
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense
O 18 de Brumário foi um golpe de Estado executado por Napoleão Bonaparte, nos dias 9 e 10 de novembro de 1799, na França . Foi uma manobra política para garantir a ascensão dos girondinos, a alta burguesia francesa, ao poder.
Com o golpe, o sistema denominado Diretório foi derrubado e substituído pelo Consulado. Este fato marcou o início da ditadura do general Napoleão Bonaparte (1769-1821).
A data recebeu este nome porque ocorreu no segundo mês do Calendário Revolucionário Francês, brumário, que era dedicado à bruma.
Karl Marx escreveu "O 18 Brumário de Luís Bonaparte" entre dezembro de 1851 e março de 1852, onde conta um novo golpe de estado de 2 de dezembro de 1851, no qual Luís Bonaparte, então presidente da República Francesa, instaurou o Segundo Império.
A análise de Marx parte dos acontecimentos revolucionários entre 1848 e 1851, que levaram ao golpe de estado após o qual Luís Bonaparte nomeou-se imperador, com o nome de Napoleão III, repetindo o que fez seu tio, Napoleão I.
Na abertura Marx desenvolve o famoso parágrafo lembrando que Hegel afirma que "todos os grandes fatos e personagens da história universal aparecem como duas vezes. Mas ele esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa.
A partir daí, relaciona o golpe de Estado do general Napoleão Bonaparte, que derrubou o diretório em 9 de novembro de 1799 (ou seja, em 18 Brumário, Ano VIII da Revolução Francesa) com o golpe perpetrado por seu sobrinho, que ele chama "a segunda edição do 18 de brumário".
De fato, ao mesmo tempo em que se refere à primeira fase da Revolução Francesa como um momento heroico da burguesia, Marx vê o golpe de Luís Napoleão apenas como mera reação militar repressiva.
A manobra de Cid Gomes para conquistar o diretório do PDT e levá-lo a apoiar o candidato escolhido por Camilo Santana à Prefeitura de Fortaleza não pode ser chamada de golpe. Mas foi uma ação política que colocou em campos opostos dois irmãos da dinastia política mais importante, até aqui, da história do Ceará no século XXI, os Ferreira Gomes.
O Brumário de Cid beneficiaria, de fato, a liderança de uma nova dinastia, os Santana, que comanda politicamente o Ceará após o fracasso da campanha presidencial de Ciro Gomes.
Será tragédia ou farsa essa luta contemporânea pelo diretório do PDT?
Vamos imaginar uma pequena cena de ficção onde os dois irmãos discutem o confronto...
A cena se passa no aniversário de uma criança na Serra da Meruoca. Ciro Gomes está chegando e os parabéns já foram cantados.
"Atrasado", diz Cid.
"Eu conversava lá fora com um velho amigo", diz Ciro, sem se abalar. "Ele perguntou porque você quer me destruir. Derrubar o Diretório para, na verdade, botar o consulado de Eudoro, Camilo e Elmano no poder".
Cid junta as mãos. Solta um suspiro, profundo e sorridente, como um gato angorá que observa um leão.
"Quer alguma coisa?", pergunta.
"Que o sol volte. Diz apontando para a varanda de onde se vê uma chuva fina", solta Ciro.
"Você exige demais dos meus poderes", diz Cid, irônico.
Ciro senta-se na porta e olha a serra molhada. É um homem grande. Tem uma pequena barriga de um homem razoavelmente sedentário.
Cid: "Ao contrário de lhe destruir, eu trabalho cada dia que passa para lhe poupar de mais um grande vexame. Onde você acha que vai essa candidatura Sarto?".
Ciro retruca: "E você, onde você acha que vai? Se tornar uma peça do quinto escalão da dinastia Santana?", pergunta.
"Quando você baixar a guarda, me avise para conversarmos. É algo que gostaria de presenciar. Com boa vontade, poderíamos fazer uma coalizão e eleger um dos nossos", fala Cid.
"Quem? O Evandro? Com Elmano no Ceará, tudo que Tasso e eu fizemos está indo pro buraco. Olha a dívida do Estado. E o Evandro vai deixar o Fortaleza como o Ceará Sporting", diz Ciro.
Cid: "Baseado nesta lógica futebolística, vamos botar logo o Marcelo Paz. Ninguém está propondo atirar em você, o André e o Roberto na estrada. Vamos caminhar juntos".
"Sabe, o conhecido que me atrasou, me abordou na praça da Matriz quando eu entrava no carro, disse que eu e você parecemos Dom Pedro I e Dom Miguel. Dois irmãos em guerra. Eu seria Dom Pedro I, impetuoso, agressivo. E você Dom Miguel, o protegido de Carlota, que quer ganhar a guerra na conversa".
"Quem ganhou a guerra?", diz Cid, se divertindo com a comparação.
"Dom Pedro I, apesar de ter um exército cinco vezes menor", responde Ciro.
"Você não compreende? Estamos cercados", diz Cid, se levantando. "Lula, Camilo, Elmano. Fala tanto em Gramsci e não entende nada de correlação de forças", complementa.
"Você é que só compreende em parte. Alguém me contou que os secretários de Elmano depois de atender suas ligações com pequenas solicitações, desligam e riem", diz Ciro que se levanta para ir embora, para na porta. "Você vai acabar no papel de diabrete de Eudoro e Camilo".
"Ciro, chega desse papel de vítima. Aliás, andam dizendo no Beco do Cotovelo, que fui eu que invoquei um mau espírito para acompanhá-lo. O Roberto Cláudio", Cid dá um pulo, vai até uma estante onde tem vinhos e livros, e mostra uma garrafa de gin. "Vamos beber juntos, e se acalmar".
Ciro está junto à porta, abrindo um lento sorriso. Cid também sorri.
"Obrigado. Você já sabe, só bebo quando estou tranquilo e feliz. Esse clima desperta dores em minhas cicatrizes", diz isso e vai embora.
O inoxidável se foi
Morreu Chico Pio. Ele se intitulava "o inoxidável".
Era de fato um cara muito além das futricas e intrigas. Achava sempre que nem devíamos falar coisas ruins uns dos outros.
Não imaginava que o campo cultural fosse na verdade um dos mais cruéis e competitivos, ao lado do acadêmico.
Cantava lindamente. Nós dizíamos, de maldade, que Fagner imitava Chico Pio.
Marcio Caetano fez um lindo necrológio pro Chico Pio que, em síntese, diz que ele morreu sem nunca ficar careta.
Pode ser a frase da sua lápide.
E fará justiça.
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