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Atropelado por um trem, o generoso general Eduardo Ramos defende o maquinista imprudente
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Atropelado por um trem, o generoso general Eduardo Ramos defende o maquinista imprudente

Quando ocorreu o encontro entre o presidente e o titular da Casa Civil, o destino dele já estava traçado: seria demitido do cargo para acomodar o Centrão no governo

Na segunda-feira, dia 19/7/2021, o general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil, conversou por “um bom tempo” com o presidente Jair Bolsonaro, quando este voltou a Brasília, depois de receber alta em um hospital de São Paulo, conforme relatou Eliane Cantanhêde, em artigo para o Estado de S Paulo (21/7).

Encontro
Quando ocorreu o encontro entre Ramos e o presidente, o destino do titular da Casa Civil já estava traçado: ele seria demitido do cargo para acomodar o Centrão, que manda cada vez mais no governo. Porém, seu amigo de longa data, o presidente Bolsonaro, não lhe deu nenhuma pista de que a guilhotina fora acionada.

Vejamos trechos da entrevista; entre aspas, as respostas de Ramos.

Sobre a demissão da Casa Civil
“Eu não sabia, estou em choque. Fui atropelado por um trem, mas passo bem.” (tentando demonstrar bom humor, segundo anotou a jornalista.)

Meu comentário. O general não tem senso de ridículo? Ele é deposto do cargo, sem nem mesmo ser avisado e o que faz é tentar “demonstrar bom humor”? Que tal pedir um pouco de respeito ao chefe?

O que o general não admite
Só uma coisa Ramos não admite, escreveu a jornalista, que façam “fofoca” ou publiquem que ele está caindo por incompetência ou por ter inimigos e sofrer pressões no Congresso. “Isso, não. Eu estava, aliás, ainda estou muito feliz na Casa Civil, e dei o melhor de mim. Tanto que estou recebendo telefonemas de parlamentares de vários partidos, em solidariedade”.

Meu comentário. Não cabe ao general admitir ou não a análise que jornalistas e qualquer outra pessoa farão de sua demissão. No máximo, ele pode concordar ou discordar.

Então, se ele é competente, por que a troca?
“Por motivos políticos, óbvio. Se eu estivesse sendo trocado por alguém formado em Oxford, ou Harvard, tudo bem, poderiam dizer que falhei. Mas é por um político aliado do presidente, é assim que funciona.”

Meu comentário. O general considera-se abaixo de quem é formado em universidades estrangeiras? E a Academia Militar de Agulhas Negras é uma escola inferior? E, quanto “é assim que funciona”, mostra que os fardados logo se adaptaram, passando a considerar normal o que antes condenavam.

Sobre a possibilidade de aceitar outro cargo no governo
“O presidente é ele, eu sou soldado, cumpro missão. Aprendi, em 47 anos de vida militar, que soldado não escolhe missão. Se ele me der outra no governo, eu aceito”.

Meu comentário. O general ao aceitar um cargo no governo, deixou de ser “soldado” para ser um político, e assim deve ser tratado. Se quisesse continuar batendo continência, que ficasse no quartel. A mais, não soa um pouco humilhante o cara ficar esperando uma sinecura depois de ter sido devidamente chutado de seu cargo?

Registre-se a generosidade do general Ramos que, atropelado por um trem, em plena luz do dia, esforça-se para defender o maquinista imprudente.

Foto do Plínio Bortolotti

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