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Paulo Bonavides: o dia em que Jornalismo perdeu para o Direito
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Paulo Bonavides: o dia em que Jornalismo perdeu para o Direito

A obra gigantesca será devidamente reconhecidas nos necrológios que a imprensa de todo o Brasil já está publicando, merecidamente, para homenagear nosso constitucionalista de renome mundial: Paulo Bonavides.

Convivência
Como tive o privilégio de conviver com ele, conto algumas poucas histórias de nossos encontros, sempre agradáveis.

A primeira vez que falei com o professor Paulo (sempre o tratei assim) foi na década de 1980, quando era repórter no JD e me coube entrevistá-lo em sua casa. Chamou-me a atenção o cuidado com que pronunciava as palavras para ter certeza de que o entrevistador havia entendido, pedindo, de vez em quando para conferir as anotações. Mas o fazia de modo tão amigável que era impossível negar-lhe a conferência.

No O POVO
Muito tempo depois, voltei a encontrá-lo no O POVO. E qualquer assunto que o levasse ao jornal, era motivo para que ele me procurasse para conversar amenidades ou sobre o que acontecia no País. Tornei-me também uma espécie de embaixador do professor Paulo dentro do jornal, com ele me telefonando todas as vezes que tinha algum assunto para resolver: marcar reuniões, um retorno que não obteve, perguntar como poderia falar com um ou outro colega.

Obra
Mas, minha principal atividade nesse ofício era recuperar artigos ou reportagens que ele escrevera para o jornal, a partir da década de 1930. Por vezes ele tinha apenas o título, outras vezes lembrava-se aproximadamente da data e do assunto. Nesse particular, tive uma ajuda imensa do O POVO.doc (banco de dados) cujos colegas não mediam esforços para encontrar o material. Quanto mais difícil, mas alegres ficavam com o encontro, me ligando imediatamente. O professor era cuidadoso com sua obra e imagino que seus arquivos farão a felicidade de qualquer pesquisador.

Um menino no jornal
Em uma de nossos encontros ele me contou a história que o levou a integrar a Redação do POVO com apenas 14 anos de idade. Abriu-se um concurso para contratar jornalistas e os interessados tinham de mandar mandar uma redação para a primeira parte da seleção.

Os escritos do adolescente Paulo ficaram em primeiro lugar, e ele foi convocado para a entrevista. Mas, quando Paulo Sarasate (que dirigia a Redação) deparou-se com um pré-adolescente, disse que ele não poderia ficar no jornal. Demócrito Rocha, fundador do O POVO, assistia a cena e interveio: “Deixe o menino ficar”. A partir daquele dia, o jovem repórter passou a receber salário, passe livre nos ônibus e nos cinemas: “Era tudo o que eu queria”, ria-se ao contar a história.

Demócrito Rocha
Tornou-se grande amigo de Demócrito, até a morte do jornalista, em 1943. Homenageou o amigo com o livro “Demócrito Rocha - Uma vocação para a liberdade” (1988), abordando, principalmente a atuação de ativista político e jornalista desenvolvida pelo fundador do O POVO.

Lição de democracia
Em 2010, no lançamento da terceira edição do livro, Bonavides disse que deve seu apego à democracia e ao Estado de Direito ao aprendizado com Demócrito. Era o jornalista combativo mostrando, na prática do dia a dia, o caminho dos princípios éticos para aquele que viria a se tornar uma referência internacional em estudos sobre a Justiça. Essa o Direito deve ao Jornalismo.

Associated Press
Depois, o jovem Paulo foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como redator na Associated Press (uma das maiores agências de notícias no mundo). Em seguida, foi-lhe oferecido o cargo de editor da agência para a América Latina, que ele teria de dirigir a partir dos Estados Unidos. Mas, com a mãe doente, ele disse ter escolhido voltar a Fortaleza para cuidar dela.

E foi dessa maneira que o Jornalismo sofreu sua maior derrota para o Direito.

Foto do Plínio Bortolotti

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