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Internet: os macacos assumiram o comando
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Internet: os macacos assumiram o comando

A edição original em inglês (EUA) é de 2007, a edição brasileira saiu em 2009; eu li “O culto do amador - Como a internet está matando a nossa cultura”, em 2012. Voltei a ele agora, especialmente à leitura da introdução, escrita pelo próprio autor, Andrew Keen. O livro é interessante, pois vai na contracorrente do entusiasmo desmedido que cercou o surgimento da internet e da possibilidade ilimitada de qualquer pessoa ter acesso à rede, deixando o papel passivo de receptor, tornando-se também emissor de informações.

Sabedoria das massas
Para Keen, isso não seria grande vantagem. Ele duvida da “sabedoria das massas”, que hoje estaria destruindo os antigos mediadores - como jornalistas, cientistas, professores - equiparando o senso comum ao conhecimento especializado. “À medida que a mídia convencional tradicional é substituído por uma imprensa personalizada, a internet torna-se um espelho de nós mesmos.”

Shakespeare
Ele faz uma cômica comparação usando o “teorema do macaco infinito”, de T.H. Huxley, biólogo evolucionista do século XIX. Segundo essa teoria, se fosse fornecido um número infinito de máquinas de escrever a um número infinito de macacos, em algum momento e lugar eles acabariam por criar uma obra-prima, equivalente a um Shakespeare.

Símios exuberantes
Para Keen, Huxley acabou por predizer “as consequência de
um achatamento da cultura que está embaçando as fronteira entre público e autor; criador e consumidor; especialista e amador, no sentido tradicional”. Porém, escreve ele, as máquinas escrever de hoje são os computadores pessoais conectados em rede (os “smartphones” ainda não eram populares) “e os macacos não são exatamente macacos, mas usuários da internet”.

“Em vez de criarem obras-primas, esses milhões de macacos exuberantes - muitos com menos talento nas artes criativas que nossos primos primatas - estão criando uma interminável floresta de mediocridades.”

Despudor simiesco
O autor faz menção à existência de 53 milhões de blogs no mundo exibindo um “despudor simiesco” sobre intimidades da vida privadas e “confundindo a opinião popular sobre todas as coisas, da política ao comércio, às artes e à cultura”. Hoje existem 600 milhões de blogs em atividade no mundo

Observem que, na época em que o livro foi escrito, ainda não haviam ganhado a dimensão de hoje ferramentas como o Facebook (fundado em 2004), Twitter (2006) e Whatsapp (2007); o Instagram (2010) nem mesmo existia. Essas redes sociais fizeram com que o número de postagens - texto, imagem e vídeos - ganhassem proporção estratosféricas e, com elas, a explosão das chamadas “fake news”.

Números mundiais da rede:

Usuários da internet: 4,437 bilhões.
Sites: 1,74 bilhão.
Blogs: 600 milhões, com 5,7 bilhões de posts diários.
Facebook: 1,6 bilhão de usuários ativos diariamente.
Twitter: 500 milhões de posts todos os dias
Instagram: 1 bilhão de usuários mensais.
Whatsapp: 2 bilhões de usuários (79% dos brasileiros usam com principal fonte de informação)
Habitantes no mundo: 7,5 bilhões.

Fake news
Fazendo ainda referência apenas às páginas pessoais, e sem usar o termo que se tornaria famoso, Keen nos oferece uma das mais precisas conceituações do que é uma fake news: “Os blogs tornaram-se tão vertiginosamente infinitos que solaparam nosso senso do que é verdadeiro e do que é falso, do que é real e do que é imaginário (...) toda postagem é apenas uma versão da verdade de mais uma pessoa; toda ficção é apenas a versão dos fatos de mais uma pessoa”.

Futuro
Para concluir a apresentação, um desacorçoado Keen parece entregar os pontos dizendo que “os macacos assumiram o comando”, são eles que “dirigem o espetáculo”. E, com suas “infinitas máquinas de escrever estão escrevendo o futuro”, que talvez não gostemos de ver.

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