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O que Lula ganha apoiando Nicolás Maduro?
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

O que Lula ganha apoiando Nicolás Maduro?

Já passou da hora de o presidente brasileiro ter uma boa conversa com seu velho amigo Jose Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. Mujica já disse existir "um governo autoritário na Venezuela", classificando Maduro como "ditador"

O autocrata Nicolás Maduro marcou eleições presidenciais na Venezuela para o dia 28 de julho deste ano. A medida foi comemorada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois é um item do Acordo de Barbados, afiançado pelo governo brasileiro. Também está prevista na resolução a presença de observadores internacionais para monitorar a votação, ainda a ver se será cumprido.

Porém, existe um tópico cujo descumprimento é dado como certo. Não haverá eleições livres, pois há impedimento de candidaturas de oposição, a não ser a consentida.

Estão banidos do processo eleitoral, por decisão da Suprema Corte — controlada pelo presidente venezuelano —, os dois principais opositores: a ex-deputada María Corina Machado, de forte apelo popular, e Henrique Capriles, ambos com programa liberal para a economia.

Capriles é acusado de cometer “delitos administrativos”, quando era governador (2008-2017). Corina sofre a acusação de ter participado de uma “trama de corrupção” encabeçada por Juan Guaidó, que durante algum tempo autoproclamou-se presidente interino da Venezuela.

Para piorar, no mês passado foi desfechada uma onda de prisões contra críticos do governo, inclusive membros da equipe de Corina.

Foi nesse contexto que Lula deu declarações pedindo “presunção de inocência” para Maduro: "O que eu posso esperar? Que haja eleições para a gente saber se elas foram democráticas ou não. A gente não pode já começar a jogar dúvida antes de as eleições acontecerem”, disse o presidente brasileiro, apesar das fortes evidências de que a votação não será limpa.

Lula ainda comparou a situação de Corina à sua, quando estava preso. “Eu fui impedido de concorrer em 2018. Em vez de ficar chorando, indiquei outro candidato”, uma sugestão evidente para Corina fazer o mesmo, deixando de incomodar os planos de Maduro.

Porém, a questão, posta nos devidos termos, obrigaria Lula a responder as seguintes perguntas:

1) Lula achou justo ter ficado preso, acusado de corrupção? Ele considera que os juízes agiram com imparcialidade no processo que respondeu?

2) Lula considera correta a desqualificação dos principais opositores, incluindo Corina, acusados de corrupção? Entende que os juízes venezuelanos agiram com imparcialidade no caso?

Lula teria coragem de responder “não” para o item 1 e “sim” para o item 2?

Da Venezuela
Maria Corina Machado respondeu ao presidente, por meio de uma rede social. Para ela, Lula “está validando os atropelos de um autocrata que viola a Constituição e o Acordo de Barbados”, que tem o apoio do governo brasileiro.

Na sequência, em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência negou que o comentário de Lula se dirigisse a Corina, apesar das evidências.

Pepe Mujica
Já passou da hora de Lula ter uma boa conversa com seu velho amigo Jose Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. Mujica já disse existir "um governo autoritário na Venezuela", classificando Maduro como "ditador"

O que Lula ganha apoiando e sendo amigo de autocratas latino-americanos como Maduro e Daniel Ortega, na Nicarágua? Além do equívoco em si, ele perde a capacidade de ser um mediador nesses conflitos.

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