O professor Luís Fernando Tófoli (Unicamp) me faz um apelo, via Twitter:
“Me ajuda a entender esse Capitão Wagner, em primeiro (lugar nas pesquisas), em um dos estados mais lulistas do Brasil. A pergunta é genuína mesmo, faz tempo que não estou aí e não consigo apreender.” (O “não estou aí faz tempo” é referência ao período em que Tófoli deu aula na Faculdade de Medicina da UFC em Sobral, no início dos anos 2000.)
No estilo 280 caracteres respondi:
“Wagner conseguiu construiu-se como única força capaz de opor-se aos Ferreira Gomes, cujo poder declina, inclusive, digamos, pela fadiga do material. Entanto, quando Elmano (PT) ficar conhecido como ‘candidato do Lula’, o quadro tende a mudar. De qualquer modo, Wagner estará no 2º turno.”
Ipespe
A pesquisa Ipespe — contratada pelo O POVO — divulgada hoje mostra o Capitão Wagner (UB) à frente da corrida pelo cargo de governador com 38% das intenções de votos; depois vem Roberto Cláudio (PDT), com 28%; em seguida Elmano de Freitas (PT), marcando 13%.
Motins
Wagner, capitão da Polícia Militar, começou a ficar conhecido depois de dirigir um violento motim da corporação no ano de 2012. No episódio, policiais tocaram o terror na cidade, fazendo os cearenses de reféns. O então governador Cid Gomes (PDT) fraquejou ao conter a rebelião dando a vitória a uma greve de homens armados.
Confronto
Em 2020, fortalecidos pelo êxito anterior, o movimento armado repetiu-se, apresentando uma pauta de reivindicações corporativas. Mas, desta vez, Wagner preferiu resguardar-se, aparecendo publicamente apenas como um negociador entre governo e grevistas. Em boa hora, o então governador Camilo Santana (PT) confrontou o movimento, não aceitou nenhum tipo de acordo com os amotinados.
O motim foi encerrado, líderes processados, aprovou-se uma proposta de emenda constitucional (PEC) na Assembleia Legislativa proibindo anistias a amotinados, e abriu-se uma CPI para investigar o caso. A ação dura no Ceará serviu para inibir outros movimentos armados, que se organizavam país afora.
Popularidade
Depois do primeiro motim, Wagner ganhou popularidade entre alguns segmentos — especialmente as polícias — e partiu para a carreira política, conseguindo rápida ascensão: vereador, deputado estadual, deputado federal, candidato à prefeitura de Fortaleza (derrotado pelo candidato dos Ferreira Gomes) e, agora, em primeiro lugar na pesquisa de intenções de voto para governador. Com a sua destacada atuação política, ele conseguiu reunir a dispersa oposição aos Ferreira Gomes no Ceará, que sempre existiu. A exemplo do outro capitão, no início, também parecia improvável que ele teria tanto sucesso.
Limpeza
Wagner agora quer “limpar” sua trajetória. Procura com muito cuidado — pois é sua mais fiel base de apoio — afastar-se de agitações policiais; irrita-se quando é lembrado que liderou um motim armado, evita o presidente Jair Bolsonaro, e faz apelos ao “diálogo”.
Mas Wagner já classificou Bolsonaro de “estadista”, prometendo defender o seu governo. O presidente, por sua vez, chamou Wagner de “o capitão daqui (do Ceará)”, como se fossem equivalentes. Enfim, Wagner é uma espécie de Bolsonaro que fez curso de boas maneiras.
Entretanto — para o bem ou para o mal — Wagner tornou-se um personagem político importante, que pode vir a ser o próximo governador do Ceará, ou candidato a prefeito de Fortaleza em 2024.