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O verão do tédio
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

O verão do tédio

Para não dizer que não falei de cultura e arte
Geraldo Vandré revisitou o passado em entrevista à Folha de São Paulo (Foto: reprodução)
Foto: reprodução Geraldo Vandré revisitou o passado em entrevista à Folha de São Paulo

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Vladimir Vladimirovitch Maiakovski, também conhecido como "o poeta da revolução", disse depois da I Guerra Mundial, com pouco mais de vinte anos em Moscou, que "é melhor morrer de vodka do que de tédio".

A moçada em Fortaleza ou está morrendo de bala na periferia, de tortura nas prisões ou de tédio nos apartamentos chics do Meireles.

Nos anos 60, durante a ditadura militar, na dúvida entre pegar nas armas e ficar em casa com medo, Geraldo Vandré escreveu a mítica canção "Para não dizer que não falei das flores".

Vandré reapareceu alguns dias atrás numa sessão pública de um filme (no cine Bijou) com sua trilha,

Passaram-se 50 anos.

Depois de 73, ele viveu cinco anos exilado e voltou cinco anos depois apoiando a ditadura. Vandré morou durante 40 anos em São Paulo, lendo diário oficial, pintando e escrevendo. Agora foi morar no Rio com uma irmã.

Perguntado pela Folha o que fez durante esse tempo disse: "Tenho uma vida normal, como qualquer um".

A única obra que produziu durante todos esses anos anos foi a música "Fabiana", em homenagem à Força Aérea Brasileira, a FAB.

Sobre parecer enigmático, alguns amigos - para preservá-lo - até inventaram que ele recebeu uma lavagem cerebral, ele disse que é "invenção da imprensa".

A gente só coloca uma lenhazinha na fogueira", acrescentou.

Sobre suas atividades hoje ele disse:

"O que faço hoje é ver televisão, dormir muito e comer bastante".

Quanto a tortura e a lavagem cerebral ele arremata: "nem preso eu fui".

Pois é, o verão do tédio de Fortaleza, que corresponde a um rigoroso inverno em São Paulo, já tem uma figura emblemática para representá-lo. O tedioso paraibano Geraldo Vandré.

Já Maiakovski, se suicidou, em 1930.

Ah, escrevendo sobre o tédio e o ascetismo da moçada de hoje (é moda hoje também ser ponto zero, como se dizia antigamente) me lembrei do grande fotógrafo cearense Paulo Harding, que morreu de vodka, num dos verões dos anos 80.

Viva Paulo Harding.

 

"Treze. A política das ruas de Lula a Dilma"

Treze. O livro

O livro do verão parece que vai ser o de Ângela Alonso, comentando o movimento das ruas de 2013. "Treze. A política das ruas de Lula a Dilma" foi editado pela Companhia das Letras e está vendendo muito e gerando debates infindáveis. Ainda estou lendo, mas não é por acaso que ela discute a política que nasceu naqueles dias.

O que se observa é o quanto os palpites foram errados.

Lula disse: "O povo tem pão agora quer manteiga". Errado. O povo que estava na rua já tinha pão há muito tempo. Não foram anseios distributivos que levaram às ruas naqueles dias.

A outra tese era a da crise de representação. Era a adaptação da ideia da "revolta anti-sistema". Ângela refuta, mas acho que era parcialmente verdadeira. Basta olhar o "Bozo" que ela gerou.

A terceira tese foi a da "renovação política" lançada pelo filósofo Paulo Arantes, que associava os protestos às clássicas Comunas de Paris e de maio de 1968.

Lembro-me que fiz no final daquele ano um debate na Mostra Cariri em que foram convidados vários professores importantes do Rio e Sao Paulo. Todos eufóricos e felizes com as revoltas.

Só Marcelo Ridenti, da Unicamp, e eu falamos sobre o caráter repressivo dos protestos e do que eles poderiam produzir.

O livro é muito bom.

Maria Rita e Elis Regina: campanha da Volkswagen
Maria Rita e Elis Regina: campanha da Volkswagen

Como nossos pais

O comercial da Volkswagen celebrando a empresa, seus carros e os anos 70 com Elis e Maria Rita está gerando muita polêmica nas redes. A música do Belchior é um ataque ao conservadorismo. A Volks fez um comercial em homenagem a Elis e aos nossos pais.

A letra de Bel foi lida como uma ode reacionária ao passado. Uma inversão mercadológica maluca, ousada, típica dos criadores superficiais da propaganda de hoje. Aliás, o Volks foi criado por sugestão de Hitler. Significa o "carro do povo". Do povo de Hitler, bem entendido.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 17-01-2020: Marie Anne Bauer, 67, chef. Restaurante Le Marché, localizado no centro da cidade de Fortaleza. (Foto: Beatriz Boblitz/ O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 17-01-2020: Marie Anne Bauer, 67, chef. Restaurante Le Marché, localizado no centro da cidade de Fortaleza. (Foto: Beatriz Boblitz/ O POVO)

Marie Anne voltou!

Semana passada escrevi sobre a volta dos grandes chefs. Marie Anne Bauer voltou com o seu Le Marchè. Foi inaugurado onde era uma confeitaria francesa, na José Lourenço, 1414.

Fui conferir. A chef não mudou muita coisa no menu. A novidade é que funcionará também à tarde, como café e confeitaria. A comida é muito boa. O polvo é um clássico da cidade. E o risoto de frutos do mar estava fazendo falta. Voilá a cidade com um novo Le Marché e a querida Marie Anne à pleno vapor.

Foto do Paulo Linhares

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