Devido a mais uma batida policial varejando a casa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus parças, incluindo a prisão do tenente-coronel da ativa Mauro Cid, a nomeação do general Marcos Antônio Amaro dos Santos para comandar o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) passou meio despercebida. Ele assume o lugar do general Gonçalves Dias, que confundiu a invasão do Palácio do Planalto com um piquenique, passeando entre os depredadores.
De acordo com informações do Uol, o nome de Amaro teria sido recomendado pelo comandante do Exército, general Tomás Paiva, que achegou-se ao governo com credenciais de ser um democrata, depois de um discurso reconhecendo que as Forças Armadas têm de ficar longe da política.
Além da chancela de Paiva, Amaro carregava o reconhecimento de ter chefiado a Secretaria de Segurança Presidencial, no governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e, depois, ter assumido como ministro-chefe da Casa Militar.
No entanto, os dois generais, o indicado e o indicador, têm uma coisa em comum: ambos tiveram relação amigável com Bolsonaro.
Tomás Paiva, escolhido para “despolitizar” o Exército, abriu as portas da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), da qual era comandante em 2014, para que um obscuro deputado participasse de um solenidade de formação de cadetes para lançar, com um discurso, a sua candidatura a presidente: era Jair Bolsonaro.
Amaro, por sua vez, depois de Dilma, transitou muito bem pelo governo Bolsonaro, recebendo duas altas condecorações do ex-presidente.
Por tudo o que aconteceu durante o governo de Bolsonaro, talvez seja difícil encontrar um militar que tenha ficado imune à radioatividade política espalhada contra a “esquerda”, isto é, uma repulsa insana contra Lula e os petistas, todos jogados na categoria de “comunistas”. Foi esse caldo venenoso, preparado pelo ex-presidente Bolsonaro, que levou a várias extravagâncias militares e ao movimento golpista de 8 de janeiro.
Assim, parece equivocada a avaliação que o ministro da Defesa, José Múcio, fez ontem, em audiência pública, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, ao enfatizar que “em momento nenhum as Forças Armadas têm participado de política. Temos tido uma atuação conjunta, permanente e dedicada com todos os comandantes, o Estado Maior e os três comandantes, para que nossas atividades sejam voltadas para dentro das Forças”.
Prouvera Marte que ele tivesse razão, entanto Múcio parece atacado pela síndrome de Poliana, ao achar quatro meses de governo são suficientes para uma descontaminação radioativa, inda mais com mecanismos de baixa intensidade,
A “desmilitarização” do governo precisa ser feita com mais energia, como acabar com GSI ou nomear um civil para dirigi-lo, por exemplo.
Também é necessário adotar medidas mais amplas, como mudar o modo de formação militar que vige no Brasil, na qual o aspirante fica, no mínimo, quatro anos em regime de internato convivendo exclusivamente no ambiente militar, sem muito contato com a vida real. Essa bolha cria nos militares uma ilusão, perigosa, de que são melhores do que os civis, o que lhes daria uma espécie de direito sagrado de tutelar a sociedade.