Número de células neonazistas cresce mais de 1.400% no Brasil
Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Número de células neonazistas cresce mais de 1.400% no Brasil
Para a antropóloga Adriana Dias, Bolsonaro tem vínculo com os neonazistas desde 2004. "Vocês são a razão da existência de meu mandato", escreveu o então deputado a grupos extremistas.
A atentado em Aracruz (ES), quando um atirador de 16 anos, usando uma faixa no braço com a cruz suástica, invadiu duas escolas na cidade, matando três professoras e uma estudante de 12 anos, chamou atenção para o aumento de ataques de inspiração neonazista no Brasil.
Desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República houve grande aumento no número de células neonazistas. Em 2015, havia 72 grupos extremistas em atividade, número que disparou para 1.117 em 2022, crescimento de 1.451% em sete anos. Mas a curva se acentuou brutalmente, a partir da eleição de Bolsonaro. Em 2018, eram menos de 200 células, número que saltou para 1.117 neste seu último ano de mandato.
Os dados foram levantados pela pesquisadora Adriana Dias, doutora em Antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estudiosa do fenômeno neonazista há mais de duas décadas. Ela computou como “célula” atividade que reúna pelo menos três pessoas em redes sociais, aplicativos de mensagens e fóruns na internet.
Também aumentaram os atos criminosos praticados por neonazistas desde 2019, quando ocorreram 24 ataques; o número subiu para 35 em 2020, chegou a 67 em 2021 e passou a 43 até junho de 2022, ou seja, se a progressão for mantida este ano poderá somar mais de 80 atentados desse tipo. A pesquisa foi realizada pelo Observatório Judaico dos Direitos Humanos, que computou atos de vandalismo, destruição, pichação, profanação de lápides em cemitérios e propaganda antissemita. (Ambos os gráficos publicados pela revista Veja, 28/11/2022)
Foi Adriana Dias que encontrou um documento que faz ligação direta entre Bolsonaro e os neonazistas. Uma carta do presidente, quando ele ainda era deputado (2004) foi publicada em três diferentes sites neonazistas. No texto, ele deseja “felicidades por ocasião das datas festivas (fim de ano)”, concluindo com a seguinte frase: “Vocês são a razão da existência de meu mandato”. Em um dos endereços havia um banner com foto de Bolsonaro, com link que remetia à página oficial do então deputado.
“A partir da descoberta dessa carta, olho todos os finais de entrevista desse governo por outra ótica. Ele tem de fato um vínculo (com os neonazistas) desde 2004”, afirmou a pesquisadora ao jornal Brasil de Fato (17/8/2021).
Ao periódico, a professora explicou a diferença entre nazismo e neonazismo. Para ela, o nazismo “foi uma política de Estado, houve um regime que se incorporou ao Estado. O neonazismo é diferente. Surge no final da Segunda Guerra Mundial, mas, como não é um movimento estatal, está pluralizado, então se internaliza”.
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