa qualidade dos produtos. Nada de excepcional, mas tudo muito correto com serviço atencioso e rápido.
O que me atrai na Primeira Linha é seu surpreendente croissant. Você pode retirá-los das assadeiras (é o que faço) saindo do forno. Não, não pegue os disponiveis na mesa de self service, vá arte o forno seguindo a direito e tenha a deliciosa experiência de retirá-los das assadeiras saindo do forno. É uma experiência maravilhosa, só comparável aos croissants de Paris.
Os preços são bem acessíveis e o público principal são fitness e candidatos fitness, quer dizer, o povo que sonha em ser magro e atleta, depois de uma passada na academia. Ou seja: malhei, corri e agora vou me esbaldar.
Paîne: Panificação Artesanal,
Rua Castro Monte, 899.
A pâine fica a 200 metros da Primeira Linha. Mas é como se elas tivessem combinado: ninguém tira o consumidor de ninguém. A Pâine atrai os cult bacaninhas mais exigentes. É uma padaria bem mais sofisticadinha, com pães artesanais de qualidade, saladas, sucos e aquele diferencial para quem quer pagar mais e comer com grife. Vive cheia, como a Primeira Linha, mas durante a semana é mais tranquila e pode se comer bem e sem o trauma de uma fila, como acontece nos fins de semana.
Montmartre Café,
Av. Dom Luís,500.
Das três, é a padaria mais antiga, maior e mais família. Tranquila, excepcionalmente se enche demais quando os alunos do Farias Brito fazem Enem e simulados.
Ela tem um serviço muito bom, as meninas do atendimento estão na casa há muito tempo e são bem legais. Tem uma salada de fruta bem novinha, coisa que faço questão de pedir no café da manhã, e os cafés e sucos são perfeitos. É o lugar ideal para você ir quando não está afim de barulho ou agitação. Tem até uma adega de vinhos bem selecionados, com preços bem convidativos. O forte da Montmartre da Dom Luís é que ela é uma delicatesse bem honesta. Você além de tomar seu café da manhã, pode responder e-mails (ainda faço isso, acredita?), mandar zaps desaforados e, antes de sair, fazer aquelas suas comprinhas para o jantar.
Bom, se você acha que a Varjota está exagerando na oferta no quesito padaria, as padocas, como os paulistas adoram dizer carinhosamente, espere um pouco. Está chegando a Padoca Les Roches, bem ali no quarteirão sucesso da Ana Bilhar. Mas essa merece uma nota especial todinha dedicada a ela.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.