Logo O POVO+
Líder dos Entregadores Antifascistas critica Tabata e diz ser "político de rua"
Foto de Plínio Bortolotti
clique para exibir bio do colunista

Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Líder dos Entregadores Antifascistas critica Tabata e diz ser "político de rua"

Os entregadores de aplicativos planejam uma nova greve nacional para este sábado (25/7/2020). Será a segunda paralisação neste mês, depois do “breque” do dia 1º de julho.

A principal reivindicação é de aumento das taxas (o valor pago por quilômetro rodado), que é a forma de remuneração dos aplicativos.

O segmento que se tornou mais conhecido do movimento é o grupo Entregadores Antifascistas, que inclui em sua reivindicações o pagamento de alimentação, distribuição de equipamentos de segurança sanitária e até a formalização do vínculo empregatício.

Na quarta-feira (21/7) conversei, em transmissão ao vivo, com Paulo Lima, o Galo, o mais conhecimento líder dos Entregadores Antifascista. Falamos pelo pelo Instagram da rádio O POVO/CBN, cuja entrevista pode ser vista na íntegra clicando no link. 

Abaixo, um resumo.

POR QUE O APELIDO GALO?
Tinha uma moto que chamava “7 Galo” e eu queria muito ter essa moto. Eu era criança e vivia repetindo “galo, galo, galo”... Aí ficou o apelido. Mas eu nunca tive essa moto (comercializada até 1994, a Honda CBX 750, conhecida como 7 Galo, era uma motocicleta cara). Aí sai reportagem assim: “O Paulo Lima ganhou o apelido quando comprou a 7 Galo para trabalhar de motoboy”. Eu nunca tive essa moto (repete rindo).

QUAIS AS PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES DO MOVIMENTO?
Tem Entregadores Antifascistas e tem as reivindicações da greve. São dois movimentos diferentes. A pauta da greve é por maiores taxas, maior taxa mínima (aumento da remuneração) e fim dos bloqueios injustos (punição que impede o entregador de trabalhar). A greve não é de esquerda, não é de direita, não é contra ou a favor do governo. Os Entregadores Antifascistas apoiam a greve, mas são assumidamente de esquerda. A nossa luta é fazer os aplicativos garantirem café da manhã, almoço, jantar, lanche da tarde e lanche da madrugadas para quem trabalha nesses períodos. E, a partir disso, fazer os aplicativos reconhecerem o vínculo empregatício.

ALGUMA DAS REIVINDICAÇÕES DA GREVE DO DIA 1º FOI ATENDIDA?
Ainda não.

CHEGOU A HAVER ALGUMA NEGOCIAÇÃO COM AS EMPRESAS? QUEM NEGOCIA EM NOME DA CATEGORIA?
Não dá para saber. A categoria é bastante dividida e é difícil dizer quem fala por quem. Cada um fala por uma parte.

ESSA É UMA CARACTERÍSTICA DAS CATEGORIAS PRECARIZADAS, NÃO?
A precarização é para isso, para nos deixar divididos.

DEPOIS DA GREVE, O IFOOD DIVULGOU UMA SÉRIE DE BENEFÍCIOS QUE A EMPRESA DISPONIBILIZARIA AOS TRABALHADORES. QUAIS SÃO ESSAS MEDIDAS?

Isso é mentira. Eles fazem de uma coisa (que alcança) 1% (da categoria) para fazer propaganda de 100%. Dão mil (frascos) de álcool em gel em São Paulo e dizem que deram para todos os entregadores.

COMO É FEITO O PAGAMENTO DE VOCÊS?
É de um real por quilômetro (rodado) e mesmo assim é ilusório; dá menos do que 50 centavos. (A mensuração) é do restaurante até cliente, o deslocamento não é contado.

EU LI QUE UM ENTREGADOR, PARA GANHAR MIL REAIS POR MÊS, PRECISARIA TRABALHAR 12 HORAS POR DIA, SETE DIAS POR SEMANA, ESTÁ CERTA ESSAS CONTA?
É assim: hoje se um motoboy não fizer pelo menos R$ 4 mil em um mês, ele se ferra. Porque ele tem de tirar a prestação da moto, depreciação, pneu que fura, moto que quebra, alimentação, máscara, álcool em gel, plano de celular. Até a “bag” (caixa de isopor para transporte da mercadoria) que carregamos com o logo deles nas costas, nós temos que pagar. Você vai tirando todas essas despesas, para fazer ali um salário de R$ 1.500, R$ 1.600 (por mês). A gente ganha um pouquinho mais quando chove, porque aí o aplicativo coloca promoção: faça dez corridas em duas horas e ganhe R$ 40 a mais. Aí, a gente sai arriscando a vida por aí para ganhar esses 40 reais.

E PARA GANHAR R$ 1.500 QUANTAS HORAS É PRECISO TRABALHAR POR DIA?
Doze horas. Tem companheiro que trabalha 16, 17, 18 horas. Tem companheiro que dorme na rua. Tem um monte de história. Eu trabalhava 12 horas por dia, seis dias por semana.

VI UMA ENTREVISTA SUA FALANDO SOBRE UM ASSESSOR DA DEPUTADA TABATA AMARAL (PDT-SP) QUE PERGUNTOU SE VOCÊ QUERIA REVISTAR UM PROJETO DELA SOBRE OS ENTREGADORES. POR QUE VOCÊ DEU UMA BRONCA NA DEPUTADA?
Ah, vamos ser sinceros, né? A Tabata Amaral vota a favor da reforma da Previdência, depois quer fazer um projeto de lei para os precarizados? Ela acha que o pessoal vai esquecer isso aí? Comigo não arruma nada não. E outra: ela quer escrever um projeto, protocolar na Câmara e quer vir pedir consultoria para mim, para dizer o que eu achei? Quem tem de escrever o projeto do trabalhador é o trabalhador. Então vem escrever junto. E não só a Tabata, eu já peguei pesado com outros políticos também. Os Entregadores Antifascistas não são consultoria de projeto político, não.

QUAL A MAIOR DIFICULDADE PARA MOBILIZAR CATEGORIA TÃO DISPERSA? HÁ MUITO MOTOBOY QUE ACREDITA SER “EMPREENDEDOR”?
Muita gente. Quando eu comecei essa luta, eu chegava para os companheiros e dizia: “Pô, companheiro, tô numa luta aí…” Os caras falavam: “Ei, Galo, o aplicativo tá ruim para você? Então desliga o aplicativo e vai pra Cuba”. Então, tem esse sentimento, os caras não se enxergam como trabalhadores. Aí fica difícil a união. Mas, aos pouquinhos, a gente vai mostrando a verdade. Muitos companheiros me odeiam, mas eles não sabem que me odeiam porque se odeiam, porque o patrão fez ele se odiar.

VOCÊ PRETENDE SER CANDIDATO A ALGUMA COISA?
Eu não. Não tenho problema nenhum com a política institucional. Tenho carinho e respeito por alguns políticos, meu político institucional preferido é o Mujica (José, ex-presidente do Uruguai). Mas eu não quero ser político institucional, porque meu coração não bate na política institucional, meu coração bate na política de rua. Sou fã de políticos que eu considero de rua, como Jesus Cristo, Mahatma Gandhi, Rosa Luxemburgo, Malcon X, Tupac Amaru e por aí vai. Eu quero ser político de rua.

 

Foto do Plínio Bortolotti

Fatos e personagens. Desconstruindo a política. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?