Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como
O velho, pensativo como todos os velhos, disse, ou melhor, sussurrou: "Todos nós já nascemos com nossa morte, e ela vai sempre nos acompanhar... Nos guardar!... Nos aguardar!".
E foi assim que ele se preparou para nos deixar - fazia 15 anos que aguardávamos sua esperada partida... O, na época, jovem contista já dizia... muito antes de ele mesmo se tornar um velho quase da mesma idade do velho que esperávamos se ir desmanchando com o vento quente daquele sertão cheio de presságio e sonhos.
O velho durava, durava... e como durava; parecia de aço, ou madeira de lei, daquelas que os cupins e os séculos não comem.
Arquejava, mas noites havia em que sussurrava infinitas histórias, de quando seus filhos e filhas que já se foram de velhos, seus netos que já envelheceram, ainda moravam todos em casa, e cuidavam das vacas, cabras e galinhas; se foram todos cansados já de viver... E ele, o velho, continuava ali como se para semente: tremendo tronco fincado no chão crestado daqueles verões que se sucediam... sem fim!
O velho costumava dizer depois de cada tragédia que consumia os de perto, os de casa e os da vizinhança: "Filhos, e não eram só os seus, a vida pode ser, às vezes e quase sempre, muita cruel... repetia a gasta frase só trocando o adjetivo: a vida pode ser muitas vezes injusta... A vida pode ser, filhos, como bem dizia padre Helênio, diversas vezes aleatória!".
E assim o velhinho esperou, esperou, esperou... tanto que enterrou bem uns vinte, aqueles mesmos que anunciavam finalmente sua partida, bastava ouvir o sino da igreja de Santo Anastácio repicar demorado... Morreu quando bem quis e ninguém mais esperava.
UM MOÇO BOM, PURO OURO...
Aquela que espera infinitamente sem pressa para levar um velho em frangalhos, às vezes não tem qualquer paciência e leva um quase anjo.
O que houvera de ser sempre um bom filho, obediente, estudioso, prestativo, amoroso, compreensivo... O velho se perdia em tantos adjetivos para aquele só substantivo pessoal próprio... "Um menino de ouro!", finalizava sempre por último o avô quando se referia a Samuel.
Quisera o destino que sua sorte fosse se tornar doutor, para só servir os outros.
Mas teria pouco tempo, pouquíssimo tempo; talvez apenas o tempo de começar, para uma alma tão boa não carecia de esperar.
Os crentes de Deus acreditavam, seguindo a antiga máxima quase bíblica de que o bom se vão logo! Não ficam, como nós, por últimos.
Os descrentes são só revolta em engasgos e lágrimas, nos seus silêncios amaldiçoam o destino.
Esquecem-se que a vida, pelo menos "esta" vida, é por demais aleatória, muitas vezes injusta e cruel!
Mas por mínimo tempo que tenha sido, um quarto de século, deixou sua marca que jamais será esquecida, pelos que muito ou pouco esperarão pela madrasta dos tempos.
Que anda desde sempre conosco! Que nos guarda e aguarda! Que de nós só esperam um descuido!
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