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Humanos, a verdadeira "praga" do planeta
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Humanos, a verdadeira "praga" do planeta

Por vezes parecem ingênuas as ideias expostas por Ailton Krenak no livro A vida não é útil (Companhia das Letras), porém é uma simplicidade estudada, parecida com aqueles questionamentos de crianças que encurralam adultos.

Gaia

Para ele, a Covid-19 não é uma peste, apenas a reação de Gaia (a Terra) pelo mal que lhe impingem os humanos. Nós é que somos a verdadeira “praga do planeta”, o mesmo sentimento de Yuval Harari quando afirma ser o homem “o animal mais letal que já caminhou sobre a terra”. (no livro “Sapiens”).

Segundo Krenak a humanidade concebeu um sistema para poucos, como houvessem sido criada uma “casta”, dotada de humanidade, e tudo o que estivesse fora dela constituísse a “sub-humanidade”, incluindo caiçaras, quilombolas e povos indígenas, e todas as demais formas de vida, que “deliberadamente largamos à margem do caminho”.

Bíblia

(Talvez essa arrogância do ser humano tenha origem bíblica, conforme Gênesis 1:26 - “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’”.)

Consumo

Em uma crítica à febre consumista e à concentração de riquezas Krenak pergunta: “Quantas terras essa gente precisa consumir até entender que está no caminho errado?”

Uma possível resposta é dada pela Global Footprint, que calcula anualmente o quanto pode ser usado de recursos da Terra, de modo a garantir sua capacidade de regeneração. Para o ano de 2019, segundo o estudo, o uso máximo deu-se em 29 de julho.

A partir daí, todos os recursos usados (água, alimentos, petróleo, etc.) entraram em crédito negativo, como se estivéssemos gastando a descoberto. Para suportar o consumo, seria necessária 1,75 terra. Outro estudo mostra que, caso todo o mundo tivesse o mesmo padrão de consumo dos americanos, seriam necessárias 4,5 terras para dar conta do uso dos recursos naturais.

Casta de humanoides

Krenak diz que a ilusão de uma “casta de humanoides”, que “se entope de riquezas, enquanto aterroriza o resto do mundo, pode acabar implodindo”, levando à destruição total. A “pista” de que chegamos a um beco sem saída seria o investimento de bilionários para construir uma plataforma de sobrevivência fora da terra.

“Deveríamos dar um passe livre para eles, para os donos da Tesla, da Amazon (a propósito, foi onde comprei este livro digital). Podem deixar o endereço, que depois a gente manda suprimentos”, escreve Krenak.

Reconfiguração

Para o líder indígena, se o mesmo modo de vida e sistema de produção forem repetidos em outros planetas, o destino deles será parecido com o da Terra, cujo futuro parece sombrio.

Se quisermos ficar aqui, aconselha, vamos ter de nos “reconfigurar radicalmente”.

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