Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Bastou Jair Bolsonaro passar uma semana sem atacar, xingar alguém ou inventar algum inimigo imaginário, para que alguns analistas políticos enxergassem mudança substancial nos modos do presidente da República. No mesmo espaço de tempo, tentou aproximar-se dos outros dois poderes, falando em “pacificação” e “entendimento”.
E, para coroar a semana auspiciosa, nomeou para o Ministério da Educação o professor Carlos Decotelli, do qual destacou-se o currículo “sólido”, com mestrado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e doutorado na Universidade Nacional de Rosário (UNR, Argentina), ambas instituições de muito prestígio.
O silêncio Governo “vira a chave”, chegaram a comemorar alguns observadores mais afoitos, frente a esse pequeno conjunto de feitos. É fato que sete dias foi o mais longo período no qual Bolsonaro conseguiu ficar sem arremeter impropérios contra alguma pessoa ou instituição.
Porém, é preciso lembrar: o seu silêncio não se deve à súbita consciência de seu triste papel como governante. Tem a ver com o “caso Queiroz” e de processos correndo no Supremo Tribunal Federal (STF), envolvendo-o ou a sua família.
Aos fatos
1. Pacificação Acreditar que Bolsonaro busca real “pacificação” com a Suprema Corte, é crer em Boitatá. O “entendimento” que ele quer não é compreender melhor como funcionam os três poderes em uma democracia, com freios e contrapesos - todos submetendo-se aos termos da Constituição. O que o presidente quer do Supremo são votos favoráveis às suas teses e a si próprio, incluindo a aceitação das Forças Armadas como “poder moderador”.
2. Congresso Do Congresso - depois de naufragar a quimera da “negociação por bancadas temáticas” - ele quer submissão aos seus projetos. Bolsonaro nunca teve nem mesmo um líder que pudesse falar em nome do governo, bancando os termos das negociações realizadas. Assim, suas propostas costumam ser refugadas pelos parlamentares. Por fim, apelou para a feira do Centrão, principalmente por temer que o impeachment lhe bata à porta.
3. Ministério da Educação O entusiasmo com que Carlos Decotelli foi recebido no Ministério da Educação por alguns analistas, equivaleu-se à comemoração pela saída de Abraham Weintraub da pasta. Porém, no dia seguinte à nomeação, a euforia começou a ruir. O reitor da UNR disse que a tese de doutorado de Decotelli fora reprovada e descobriu-se plágio em sua dissertação de mestrado na FGV. Além disso, Weintraub saiu, mas deixou a turminha olavista no Ministério da Educação. Por sua vez, Decotelli vai herdar a mesma “carta branca” que Regina Duarte teve para fazer mudanças na Secretaria da Cultura. Ou seja, uma carta para inglês ver. Assim, até prova em contrário, a troca é de seis por meia dúzia. Noves fora, Decotelli, pelo menos, parece ter modos.
Desejo e realidade Portanto, analistas indo com muita sede ao pote, imaginando essas mudanças epidérmicas como “virada de chave” no governo Bolsonaro, estão mais no terreno do desejo do que da realidade.
No fundo raciocinam como se ainda existisse a “ala técnica” e a “ala ideológica” do governo, sem levar em conta que esta já engoliu aquela (com fardados e tudo). Talvez a esperança, para alguns desses comentaristas, seja que a falida “ala técnica”, cujo representante maior é Paulo Guedes, ainda possa implementar o seu regressivo programa liberal.
E só para lembrar: “A raposa perde o pêlo, mas não perde o vício”.
(Sei que “pelo”não tem acento, porém prefiro, no caso ;)
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