Por que o procurador-geral Augusto Aras ataca a Lava Jato?
Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Por que o procurador-geral Augusto Aras ataca a Lava Jato?
A Lava Jato sempre esteve sob a pressão da esquerda, devido aos supostos malfeitos praticados pelo Ministério Público Federal durante a operação comandada pelos procuradores em Curitiba e pelo ex-juiz Sergio Moro.
PGR Agora, as críticas se intensificam e partem de onde, aparentemente, menos se esperava: da Procuradoria-Geral da República, cujo titular é Augusto Aras, escolhido ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro, fora da lista tríplice, tradicionalmente usada para a nomeação do titular da PGR. É lícito, portanto, supor que Bolsonaro quis promover alguém com um conjunto de ideias próximas às dele.
Aras dedica-se com afinco a fazer uma grande ofensiva à Lava Jato com críticas parecidas às que a esquerda - especialmente o PT - vinha fazendo desde que alguns de seus principais militantes passaram a ser investigados, julgados, condenados e presos pela Justiça.
Boi de piranha Mas o que está acontecendo agora parece ter sido previsto com percuciência por Romero Jucá, na famosa conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em maio 2016. Na ocasião, Jucá sugeriu um pacto para barrar as investigação da Lava Jato "com Supremo, com tudo". E apontou o caminho do rio: "Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem".
“O cara” Como se sabe, a Lava Jato pegou várias políticos e empresários, mas apenas um que se poderia chamar de “o cara”. Ele foi uma espécie de troféu que os lavajatistas passaram a exibir como símbolo do processo de combate à corrupção.
Lavajatistas Porém, o véu persecutórios e seletivo da Lava Jato começou a ser levantado pelo Intercept Brasil. Em um série de reportagens, com o selo “Vaza Jato”, a plataforma jornalística publicou mensagens trocadas por meio do aplicativo Telegram entre os promotores e o então juiz Sergio Moro.
Heterodoxos A forma heterodoxa de atuação dos lavajatistas, em que houve contubérnio entre julgadores e acusadores, ações persecutórias, interceptação ilegal de conversas e divulgação seletiva de informações, ficou exposta à luz do sol.
Eu não arriscaria dizer quais são as intenções de Aras ao investir contra a Lava Jato. Ele está de fato preocupado com o devido processo legal e com a institucionalidade ou entende que o “boi de piranha” já foi devidamente estraçalhado e chegou a hora de parar com a brincadeira?
Críticas confirmadas A esquerda, por sua vez, vê-se na contingência de apoiar as críticas do procurador-geral, observando com regozijo algumas de suas acusações contra a Lava Jato sendo de alguma forma confirmadas por Aras, como a falta de transparência, ações persecutórias e gravações ilegais.
O grupo Para o Ministério Público, por sua vez, poder-se-ia usar aquela expressão típica dos boleiros: “O grupo está fechado”. Como é típico em corporações, sentindo-se ameaçados, procuradores da esquerda à direita uniram-se em oposição ao procurador-geral. Para eles, o ataque de Augusto Aras a Curitiba visa impor uma hierarquia na Procuradoria, o que violaria o princípio na independência funcional, inscrita na Constituição.
Como isso vai terminar? Ninguém ainda teve a confiança absoluta em baixar sua mão de cartas. O jogo ainda está sendo jogado.
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