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Dessal: comunidades correm risco de expulsão
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Dessal: comunidades correm risco de expulsão

Com a mudança de lugar da usina de dessalinização, que será instalada na Praia do Futuro, moradores estão sendo pressionados a deixar o local
Comunidade afetada pelo projeto Dessal, do Governo do Estado (Foto: Fernanda Barros / O Povo)
Foto: Fernanda Barros / O Povo Comunidade afetada pelo projeto Dessal, do Governo do Estado

É impressionante observar, porém não surpreendente, que qualquer empreendimento seja de governos ou da iniciativa privada, o aspecto humano é sempre secundarizado, quando não desprezado. Se forem pessoas pobres, pior ainda, pois se age como se fossem invisíveis, quando não simples estorvos a serem removidos.

Com a mudança de lugar da instalação da Dessal — a usina de dessalinização que será instalada na Praia do Futuro — o cálculo era que 120 famílias extremamente pobres, que moram no local, seriam afetadas. Serão pelo menos 200, segundo o núcleo da Defensoria Pública, que atende os moradores.

Esse “pequeno erro de cálculo” não é o maior problema, pois uma reavaliação resolveria.

Mas, como demonstrou reportagem no O POVO (29/6/2024), assinada pelos jornalistas Karyne Lane e Samuel Pimentel, as famílias estão sendo pressionadas a deixar suas casas, sem ter para onde ir.

A Dessal, “a maior planta de dessalinização de água da América Latina”, vai investir mais de R$ 3 bilhões no projeto, nos próximos 30 anos. Imagine, portanto, quanto estará calculando de lucro, enquanto isso conta tostões para indenizar famílias pobres que serão prejudicadas com o empreendimento. O projeto é uma parceria público-privada (PPP) com a Cagece (a companhia de água do Ceará).

Aos repórteres, Marcelânia Oliveira, uma das líderes comunitárias, disse que há oito dias teria chegado na comunidade uma "viatura" caracterizada como da “federal”, abordando moradores e dizendo que teriam cinco dias para deixar o local. No entanto, segundo a líder, eles não apresentaram “nenhum papel, não trouxeram nada”.

Difícil saber se a “viatura”, descrita pela líder comunitária, era um carro da polícia ou de empresas particular de segurança, que caracterizam seus veículos de forma parecida às oficiais.

De qualquer forma a ação dessas pessoas, sendo policiais, agentes de segurança privados ou capangas, deu-se de forma completamente ilegal, e precisa ser investigada. O governo do Estado e a Dessal devem essa resposta à sociedade.

Questionado pelo O POVO, o Consórcio Águas de Fortaleza S/A (formado pelas empresas Marquise S/A, PB Construções Ltda e Abegoa Água S/A), responsável pela Dessal, disse que as informações estão centralizadas no governo do Estado, que emitiu uma nota protocolar.

Destaque-se o trabalho importante, de apoio aos moradores, que vêm fazendo a Defensoria Pública do Estado e o Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Dom Aloísio Lorscheider, da Câmara Municipal de Fortaleza.

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