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CPI está sitiando Bolsonaro; esta semana pode bater o pânico
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

CPI está sitiando Bolsonaro; esta semana pode bater o pânico

[Caros possíveis leitores: o texto ficou um pouco longo, pois estou sem tempo de escrever um mais curto. No entanto, a “Segunda parte”, assinalada abaixo, é um resumo do que aconteceu na CPI até a semana passada. Se você estiver acompanhando, pode até pular, mas se resolver ler até o final, melhor ainda.]


Depoimentos dessas duas semanas de funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI da pandemia, deixaram o governo assustado, ao ponto de o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) ter comparecido ao plenário com o único objetivo de xingar o relator Renan Calheiros (MDB-AL) de “vagabundo”.

Ele quis dar uma forcinha aos governistas da CPI que mostram-se tíbios na defesa do presidente Jair Bolsonaro, fazendo corpo mole, e deixando os depoentes aliados levaram verdadeiras surras verbais, quando não embananando-se, eles mesmos, com o próprio depoimento, como foram os casos de Fábio Wajngarten, ex-secretário-geral da Presidência e de Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde.

Cortina de fumaça
O presidente também saiu a campo com o seu velho truque de xingar adversários e cuspir baboseiras para criar uma cortina de fumaça cujo objetivo é esconder a realidade que o cerca. Mas a mágica deixou de funcionar, pois o truque foi descoberto e vitupérios presidenciais logo tem o destino que merece: a lata de lixo mais próxima. É cada vez menor o número de jornais e jornalistas que ”repercutem” o vocabulário de sarjeta expelido pelo presidente.

O fato inescapável é que Bolsonaro está nas cordas, com a CPI em seu encalço. E, além do coice, a queda: pesquisas apontam que a sua popularidade cai, sua rejeição aumenta, cada vez mais brasileiros compreendem que ele é o principal responsável pela disseminação da Covid-10. E mais, horror dos horrores, Lula derrotaria Bolsonaro inapelavelmente, se a eleição fosse hoje, segundo o instituto Datafolha.o

Ernesto Araújo
O desespero da família Bolsonaro deve aumentar esta semana, com o depoimento do ex-ministro das Relações Exeteriores Ernesto Araújo, que depõe nesta terça-feira (18/5/2021). Ele vai ter de explicar por que, mesmo o Brasil dependendo da China para a compra de vacinas e para conseguir ingrediente farmacêutico ativo (IF) para fabricação pelo Instituto Butantan, ele esmerava-se, juntamente com a família Bolsonaro, em agredir o país asiático. O temor do Palácio do Planalto é que Araújo, com a arrogância própria dos ignorantes, alopre na comissão quando for pressionado e acabe falando demais.

General (da ativa) Eduardo Pazuello
Na quarta-feira (19/5/2021) será a vez do general (da ativa), Eduardo Pazuello, que esteve à frente do Ministério da Saúde, na base do “um manda outro obedece”, ou seja, ele mesmo confessou ser um boneco de ventríloquo, cujo titereiro era o presidente Bolsonaro.

Valente como ele só, depois de ter fugido da primeira convocação da CPI, recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo direito de ficar calado na CPI. Saiu com uma vitória com gosto de derrota. Não será obrigado a produzir provas contra si, mas ficou obrigado a falar a verdade sobre “terceiros”. A não ser que ele tenha (e a CPI aceite) uma conceituação muito criativa do que é “terceiro”, terá de falar sobre o chefe.

Mayra Pinheiro
Na quinta-feira (20/5) será o dia de Mayra Pinheiro depor na CPI. Titular da Secretaria da Secretaria de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, ela é conhecida como “capitã cloroquina”. Ela organizou uma expedição de médicos para difundir o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 em Manaus, dias antes de o sistema de saúde do Amazonas entrar em colapso.

Mayra tabém recorreu ao STF pelo direito de ficar calada durante o depoimento. Terá, no máximo, uma decisão igual à que conseguiu Pazuello. Ou seja, no máximo lhe será concedido o direito de não produzir provas que possam prejudicá-la

Ela foi presidente do Sindicato dos Médicos, na época em que os médicos cubanos chegaram ao Ceará. Ela foi responsável por organizar atos contra seus colegas cubanos, que foram vaiados sob os gritos de “escravos” por integrantes da categoria cearense.

A médica é a típica bolsonariana: valente no meio da turba e covarde quanto tem de enfrentar a consequência de seus atos.

SEGUNDA PARTE: O QUE ACONTECEU ATÉ AGORA NA CPI

Os seis primeiros depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI da Pandemia, foram francamente desfavoráveis ao presidente Jair Bolsonaro, sendo os depoentes de diversas orientações ideológicas.

Grosso modo, podemos dividir os depoentes três categorias:

1. Oposição ao presidente ao presidente: Henrique Mandetta (ex-ministro da Saúde).

2. Aliados: Fábio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação da Presidência e Marcelo Queiroga (atual Ministro da Saúde).

3. Neutros: Nelson Teich (ex-titular da Saúde), Antônio Barra Torres (presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisas) e Carlos Murillo (executivo da Pfizer).

Henrique Mandetta
O primeiro dos quatros ministros da Saúde do atual governo, Mandetta abriu o caminho para posteriores confirmações de que houve negligência do governo em relação à compra de vacinas. Testemunhou também sobre uma espécie de “ministério paralelo”, que concorria, segundo ele, com as orientações oficiais emitidas pela pasta, tais como evitar aglomerações, manter o distanciamento social, usar máscaras de proteção e seguir orientações científicas para traçar a política de combate ao coronavírus.

Também falou a obsessão do governo pela cloroquina ao ponto de ter visto, em uma das reuniões com Bolsonaro, um documento, sem timbre, propondo um decreto para incluir na bula do remédio o seu uso para o tratamento da Covid-19. (Depoimento: 4/5/2021)

Nelson Teich
Ministro que ficou apenas 28 dias na titularidade do Ministério da Saúde, Nelson Teich, por sua vez, disse "desconhecer" a existência de um ministério paralelo, mas afirmou que o seu pedido de demissão ocorreu devido a duas razões principais: a insistência do governo em ampliar o uso da cloroquina e a falta de autonomia para administrar o ministério.

Mesmo contido em seu depoimento, as declarações de Teich confirmam o que mandetta disse quanto à cloroquina e também sobre um possível "ministério das sombras", pois se Teich declarou não ter autonomia para dirigir a pasta, forçosamente haveria alguém para implementar as propostas ao gosto de Bolsonaro. (Depoimento: 5/5/2021)

Marcelo Queiroga
A maior preocupação do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi proteger o presidente jair Bolsonaro. Não teve ao menos coragem de dizer que é contra o chamado "tratamento precoce" da Covid-19. Considerou de menor importância o comportamento insalubre do presidente quanto aos cuidados que se deve tomar para evitar a transmissão do coronavírus.

Enfim, mostrou ser a versão sem farda do "um manda outro obedece", imortalizada pelo general (da ativa) Eduardo Pazuello. Porém, os dribles que desajeitadamente tentou dar na CPI transformaram-se em tropeços, soando como confissão de culpa. (Depoimento: 6/5/2021)

Antônio Barra Torres
Indicado por Bolsonaro para ocupar a presidência da Anvisa, Antônio Barra Torres comportou-se com a independência que deveria marcar a atuação de qualquer funcionário público. Não se negou a responder nenhuma pergunta, o que fazia de forma direta e objetiva. Condenou o uso da cloroquina, declarou-se “amigo” de Bolsonaro, mas criticou o seu comportamento negligente no enfrentamento à pandemia.

Confirmou, sem deixar espaço para dúvida, que existiu de fato uma minuta de decreto para incluir a cloroquina como remédio para tratamento da Covid, o que ele disse ter rechaçado com veemência. Afirmou ainda que, na reunião em que o assunto foi tratado, estava a médica Nise Yamaguchi, uma das defensoras do uso da cloroquina para o tratamento da Covid-19. (Depoimento: 11/5/2021)

Fábio Wajngarten
O vergonhoso depoimento de Wajngarten fez com que saísse humilhado da CPI, pela covardia que demonstrou, sem ao menos coragem para confirmar declaração dada à revista Veja, na qual acusou o Ministério da Saúde (sob Pazuello) de "incompetência" por não ter comprado, tempestivamente, vacinas oferecidas pela Pfizer. Quase ao mesmo tempo, a revista divulgou a gravação, e Wajgarten reconheceu ter dado a declaração mas disse que a referência era à “burocracia” e não ao ministério.

Pressionado, Wajngarten entregou, de bandeja, uma carta da Pfizer oferecendo vacinas, que foi dirigida a várias autoridades brasileiras, incluindo o Ministério da Saúde, o Ministério da Economia, a vice e a Presidência. O documento foi emitido pela farmacêutica em 12/9/2020 e Wajngarten tomou conhecimento dela em 9/11/2021, até então, sem nenhuma resposta oficial do governo. (Depoimento: 12/5/2021)

Carlos Murillo
Gerente-geral da Pfizer para a América Latina, na época presidente da empresa no Brasil, Carlos Murillo foi responsável direto pelas negociações das vacinas com o governo brasileiros, tratativas que começaram em maio do ano passado. Bem documentado, fez uma linha do tempo das negociações, mostrando que, em 2020, o governo brasileiro recusou três ofertas de imunizantes, uma delas prevendo a entrega de 70 milhões de doses, sendo que 1,5 milhão ainda em 2020 No entanto, o primeiro contrato só foi assinado em março deste ano. (Depoimento: 13/5/2021)

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