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Múcio e Mangabeira: falta um projeto para o País
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Múcio e Mangabeira: falta um projeto para o País

O GRANDE DESAFIO PARA NOSSA ELITE POLÍTICA, INTELECTUAL E ACADÊMICA
Mangabeira Unger: visões 
sobre o Brasil contemporâneo (Foto: Gustavo Bezerra/ dIVULGAÇÃO)
Foto: Gustavo Bezerra/ dIVULGAÇÃO Mangabeira Unger: visões sobre o Brasil contemporâneo

Todo mundo leu, mas vale a pena repetir, pois o debate na Internet é muito emocional e superficial.

O ministro da Defesa José Múcio Monteiro deu uma declaração polêmica na segunda-feira. Em palestra, o integrante do primeiro escalão do governo Lula (PT) afirmou que o "sonho" da população pobre dos estados do Nordeste é morar no Sul do Brasil. A declaração foi dada durante o painel "Defesa Nacional, presente e futuro do Brasil", realizado pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) Defesa e Segurança.

A declaração enfatiza uma visão recorrente nos últimos anos da elite brasileira, a crença de que o Nordeste é dependente do Sudeste/Sul. Não é gratuita politicamente essa opinião. É um ataque político ao apoio que o Nordeste deu à vitória de Lula.

Os indicadores há alguns anos indicam exatamente o contrário. Os nordestinos estão voltando.

A migração entre regiões do país perdeu intensidade nas últimas décadas e estados do Nordeste, além de reter população, começaram a receber de volta os que deixaram seus estados rumo ao centro-sul do País.

É o que dizem os últimos levantamentos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBG). A corrente migratória mais expressiva continua a ser entre o Nordeste e o Sudeste, mas houve redução. A região Nordeste foi a que apresentou o maior número de migrantes retornando para seus estados, seguida, em menor escala, pela região Sul.

No tempo em que Belchior chegou a São Paulo a corrente era inversa. E até o sempre bem informado Reinaldo Azevedo caiu na esparrela do ministro. É impressionante como quando o assunto é preconceito regional todo paulistano adere em maior ou menor grau.

Mas o problema exige um pouco de verticalidade em dois pontos. O primeiro é quanto à capacidade do Nordeste de segurar e oferecer condições de vida à sua gente. Os governos nordestinos, de maneira geral, têm tido muito mais competência e coragem ideológica, até porque são mais pressionados a oferecer uma rede de proteção social para seus eleitores. Quanto a isso não há dúvida.

No entanto, quando analisamos os dez governadores mais populares do País, o filho do ratão, o ratinho Júnior, aparece como o de maior aprovação. O que o Paraná oferece à sua população? Um novo sistema de ensino totalmente voltado ao mercado.

Até o secretário de educação do Paraná foi deslocado para São Paulo para oferecer o banquete educacional da nova extrema direita. A questão é que o Nordeste precisa de um projeto de desenvolvimento, além de uma rede de proteção social. Era isso talvez o que o incompetente ministro, com as palavras e as coisas, como diria Foucault, queria dizer.

Mangabeira Unger, com aquele astral de personagem de desenho animado, apareceu dizendo que Lula estava preso ao passado, pois não tinha exatamente um projeto de desenvolvimento para o Brasil.

Bingo.

A desqualificação produtiva da Nação se aprofundou, afirmou Mangabeira. Caminharíamos rapidamente para uma grande crise econômica se a situação não fosse atenuada pela riqueza em recursos naturais. Agricultura, pecuária e mineração pagam as contas do consumo urbano e, para o bem e para o mal, evitam que enfrentemos nossos problemas estruturais", concluiu.

E qual seria o projeto capaz de encaminhar um modelo para o Brasil?

A proposta tem quatro eixos:

1 - Desenvolvimento pautado por uma escalada de produtividade includente da economia do conhecimento.

2 - Construção de um paradigma econômico e social que case a inteligência com a natureza.

3 - Modelo produtivo pensado para as particularidades regionais, com decisões descentralizadas e não impostas por Brasília.

4 - Transformação radical da educação, com a substituição de um enciclopedismo raso por uma visão analítica, sobretudo no ensino médio.

Não tem muita novidade no diagnóstico. Mas de fato não temos uma inteligência política e estratégica capaz de oferecer um projeto de economia de conhecimento. Não temos uma proposta, só um arremedo, de paradigma econômico e social que case a inteligência com a natureza. E o MEC não parece capaz de propor um novo ensino médio que supere o enciclopedismo.

Lula não mora no passado, como diz Mangabeira. Mora no presente. Está lutando para obter apoio popular para não ser tragado pela direita do Congresso. E com sucesso. Na pesquisa Genial/Quaest que acabou de sair diz que a classe média bolsonarista está virando com a melhora na economia.

A aprovação ao governo Lula (PT) melhorou 5 pontos percentuais em junho, segundo a nova pesquisa Genil/Quaest, divulgada nesta quarta-feira, 21.Segundo o levantamento, Lula saltou de 51% para 56% de aprovação na comparação com a pesquisa divulgada em abril. De acordo com o levantamento, Lula registrou crescimento de aprovação em todas as camadas sociais pesquisadas.

Para Felipe Nunes, CEO da Quaest e responsável pela pesquisa, o que 'chama mais a atenção', neste caso, é o avanço entre aqueles que se dizem bolsonaristas. Em outras palavras: Lula está no presente e matando muitos leões todo dia. Falta quem o ajude a pensar. Mangabeira e Ciro poderiam fazer isso em vez de ficar jogando lenha na fogueira bolsonarista.

O segundo ponto, ia esquecendo, é que o campo cultural pesa no Norte e continuamos a cair do Sudeste. Quem tem pouco capital econômico e muito capital cultural tem que cair fora. E esse não é um problema menor, o do super-sistema simbólico midiático cultural. Sobre este assunto, infelizmente, Mangaba não sabe nada.

Chef Lúcio Figueiredo, nova proposta na Varjota
Chef Lúcio Figueiredo, nova proposta na Varjota

Acepipes às vezes indigesto

A VOLTA DOS GRANDES
CHEFS DE COZINHA

Os grandes chefs cearenses, que passaram maus bocados na pandemia, estão retomando projetos surpreendentes de novos restaurantes. As cozinhas da cidade estão pegando fogo.

O primeiro a aparecer foi Herve Tassigny, o francês responsável pelos áureos tempos da Praia de Iracema e pelo Lautrec, Le Parisien e Piaf. Hervê voltou em grande estilo com o seu Matisse Cuisine. Um restaurante classudo e bem equipado.

Lúcio Figueiredo, com seus frutos do mar na brasa inesquecíveis do Vojnilô, voltou com o novo Villazuli, bonito e bom de beber um vinho branco e comer bem, vizinho ao seu antigo restaurante.

Marco Gil, que fez do seu SAH, no Barão de Studart o melhor português, talvez, rimou, da nossa história, voltou com um pequeno bistrô, o Gingado, cheio de charme e com um menu que faz o restaurante funcionar sempre lotado.

Andrea Antonucci, autor de maravilhas no La Bella Itália, voltou com o seu Ponza Frutos do Mar. Um restaurante que tem uma matéria-prima do mar quase irretocável, preparada com minúcia por Andrea.

E quem também está voltando em grande estilo é Marie Anne Bauer (foto) com seu novo Le Marchè, na José Lourenço, onde funcionava uma grande patisserie, Sable Diamant. Marie Anne é uma espécie de grande dama da cozinha francesa no Ceará e está voltando com uma casa linda e charmosa.

Se vocês pensam que viram tudo, esperem os novos Doc, dos mesmos donos do La Bella Itália, e o novo Le Cuisinier (ambos na Ana Bilhar), que chega com o talento e brilho do chef Juarez Santana.

FORTALEZA, CE, BRASIL,16.05.2023: Edifício São Pedro, Praia de Iracema.
FORTALEZA, CE, BRASIL,16.05.2023: Edifício São Pedro, Praia de Iracema.

OS ESQUELETOS NO ARMÁRIO DO ELMANO

Na troca de farpas entre André Figueiredo e Cid ficou evidente que o Aquário e o Edifício São Pedro, dois esqueletos da era Cid que Camilo fez questão de manter intocáveis (por motivos óbvios), vão entrar nas manchetes de todo dia na campanha para eleição de prefeito.

Foto do Paulo Linhares

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