
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Semana de muita turbulência.
A partir do desenrolar de um novelo aparentemente simplista, a Polícia Federal encontra um personagem decisivo: o homem que forjou o certificado de vacina, que leva ao militar de 35 mil dólares na gaveta, que leva ao médico da província, que produz documentos falsos, que finalmente nos conduz ao homem que matou Mariele.
Para apurar o faro e assentar a cabeça, volto aos romances policiais.
Foi em 1841 que Edgar Allan Poe lançou uma novela chamada "Os Assassinatos da rua Morgue", num jornal da Filadélfia. Nessa história, ele apresentou o primeiro detetive da literatura: Auguste Dupin. Dupin voltaria a aparecer nos anos seguintes em outros dois contos policiais chamados "O Mistério de Marie Roget" e "A Carta Roubada".
Mas foi Walter Benjamin, o filósofo das cidades e das ruas que enxergou o detive como um tipo de flâneur. Um homem que flanava nas cidades e acabava descobrindo e investigando coisas estranhas..
Não resisto ao charme do texto de Benjamin.
A rua se torna moradia para o flâneur que, entre as fachadas dos prédios, sente-se em casa tanto quanto o burguês entre suas quatro paredes. Para ele, os letreiros esmaltados e brilhantes das firmas são um adorno de parede tão bom ou melhor que a pintura a óleo no salão do burguês; muros são a escrivaninha onde apoia o bloco de apontamentos; bancas de jornais são suas bibliotecas, e os terraços dos cafés, as sacadas de onde, após o trabalho, observa o ambiente.
Que a vida, em toda a sua diversidade, em toda a sua inesgotável riqueza de variações, só se desenvolva entre os paralelepípedos cinzentos e ante o cinzento pano de fundo do despotismo: eis o pensamento político secreto da escritura de que faziam parte as fisiologias.
O flâneur então é apresentado a perspectivas distintas: ele pode ser o vagabundo, como nos mostra Baudelaire:
"O observador é um príncipe que, por toda a parte, faz uso do seu incógnito". Desse modo, se o flâneur se torna sem querer detetive, socialmente a transformação lhe assenta muito bem, pois justifica a sua ociosidade.
Ele pode ser o investigador, como demonstra Edgar Allan Poe:
Para Poe, o flâneur é, acima de tudo, alguém que não se sente seguro em sua própria sociedade. Por isso, busca a multidão e não é preciso ir muito longe para achar a razão pela qual se esconde nela. A diferença entre o antissocial e o flâneur é deliberadamente apagada em Poe. Um homem se torna tanto mais suspeito na massa quanto mais difícil é encontrá-lo.
No caso de Victor Hugo, ele pode ser apenas alguém na multidão. Nas palavras de Benjamin, "Victor Hugo festeja a massa como heroína numa epopeia moderna".
Benjamin quer fazer uma análise da realidade pelo método fragmentário-microscópico, a mesma lógica da investigação policial, uma descrição da História a contrapelo, isto é, com ênfase nos vencidos, aos flâneurs, e não nos vencedores.
Além do método de investigação, o romance policial trouxe para o campo ficcional inovações quanto à estrutura das histórias.
Muitos subgêneros surgem do policial: o thriller jurídico, o thriller médico, o romance de espionagem. Mas dois desses subgêneros me fascinam, pois apreendem e nos fazem perceber com força a realidade no seu micro quotidiano.
O primeiro deles é o whodunit. Trata-se da estrutura básica do romance policial, acho que podemos dizer até que é a estrutura de origem.
Whodunit é uma abreviação para "who done it", que traduzido para o português significa "quem fez isso". Em alguns artigos vemos também traduzido como quem matou, mas é bom observar que nem sempre o objeto da investigação de um romance policial contemporâneo é um assassinato.
O segundo é o noir clássico. Noir, que significa preto em francês, começou com o objetivo de aproximar o romance policial da realidade. Assim, os detetives terão alguns vícios sociais. Eles bebem, brigam e frequentam ambientes decadentes ou são intelectuais extravagantes e insubmissos.
Aqui, a narrativa tende mais para uma análise social do contexto, não se prendendo apenas ao fato que desencadeou a investigação, mas se expande para sub-tramas criadas pela vida social.
O final desses romances sequer precisa ter uma solução definitiva, como é o caso do whodunit.
Cinco autores criaram detetives contemporâneos que estão na minha lista dos mais definitivos e se tornaram clássicos contemporâneos : o catalão Manuel Vázquez Montalbán com seu icônico Pepe Escobar, o italiano Andrea Camilleri, com o Comissário Montalbano (uma homenagem a Vázquez Montalbán) o cubano Leonardo Padura com o detetive Mario Conde, o brasileiro Rubem Fonseca com seu Mandrake e o argentino, radicado no Brasil, Luiz Alfredo Garcia-Roza com o Delegado Espinosa.
Sabe por que estou lembrando deles?
Simples, como disse Leonardo Padura, a literatura cria a memória do futuro. Sim, tudo que estamos vendo acontecer essa semana está escrito em qualquer um dos livros desses criadores. E os detetives de ficção são apenas aqueles que não se sentem seguros na sua própria sociedade e investigam até achar a trama certa.
Acepipes, às vezes indigestos.
É insuportável ouvir aquele tipo chamado Oinegue com a voz de falsete e humor boçal na Band News. O Eugênio, ao contrário, passou o 1º de Maio reclamando do MST.
O argumento é que não entendia porque o MST mereceria comentários e eventos no dia do trabalhador. E tome elogios á Feira do Agro e pau no MST. Não passa pela cabeça do Eugênio, voz do dono, que quem trabalha na agricultura são os sem terra?
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Diálogo com Ernest Hemingway..
Você é comunista?
Não. Sou antifascista.
Faz muito tempo?
Desde que entendi o que era o Fascismo.
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Na lista dos melhores restaurantes do Brasil escolhidos pelo ranking EXAME há muitos baianos, pernambucanos e um só cearense. No comments.
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Dessas cidades só restará o que ali passou uma vez: o vento. (Bertold Brecht).
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Ceará, tua glória é lutar (hino do alvinegro, meu time).
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.