Logo O POVO+
A nova onda docinema cearense
Foto de Paulo Linhares
clique para exibir bio do colunista

Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

A nova onda docinema cearense

A VOLTA DA ESPERANÇA NA INDÚSTRIA AUDIOVISUAL DO CEARÁ
O diretor Petrus Cariry, de
Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto / divulgação O diretor Petrus Cariry, de "Mais Pesado é o Céu", após a cerimônia de premiação do 51º Festival de Cinema de Gramado

Karim Ainouz filmando "Motel Desejo" em Beberibe. Petrus Cariry vencendo quatro prêmios em Gramado, Melhor Direção, Fotografia (ambas para Petrus), Montagem (para Firmino Holanda e Petrus) e Prêmio Especial do Júri, concedido à atriz Ana Luiza Rios.

O lançamento da série "Cangaço Novo", situada na cidade fictícia de Cratará (uma mistura de Ceará com Crato) com atores e técnicos cearenses. E na última quarta-feira o filme de Halder Gomes ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, o nosso Oscar.

A gravação dos clipes de Marina Sena, Pablo Vittar e Chicão do Piseiro, o lançamento dos editais da Lei Paulo Gustavo pela Secult. O que todas estas notícias, publicadas no Vida&Arte nos últimos dias têm em comum? A volta, com força, do audiovisual cearense!

O audiovisual emprega, envolve, forma, cria oportunidades. E falo aqui no sentido sócio-econômico e simbólico.

Quem entende um pouquinho de economia da cultura sabe que a economia americana tem um vetor fundamental no cinema.

Na semana passada, o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, esteve em Fortaleza e disse que o legado da sua gestão será o investimento em audiovisual como vetor de promoção da imagem e de sedução do turista para querer conhecer o Brasil.

É que além de ser uma indústria poderosa, que emprega muita gente, ela constrói as identidades imaginárias de um povo.

O cinema, a TV, o streaming estão permanentemente perguntando e respondendo: quem somos, quem fomos e aonde vamos.

Daí o grande equívoco de centrar nosso investimentos unicamente em artes visuais (Pinacoteca, Mis, Centro de Design), que são historicamente voltadas às elites culturais. Sim, são setores importantíssimos, mas o monopólio é ruim para todos.

A explicação vem da economia.

As artes visuais, como é chamada hoje, as antigas artes plásticas, produz uma mais valia cultural concentrada nas mãos dos grandes proprietários de obras, que são grandes investidores. Em síntese: o dinheiro do sucesso e do prestígio se mantém em poucas mãos. É como energia eólica. Devemos fazer. É fundamental ter uma economia baseada na criação dessa energia, mas concentra renda.

O audiovisual, pelo contrário, espalha renda. Divide. Democratiza. Aliás, todas as chamadas performing arts, teatro, cinema, dança e música têm um pé no chão da vida, logo estão no bojo da cultura das massas ou da cultura popular. É uma indústria prioritária para um estado que, a cada dia que passa, vai dependendo mais e mais de empregos do setor de serviços.

O técnico de som de um filme, o editor, o contra-regra, roteirista, atores, cenógrafos, figurinistas, os equipamentos, tudo funciona e fortalece outras áreas. O músico (a trilha da série "Cangaço Novo" é cearense, por exemplo), o ator que faz teatro, o roteirista que vem do campo literário, o cenógrafo que vem do campo da moda, o maquiador de eventos, o audiovisual, formam uma indústria de mão de obra intensiva e agregadora de profissionais diversos.

Investir no audiovisual cearense é superar preconceitos (como se o apego à cultura popular nos obrigasse ao artesanato e o ódio à indústria cinematográfica), é criar empregos de qualidade, é possibilitar que tenhamos um imaginário identitário para o turismo (coisa que ainda não temos).

Enfim, parafraseando aquele velho rock: eu quero a esperança de volta e um filho de cuca legal trabalhando no audiovisual.

 

Respeitem meu bom humor

O `boom´ gastronômico de Fortaleza começa a provocar os primeiros abusos de gestão. Vou citar dois exemplos.

O Illa Mare, que fica no local mais belo de Fortaleza, nas águas da Beira Mar, literalmente, tem uma cozinha bem interessante. O chef veio do Maranhão e passou por São Paulo na sua formação. Fui lá comer um peixe do Pará, um bonito, na brasa.

Num sábado, fui almoçar um bonito e fui jantado. Tinha um couvert não explicitado de uma banda onde Marcos Lessa cantaria. Comi o bonito e paguei 60 reais (três vezes, portanto, 180 reais) de couvert (estava com minha mulher e sogra). Um couvert de 60 reais precisa ser claramente anunciado pelo restaurante conforme o código de defesa do consumidor. Detalhe, cheguei 12h15min, almocei e saí às 14h30min e Marcos Lessa não apareceu até esse horário.

O novo Le Cuisinier da Varjota está sempre lotado. O gerente me atendeu pelo zap e disse que parte do restaurante era parte reservada e parte não, se eu chegasse cedo, teria chances de ser atendido.

Cheguei às sete da noite. O restaurante tinha sido totalmente reservado. Se alguma das reservas não comparecesse no horário, eu seria atendido.

A garota da recepção reconheceu que o gerente mentiu. Não havia metade reserva e metade por ordem de chegada.

Respeito aos seus comensais é o princípio número um da boa gastronomia. Nos dois casos, eu estava tão feliz, de bom humor, que nem briguei.

Vão ficar na geladeira por um ano.

Vanessa e Temóteo comandam o Garfo com Letras, em Icapuí
Vanessa e Temóteo comandam o Garfo com Letras, em Icapuí

A lagosta sem igual

Quando se pensa em comida de bom nível, Fortaleza é praticamente única no Ceará. Não que a gastronomia de Fortaleza seja tão ampla e boa quanto a de São Paulo, por exemplo. É que fora da Capital, com raras exceções, se come, no geral, muito mal nos restaurantes. Mas quando se fala em lagosta, devemos humildemente pedir ao povo de Icapuí (Canoa veloz, em Tupi) uma aula.

E vou contar pra vocês onde se come uma lagosta de tirar o chapéu por lá: no " Garfo com Letras ", em Ponta Grossa.

A "Lagosta ao Pescador " vem numa quantidade pra lá de razoável (dez lagostas tamanho médio) e acompanhada de um arroz e um feijão (sim, aqui se come lagosta com arroz e feijão, e é uma delicia), farofa bem crocante (importantíssima para que comer com a carne e a ova) . Não há nada com este preço e essa qualidade em Fortaleza. E além da gostosura, tem livros sobre Icapuí que você não encontra em nenhum lugar e dão um charme a mais ao Garfo.

O Timóteo, o proprietário, faz parte da família originária de Ponta Grossa e sua mulher Vanessa é uma ótima chef.

Enfim, o Garfo com letras tem comida boa, livros, uma vista de tirar o fôlego de um mangue excepcional e um bom papo para quem quer conhecer o povo originário do Icapuí, os descendentes dos bravos guerreiros potiguares.

Foto do Paulo Linhares

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?