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O POVO/Datafolha: Fortaleza é de direita ou de esquerda?
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

O POVO/Datafolha: Fortaleza é de direita ou de esquerda?

Pesquisa O POVO/Datafolha, análise do “perfil ideológico” do eleitor fortalezense, mostrou que 38% declararam-se de “direita” (do centro à extrema) e 28% classificaram-se como de “esquerda” (do centro à extrema). No grupo de direita, 19% posicionaram-se como extremistas, entre os esquerdistas, 11% disseram ser de extrema esquerda.

Esquerda ou direita?
É de se levar em conta que a classificação ideológica pode ser bastante fluida, talvez com exceção dos que se declaram como extremistas, isto é, que propugnam pelo fim da democracia com implementação de governos autoritários.

A fluidez pode ser observada quando se observa que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é aceito por 58% dos entrevistados; sendo 63% deles contra o porte de arma. Esses são temas tradicionalmente defendidos pela esquerda, mas o índice de aceitação das pautas supera o percentual dos que se classificam nessa posição ideológica.

Direita ou esquerda?
Já assuntos tradicionalmente ligados à direita, a defesa da pena de morte (com 51% a favor) e ampliação das possibilidades de aborto (51% contra) também tiveram índices acima do percentual dos que se classificaram de “direita”.

Surpresa
Muita gente também ficou surpresa com o índice de respondentes que se nomearam de esquerda, 28%, considerado “baixo” pelo fato de Fortaleza eleger seguidamente políticos considerados de esquerda ou de centro-esquerda. Ocorre que a palavra “esquerda” pode vir carregada de conotação negativa, como sinônimo, por exemplo de “comunista”. Por isso as pessoas evitam classificar-se dessa maneira.

Perguntas
No entanto, se as perguntas fossem referentes a políticas específica implementadas ou defendidas pela esquerda, certamente o resultado seria diferente. Por exemplo: “Você é a favor que o Estado atue para reduzir as desigualdades por meio de programas sociais”; “Você é contra a privatização de empresas estatais como a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica? “Você é a favor da saúde pública e universalizada, por meio do SUS”, entre outras. Certamente o índice de resposta “sim” a essas questões seria bem maior do que os 28% atribuídos à esquerda.

Extrema direita
O que parece mais sólido é o resultado de 19% daqueles que se declaram de extrema direita. Por várias vezes escrevi que os saltos de popularidade do presidente Jair Bolsonaro são eventuais, pois seu público fiel estaria em torno de 20% - o que não é pouca coisa. Talvez uma pesquisa em todo o país chegasse à mesma conclusão desta realizada em Fortaleza.

Razões e significados
Para concluir, uma definição de direita e esquerda do filósofo e político italiano Norberto Bobbio, no livro “Direita e esquerda - Razões e significados de uma distinção política”:

(...) A pessoa de esquerda é aquela que considera mais o que os homens têm em comum do que o que os divide. A pessoa de direita, ao contrário, dá maior relevância política ao que diferencia um homem do outro do que o que os une. A diferença entre direita e esquerda revela-se no fato de que, para a pessoa de esquerda, a igualdade é a regra e a desigualdade, a exceção. Disso se segue que, para essa pessoa, qualquer forma de desigualdade precisa ser de algum modo justificada, ao passo que, para a pessoa de direita, vale exatamente o contrário. Ou seja, que a desigualdade é a regra e que, se alguma relação de igualdade deve ser acolhida, ela precisa ser devidamente justificada. (...) Não se pretende dizer que a esquerda inclui todos e que a direita exclui todos, mas sim que a regra da esquerda é a inclusão, salvo exceções; e a regra da direita, a exclusão, salvo exceções.

Resumindo: para a direita, a pessoa tem de resolver seus problemas sozinha (a “meritocracia”); a esquerda defende a solidariedade entre as pessoas para superar os problemas.

 

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