"Não tenho vergonha nenhuma" em negociar com o Centrão, diz general
Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
"Não tenho vergonha nenhuma" em negociar com o Centrão, diz general
Luiz Eduardo Ramos, o general titular da Secretaria de Governo, disse que não se envergonha de ter sido o articulador do conchavo que levou o presidente Jair Bolsonaro ao colo do Centrão ou vice-versa.
O desprendido “Não tenho vergonha nenhuma, não. Tomei uma atitude coerente. Meu desprendimento de ter aberto mão da minha carreira no Exército mostra que estou a serviço do País. O governo hoje é do Bolsonaro, mas é do País”, disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo (9/2/2021). O “desprendimento” a que o general se refere é ao fato de ter ido para reserva quando poderia ficar na ativa até o fim deste ano.
Servindo à pátria ou ao governo? Quem quiser comprar a abnegação do general pelo preço que ele está vendendo, que compre. Entretanto, ele esqueceu-se de dizer das benesses que os militares passaram a desfrutar no governo Bolsonaro. Além do mais, dedicação à pátria não é para se alardear, nem para ser cobrada. E, ainda, ocupar cargos políticos — ainda mais na proporção que os militares fazem hoje — mais atrapalha do que ajuda o País, sendo também um fator de descrédito para as Forças Armadas.
Assim, Ramos serve ao governo, mas especificamente aos interesses de Bolsonaro — e não ao Brasil
Ah, a “nova política” Mas por que o general precisou vir a público para dar explicações sobre a sua falta de vergonha? Como todos sabem, principalmente o general Augusto Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional) — que comparou o Centrão a um bando de ladrões — o agrupamento era considerado pelos bolsonarianos um antro de corruptos, o pior exemplo da “velha política”, que eles iriam combater sem tréguas.
Foi nessa vibração que o intrépido deputado federal Eduardo Bolsonaro fez um discurso na campanha de 2018 separando seus correligionários entre aqueles que se manteriam firmes ao lado de Bolsonaro na Presidência e os que se deixariam “seduzir pelo discurso do Centrão”.
Por onde andará o general Heleno? (A propósito, por onde anda o general Heleno, o destemido guerreiro da “nova política”, a lançar-se contra contra os moinhos de vento do Centrão, dando murrinhos na mesa e vociferando contra Lula: “Um presidente da República desonesto tinha de tomar uma prisão perpétua…”)
Pois é, isso para vocês verem como o mundo dá voltas e a política é dinâmica.
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