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Ler, comer, beber e namorar
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Paulo Sérgio Bessa Linhares é um antropólogo, doutor em sociologia, jornalista e professor cearense

Paulo Linhares arte e cultura

Ler, comer, beber e namorar

A coluna deste domingo, 23, é para quem vai passar o feriadão em Fortaleza. Pena que o texto só cai nas mãos dos leitores no domingo. Ainda assim, vale como convite para aproveitar a Cidade e tornar a rotina mais apaixonante
Tipo Análise
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 17-11-2025: Ultima Turne Tempo Rei de Gilberto Gil no CFO. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 17-11-2025: Ultima Turne Tempo Rei de Gilberto Gil no CFO. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

LER

"Velar por ela", de Jean-Baptiste Andrea, vencedor do Prêmio Goncourt 2023. O livro acompanha a vida de Michelangelo "Mimo" Vitaliani, um escultor de origem pobre que, já velho e à beira da morte, em um mosteiro italiano em 1986, permanece ali há décadas apenas para "velar por ela": uma estátua enigmática, sua obra-prima, que provoca fascínio e desconforto em quem a vê.

Vocês não acham que Aguinaldo Silva tirou aquela ideia das esculturas das "Três Graças" daí? Eu tenho certeza.

A partir desse presente claustral, o romance volta ao início do século XX: o menino Mimo é enviado para aprender escultura em um ateliê de um artista medíocre e tirânico, onde conhece Viola Orsini, filha de uma poderosa família aristocrática. Ele é órfão e pobre, ela, rica, livre, interessada em ciência e decidida a fugir do destino imposto às mulheres.

Entre os dois se constrói uma relação de amor, amizade e rivalidade que atravessa décadas, guerras, a ascensão do fascismo italiano e a própria consagração de Mimo como artista - até que a história de ambos se condensa no segredo que envolve a estátua que ele guarda no mosteiro.

Se você gosta de romance com enredo forte, atmosfera histórica bem construída (eu gosto) e um certo sabor de "romance de formação" à moda antiga, "Velar por ela" é aposta segura.

COMER

Pra começar, dois lugares excelentes para você aderir ao estilo Geração Z (os nativos digitais): tomar um grande déjeuner, café da manhã de rei, e pular o jantar. A moçada hoje quase não bebe (a indústria de bebidas alcoólicas projeta queda de até 70%).

O primeiro endereço eu já comentei aqui, mas merece repeteco: Matina Brunch e Café (Avenida República do Líbano, 640).

Uma cafeteria competentíssima, tudo "comme il faut". Tem aquele padrão "americano chique", embora a chef e proprietária, Vanessa Vianna, tenha formação francesa. A Cidade mudou tanto seus hábitos que o Matina virou, disparado, o lugar mais hypado de Fortaleza. Nenhum restaurante faz tanto sucesso.

Outro café que pede visita é o Ciao Padaria (Rua Monsenhor Bruno, 700). O clima ali é italiano: eles fabricam seus próprios pães (deliciosos) e os crostinis da Luana e do marido italiano são um perigo. Várias vezes eu simplesmente abro mão de almoçar ou jantar para ficar nas maravilhas do Ciao.

Para quem prefere o almoço e quer comer bem sem gastar uma fortuna, surgiram dois self-services bem acima da média. O primeiro nasceu da separação do Le Cuisinier Meireles e o Sul. O original virou Beco Le Roches (o do Sul). Ali está a mão certeira - e abençoada - de Juarez Santana, que agora comanda também (além do bistrô e a padaria) um self-service caprichado. Comida com gosto, o que é muito raro quando se trata de comida a quilo.

O segundo é o novo Regina Diógenes (Avenida Barão de Studart, 805 B), dirigido pelo filho da Regina, o gente fina Armando Diógenes. Ambiente elegante (sem frescura de "cult bacaninhas" que chamam agora gastronomia amadora de comida afetiva) e uma mesa de frutos do mar que é um acontecimento.

BEBER

Se você está juntando uma graninha para comprar bons vinhos na Black Fraude (tudo pela metade do dobro do preço), um aviso de amigo: fuja dos malbecões argentinos. Sempre achei muitos vinhos mendocinos uma grande enganação - e, para minha alegria, não estou mais sozinho nessa implicância.

Entre na Confraria do Pai, na web, e veja o que esse baiano bom de taça diz dos Catenas, Alma Negras e "cordeiros em pele de sei lá o quê". A franqueza é deliciosa. Na dúvida, prefira os vinhos da Puglia ou do Douro.

A comparação nem é justa.

NAMORAR

Não existe cenário melhor para namorar e beber cerveja morna do que um show de Gil (uma performance inesquecível do baiano). O problema, desta vez, foi a temperatura do CFO, em nível de calor inaceitável. Sei que a gestão daquele equipamento é, digamos, impagável. Mas custava colocar essa conta do ar-condicionado na mesa da produtora? Saudade dos shows no Iguatemi Hall.

 


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