Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Há cerca de um ano a antropóloga Rosana Pinheiro-Machado previu estar próximo o dia em que haveria uma greve dos trabalhadores de serviços "compartilhados" por aplicativos. "Prever" talvez não seja o verbo exato, pois ela mesma dizia apontar apenas o óbvio, que escapava da análise da maioria dos observadores políticos e econômicos.
Pinheiro-Machado chama de "revoltas ambíguas" os movimentos equivalentes ao que aconteceram no Brasil em 2013, como o dos "coletes amarelos", na França. Para ela, esses atos não são de "direita" nem "esquerda". Ou melhor, em seu bojo, estão contidas essas extremidades e muito mais. Uma miríade de reivindicações - de categorias cuja característica é a dispersão - que explode de forma poderosa, podendo pender para um lado ou para o outro.
Os serviços por aplicativo são a mais perfeita e brutal forma de exploração desse trabalhador precarizado. O operário, no ajuntamento da fábrica, tem a oportunidade de adquirir consciência de classe no convívio com seus camaradas. Já os dispersos entregadores são convertidos em supostos "empreendedores". Hipoteticamente sem patrões, com a fictícia liberdade de escolher quando e a quantidade de horas a trabalhar. Porém, isso é apenas uma fábula, pois eles se veem presos a uma versão macabra do "corra, coelho, corra", se quiserem levar alguns trocados para casa. (A propósito, o coelho é o animal símbolo de uma dessas empresas.)
No dia 1º de julho está marcada uma greve dos trabalhadores dos aplicativos Uber Eats, Ifood, Rappi, James e Loggi, que pretende parar esses serviços em várias cidades do País.
E qual a reivindicação dos entregadores de comida? Comida! Que as empresas forneçam alimentação ao trabalhador.
Sem apresentar-se como líder, Paulo Lima tornou-se o rosto mais conhecido do movimento, ao organizar uma manifestação antifascista dos entregadores na avenida Paulo, em São Paulo.
É dele a frase mais pungente a respeito da maior agonia dos trabalhadores de aplicativos: "A alimentação é a coisa que mais dói; ter que trabalhar com fome carregando comida nas costas".
Assim, não importa se você é de esquerda ou de direita para apoiar a greve, basta ter coração.
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