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Ceará: de que lado brilha o sol
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Ceará: de que lado brilha o sol

ENERGIAS LIMPAS, TURISMO E ECONOMIA CRIATIVA: ONDE BATE LÁ MEU CORAÇÃO
Beach Park (Foto:  Beach Park/Divulgação)
Foto: Beach Park/Divulgação Beach Park

Vou abrir mão do meu tom crítico essa semana (embora pense como Millôr Fernandes que imprensa é crítica, o resto é armazém de secos e molhados) e vou falar de esperança.

Minha filha Clarisse me fez uma pergunta que me mobilizou. E ela sinalizou alguns pontos para pensar.

O que nos moverá para um futuro mais promissor?

Não vou repetir o óbvio, vou parafrasear Belchior: é preciso que eu lhe diga de que lado brilha o sol.

O sol da economia brasileira brilha no Nordeste, especificamente no Ceará, por três tendências mundiais.

O que vai fazer girar a economia e crescer num mundo em que até mesmo o setor de tecnologia corta empregos?

Energia limpa. Turismo. Economia criativa.

Vamos começar por energia limpa. Por sua posição estratégica, com bons ventos, abundância de sol e uma extensa região costeira, o Nordeste tem se tornado um grande protagonista na transição energética das fontes fósseis para as renováveis e na busca pela neutralidade de emissões dos gases de efeito estufa (GEE) até 2050, conforme estipulado na meta brasileira do Acordo de Paris.

Uma das atuais apostas da região é o hidrogênio verde (H2V), que não gera emissões de carbono e que tem potencial de geração a partir de eólicas em terra (onshore) e no mar (offshore) e de plantas fotovoltaicas. O mundo caminha para a energia limpa e o Nordeste tem a matriz energética mais limpa do planeta.

Em janeiro agora a primeira molécula de hidrogênio Verde produzida no Brasil foi lançada no Ceará.

Duramente afetada pela crise energética provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a Alemanha deu a largada e realizou, em fevereiro, o primeiro leilão global para importar hidrogênio verde, com contratos de dez anos e entrega a partir de 2024.

Segundo o Ministério Federal de Assuntos Econômicos e Ação Climática alemão, serão investidos € 900 milhões (R$ 5,1 bilhões) só nesta primeira rodada. Novos leilões serão realizados este ano, com entregas até 2036 e investimento de € 3,5 bilhões (R $19,9 bilhões).

Há um alvoroço no mundo com essa decisão da Alemanha de importar hidrogênio verde. É uma novidade que abre oportunidade de negócio única e o Ceará é candidato natural a produzir o H2V.

Outros países europeus devem seguir os passos da Alemanha. Com isso, abre-se um mercado bilionário de H2V, já que não havia até agora um grande comprador no mercado mundial. Com maior escala, a produção deve ficar mais barata. Para que sejam alcançadas as metas globais de descarbonização, o consumo de hidrogênio no mundo terá de aumentar pelo menos seis vezes nos próximos 30 anos, especialmente em usos industriais e mobilidade.

Um segundo setor vai seguir tendência de crescimento agora com uma profissionalização do segmento de entretenimento: o turismo.

O turismo no Brasil depois da pandemia retoma sua trajetória de crescimento e a profissionalização do setor passa por uma transformação gigantesca no investimento e gestão de parques, atrações turísticas e entretenimento.

São parques aquáticos, parques naturais, parques temáticos e de diversões, parques itinerantes, atrações turísticas e centros de entretenimento familiar que movem esse novo mundo do turismo.

O Beach Park é um exemplo dessas âncoras de entretenimento turístico e como elas são significativas para a transformação do mercado de turismo brasileiro.

Se pensarmos em gastronomia, conexões para moda praia, esportes náuticos, compreendemos como o turismo é a força motriz da economia do Nordeste.

Finalmente, vamos falar da economia criativa. Matéria do dia 5 de abril da Folha de São Paulo mostra que o Forró em Fortaleza, berço de Wesley Safadão, é hoje a única indústria de música capaz de enfrentar o sertanejo. Segundo a reportagem, nas listas de músicas mais tocadas no spotify, o forró é o único gênero nacional que consegue peitar o sertanejo. Apenas João Gomes, com "Meu pedaço de pecado" e os Barões da Pisadinha com "recairei" passaram dois anos no topo das paradas.

Ainda segundo a Folha, na visão da Associação Brasileira de Produtores de Discos, à exceção de Luisa Sonza e de Xamã, somente os cearenses Matheus Fernandes e Xand Avião conseguiram fazer frente ao monopólio do sertanejo no ano passado com "balanço da rede", um xote com toque de pisadinha.

Vou repetir: o sol da economia brasileira brilha no Nordeste com três setores que impulsionam a economia brasileira em termos de investimento e empregos: Energias limpas, Turismo e entretenimento e economia criativa.

Quem viver, verá.

Em "Textes pour rien" (textos para nada), Samuel Beckett diz "aprendemos que não podemos continuar falando de corpos e almas, de nascimentos, vidas e mortes, temos que dispensar tudo isso, e seguir em frente, da melhor maneira possível".

Mousse de Fígado de Frango, receita clássica do chef Marco Gil, faz parte do menu do Gingado Gastrobar
Mousse de Fígado de Frango, receita clássica do chef Marco Gil, faz parte do menu do Gingado Gastrobar

Gingado: a tasca dos meus sonhos

Todo mundo que conhece Paris ou Lisboa sente saudade de um pequeno bistrô ou uma tasca. São Restaurantes aconchegantes, de culinária inventiva, que respeitam as tradições.

Fortaleza ganhou uma dessas tascas. Trata-se do Gingado Gastrobar, um bistrô pequenininho, lindamente pensado, com mesas bem próximas, que não vão permitir aquele tom de voz cearense altíssimo (o que é ótimo).

O melhor de tudo é que o Gingado é a volta do chef português Marco Gil, do Saa, que aqui faz a gastronomia que sabe: portuguesa criativa, com preços acessíveis e excelente qualidade.

Vamos combinar, o Saa da Barão de Studart é uma das boas lembranças da nossa história gastronômica.

Vou falar a verdade, pensei em nem escrever sobre o Gingado para não lotar e acabar com minha tranquilidade. Porque é bom demais pedir o mousse de fígado de frango na entrada, uvas grelhadas, picles e uma baguete bem quentinha (R$ 26).

Pedi também o Tartar de queijo do serro maturado na cachaça, um filé picadinho na faca, marinado e finalizado com molho tonnato e queijo da serra (R$ 44). Tudo preparado na hora, com um sabor que me deixou feliz à beça.

Como pratos principais pedimos um arroz de tomates e queijo minas artesanal (R$ 38). A mesa inteira perguntou: qual a proteína? Nenhuma. O arroz de tomates com queijo é uma tradição portuguesa saborosíssima e o Marco Gil executa como ninguém. Minha mulher pediu uma codorna na frigideira e recheada com queijo azul e maçã verde (R$ 62).

Tudo delicioso e com preços que não te deixam deprimido ou liso. A carta de vinhos é bem selecionada e também tem preços honestos.

O Gingado fica a meio quarteirão da Praça das Flores. Rua Eduardo Garcia, 201, abre de terça a sábado para o jantar e apenas sábado para o almoço.

Pela primeira vez espero que ninguém leia essa coluna de Semana Santa para não destruir minha felicidade e meu prazer de comer bem no Gingado sem muita gritaria. 

Foto do Paulo Linhares

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