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Os polímatas, homens e mulheres que sabem demais
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Os polímatas, homens e mulheres que sabem demais

Um livro decifra o universo dos polímatas
Umberto Eco  (Foto: reprodução)
Foto: reprodução Umberto Eco

O Ministério Público do Ceará deflagrou na terça- feira passada (18) uma operação em que prendeu o prefeito de Pacatuba, Carlomano Marques, e nove dos seus secretários. O MP chamou a operação de Polímata.

O nome da operação, me parece, contém uma dupla ironia. Pela diversidade de secretarias, o Ministério Público se referia a irregularidade em áreas muito diversas. Mas quem conhece Carlomano sabe que há uma ironia também com o principal alvo da operação, pois o prefeito, além de médico, foi professor de história geral e tem pendores filosóficos. Mas o que diabo é Polímata?

O historiador inglês de Cambridge Peter Burke (casado com a também historiadora brasileira Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke, que tem uma biografia razoável sobre Gilberto Freyre onde força a barra para provar que o pernambucano tem mais influência inglesa que de Franz Boas) escreveu um livro definitivo sobre o tema chamado Polímata. Uma história cultural. Editora Unesp.

Peter Burke explica que polímata é "alguém que se interessa por muitos assuntos e apreende muitos assuntos". São intelectuais, homens e mulheres, estudiosos (scholars) com interesses enciclopédicos.

O livro oferece estudos de casos que vão de Leonardo da Vinci, talvez o mais famoso deles, a Umberto Eco, Susan Sontag, Freud, Francis Bacon, Deleuze, Bourdieu e outros.

Burke faz distinção entre dois tipos: os sistematizadores e os sintetizadores. Outra tipologia é, tipo centrífugo que acumula conhecimento sem se preocupar com conexões e o estudioso centrípeto, que tem uma visão da unidade do conhecimento e tenta encaixar suas diferentes partes em um grande sistema.

Os polímatas desconfiam uns dos outros. Émile Durkheim, por exemplo, criticou seu rival, hoje na moda, Gabriel Tarde, caracterizando-o como um "amador ".

Isaiah Berlin definiu Michel Polanyi como "um grande cientista que abandonou a ciência para escrever obras medíocres de filosofia". Acomodados em um café em Paris, o historiador Edward Thompson comentou com o também historiador Carlo Ginzburg que "Foucault era um charlatão".

Noam Chomsky chamou Lacan de "total charlatão".

E Carlomano é polímata como acredita o Ministério Público ou charlatão? Nem uma coisa, nem outra. Trata-se de um um cínico amoral, de rala profundidade como filósofo e muita verve política. Afinal, foi eleito seis vezes deputado e duas prefeito.

Uma vez perguntaram a Isaiah Berlin sobre Jacques Derrida, o desconstrutivista, e ele respondeu : acho que ele pode ser um charlatão genuíno, embora seja um homem inteligente". Eu diria que Carlomano é um típico malandro brasileiro, embora seja um homem inteligente.

No final do livro, Burke faz uma lista de 500 polímatas. Vai de Leonardo da Vinci, Rabelais, Blaise Pascal, passando por Max Weber, Durkheim, Freud, Jung, Jorge Luis Borges, Umberto Eco, Foucault. Na sua seleção, somente dois brasileiros, José Mariano da Conceição Veloso (1742-1811), que estudou História natural, química, matemática, linguística, economia e política. E Darcy Ribeiro (1922-1997), que aparece como estudioso de antropologia, sociologia, história e educação (FHC deve morrer de raiva).

Na minha modesta seleção, se fôssemos indicar um polímata cabeça chata seria o professor Tarcísio Pequeno que, além de pensador de Inteligência Artificial, estudou matemática, física, é filósofo e pesquisador de astrologia. No primeiro parágrafo do livro, Burke cita uma frase de Sir William Jones: "a história é cruel com os polímatas. Alguns são esquecidos, muitos são espremidos em alguma categoria que conseguimos reconhecer". Devo ter espremido muita gente boa para ter só um amigo na minha seleção. Mas, é minha opinião.

 

A INVENÇÃO DE LIMOEIRO

O historiador Durval Muniz é doutor em História Social pela Unicamp. Fez pós-doutorado em Educação pela Universidade de Barcelona e é professor aposentado pela Federal do Rio Grande do Norte. Autor do clássico "A invenção do Nordeste e outras artes", escreveu também "A feira dos mitos: a fabricação do folclore e da cultura popular".

Pois Durval, que deveria ser Honoris Causa em qualquer universidade do mundo, se submeteu humildemente a um concurso para ser professor de história da UECE de Limoeiro. Durval Muniz foi reprovado pelos doutos sábios de Limoeiro.

Série
Série "A Diplomata", Netflix

DIPLOMACIA NA TV

Para quem gosta de maratonar na TV e comer pipoca vendo uma boa série, recomendo Diplomata da Netflix. Tem um texto bem acima da média, chegando a irritar os medíocres pelas boas aulas de diplomacia. Tem também bons atores, Kate Wyler está muito bem.

Num determinado momento diz que um brasileiro alegou que Biden era imcompetente porque mija demais por ser um ancião.Imaginei que a série de Debora Cahn se referia a uma frase idiota qualquer nosso energúmeno ex-presidente.

A série faz alusões o tempo todo a personagens contemporâneos e o vilão é uma referência ao ex- primeiro-ministro Inglês Boris Johnson.

A má notícia é que só foi filmada a primeira temporada que termina sem desfazer o principal enigma.

Foto do Paulo Linhares

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