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Um sapato branco e o mundo cão na TV
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Um sapato branco e o mundo cão na TV

Jacinto Figueira Júnior,um malandro do Brás, Nietzsche e a TV durante a ditadura.
O Homem do Sapato Branco  (Foto: arquivo )
Foto: arquivo O Homem do Sapato Branco

Eu tinha 18 anos, entrei na Universidade aos 16. Trabalhava na TV Globo de São Paulo a noite toda, reportando e editando matérias até quase pela manhã.

A vida estava difícil. Eu vivia sozinho em São Paulo. O salário pequeno e eu morrendo de frio ouvindo Belchior cantar:

"A minha história é talvez igual a sua / jovem que desceu do norte pra cidade grande/Pés feridos e cansados de andar légua tirana…".

Até que apareceu a chance de fazer uma graninha extra. Umas matérias para o caderno Folhetim da Folha, recém-criado pelo meu ídolo Tarso de Castro.

Tarso foi o criador do Pasquim e era uma referência de texto e invenção editorial. Indo e voltando para a Globo, que ficava debaixo do Minhocão, na rua Marechal Deodoro, observei uma fila de nordestinos que se formava de madrugada. Era a Rádio Nacional de São Paulo.

Conversei com eles e descobri que eles iam para o Programa do Jacinto Figueira Júnior, criador de programas de grande sucesso na TV: O Homem do Sapato Branco e Casamento na TV.

Tinha sido deputado estadual cassado e perseguido pela ditadura e estava no rádio tentando ganhar algum dinheiro e para se esconder da repressão.

Por que a ditadura implicou com o personagem?

Ninguém nunca descobriu. Só existem pistas.

Fiz uma matéria bem legal contando que os nordestinos iam para que Jacinto contasse que eles estavam perdidos e, com a gigantesca audiência, as famílias se comunicavam umas com as outras, os que chegavam eram então encontrados.

Na matéria, ele me contou que usava esse apelido porque um dia leu uma frase do Nietzsche que o homem superior usa sapatos brancos. Nunca consegui confirmar se o filósofo disse realmente essa maluquice. Mas deu um um título incrível, ele sentando e sapatos brancos vistos em contraplano.

Meu ídolo, Tarso de Castro me roubou, publicou na capa e nunca deu crédito ou pagou, fazendo jus à fama de canalha que tinha.

Agora, o Mauricio Stycer, jornalista e crítico de TV da Folha, está publicando o livro "A vida do inventor do mundo Cão na Televisão Brasileira", pela Editora Todavia.

O programa de Jacinto, antes da ditadura lhe ferrar, era o primeiro show de horrores na TV. Ele assediava suposto assaltante algemado no palco: quantas vezes você roubou? E dava um tapa na cara da mulher. Resolvia conflitos de vizinhos e mostrava cirurgia espíritas ao vivo.

Stycer teve acesso a documentos da ditadura em que o Presidente Artur da Costa e Silva dizia que Jacinto era uma das maiores calamidades de São Paulo. Stycer mostra como ele ofendia o gosto das elites. Nesse momento que conheci Jacinto, ele estava no fundo do poço.

Eu esperava encontrar um homem agressivo, como na TV. Encontrei um homem abatido, alquebrado e ressentido. Com muito medo.

Mauricio apresenta Jacinto como quem criou o estilo mundo cão na TV. Jacinto via no Ratinho, que então começava, como seu principal imitador. Para o crítico, o dilema do jornalismo mundo cão continua:

"Até hoje isso é uma causa da perda de credibilidade do jornalismo. Quando ele é misturado com entretenimento, você vê via atenção do telespectador, coloca em questão a verdade do que está sendo dito, transforma jornalismo em show".

Se Maurício tivesse conhecido Jacinto, iria descobrir que era exatamente o que ele queria: show. Afinal, ele era um tremendo malandro do Pari, bairro vizinho ao Brás. Ah, antes que eu esqueça. Um dia fui à Folha tomar satisfações com Tarso de Castro. Cadê o meu dinheiro? Gritei para o gaúcho, assustado com aquele cangaceiro surpresa.

A turma do deixa disso me segurou. Foi aí que conheci um dos caras mais incríveis da imprensa brasileira: Cláudio Abramo. Uma figura imponente, mas bem humorada. Me levou para sua grande sala de diretor de redação. Ouviu minha história. Riu com o mau caratismo do Tarso, mandou pagar na hora e ficamos amigos. A partir desse episódio, como era muito magrela e nordestino, ganhei na redação o apelido de graúna, personagem do Henfil muito badalado à época.

Claudio Abramo criou a nova Folha (antes era um jornal de direita vagabundo), e ensinou a Otaviio Frias Filho tudo o que ele sabia de jornal( foi o próprio Otavinho que me contou aqui em Fortaleza, tomando whisky com o Demócrito).

 

Secretário mãos de tesoura

O Secretário de Administração Penitenciária do Ceará, Luis Mauro Albuquerque Araújo, está exportando políticas públicas. Segundo a Folha de São Paulo, ele inventou um método de tortura utilizado contra os presos chamado "procedimento".

O detento senta no chão, com pernas próximas ao corpo e cruza os dedos em cima da cabeça. Eles (agentes) batem com a tonfa (cassetete) nos dedos que estão cruzados em cima da cabeça. Isso provoca lesões. Dependendo da força com que se bate, provocam lesões graves, inclusive com a quebra do osso", diz o promotor Humberto Ibiapina Lima Maia, do Núcleo de Investigação Criminal. A técnica, segundo o Ministério público, está sendo usada em cinco outros estados nordestinos.

 Sweet love, torta criada para o jantar de noivado do príncipe Andrews, foi servida no Brigita Bistrô
Sweet love, torta criada para o jantar de noivado do príncipe Andrews, foi servida no Brigita Bistrô

Brigita: um jantar de príncipe

Você sabe o que é restaurante secreto? É um restaurante na casa do chef (na Europa chamam de SuperClub). A proposta tem como meta fazer com que você se sinta sendo recebido pelo chef como um amigo da casa.

Adriana Ximenes mora com seu marido em Milão. Mas quando estão aqui (aproveitem, é só até agosto) eles cozinham e servem jantares harmonizados (seu marido Giovanni Aironi é excelente sommelier).

O Brigita fica numa ruazinha da Varjota (Gel Dutra, 1). E os jantares são servidos num quintal lindo na sua casa. No domingo dos namorados tive um jantar inesquecível.

O menu começou com uma polpetta de arroz arbóreo. Como entrada saboreie um vitelo tonnato com salada russa que foi uma das melhores coisas que provei nos últimos tempos. O tonato estava macio e o molho levemente cítrico. Como prato principal fui de rigatoni com ragu de cordeiro. Quem resiste a um cordeiro preparado à perfeição?

E no final ela nos apresentou uma sweet love, torta criada para o jantar de noivado do príncipe Andrews. Detalhe, Adriana fez o curso com a patissier que preparou a torta real.

Enfim, no jantar dos namorados, no quintal secreto da Brigita, eu comi como um príncipe. 

Foto do Paulo Linhares

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