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Bolsonaro abandona feridos no campo de batalha
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Bolsonaro abandona feridos no campo de batalha

Caso os arruaceiros sejam excluídos da anistia, conforme a proposta do ex-presidente, sobram para ser perdoados somente os que estavam no topo da cadeia alimentar golpista, entre eles o capitão

Seria comovente, não fosse tosco, o esforço do ex-presidente Jair Bolsonaro em apresentar-se como um mensageiro da paz e da concórdia, sugerindo “passar a borracha” no passado. Seria necessário muito mais do que um borrador para apagar o rastro de lama deixado pelo indigitado, desde o tempo em que era um “mau militar”, passando pelo período em que folgou na Câmara dos Deputados, até chegar à Presidência da Repúblico, onde deu vazão à sua ignorância sem peias.

Em cima do trio elétrico, na manifestação que comandou no domingo, atuou como um artista canastrão: “O que eu busco é a pacificação. É passar uma borracha no passado. É buscar maneiras de nós vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados”.

Na sequência fez um apelo melodramático pedindo “anistia para aqueles pobres coitados” presos em Brasília. “Agora nós pedimos a todos os 513 deputados e 81 senadores um projeto de anistia para que seja feita a Justiça em nosso Brasil”. Emendou: “Quem porventura depredou o patrimônio, nós não concordamos com isso. Que paguem, mas que essas penas não fujam ao mínimo da razoabilidade”.

Olhando de perto essa demanda de Bolsonaro, observa-se o seguinte, de modo simplificado. Houve três tipos de participantes no movimento golpista que grassou recentemente no Brasil: os organizadores, os financiadores e os que atuaram na linha de frente, servindo de bucha de canhão para os mandantes. Entre esses estavam, portanto, os que atuaram no quebra-quebra no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e na sede do Supremo Tribunal Federal (STF).

Caso esses arruaceiros sejam excluídos da anistia, conforme a proposta apresentada pelo lobo em pele de cordeiro, sobram para ser perdoados somente os que estavam no topo da cadeia alimentar golpista, entre eles Bolsonaro, caso sejam confirmadas as evidências levantadas contra ele pela Polícia Federal. Mas, como sempre, Bolsonaro busca salvar a própria pele abandonando os feridos no campo de batalha.

Como não podia dirigir-se ao STF sem o risco de complicar ainda mais sua situação jurídica, Bolsonaro endereçou o seu apelo ao Congresso Nacional, mas sua proposta não ganhou tração nem mesmo entre os seus correligionários. Mas atenção: o bolsonarismo continua a ser uma força política importante, ainda que maléfica.

 

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