Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Quem arcará com as consequência será o povo venezuelano, com mais repressão por parte do governo, e mais sofrimento devido ao bloqueio econômico americano
É comum quando se critica as fraudes na eleição da Venezuela, praticadas por Nicolás Maduro e sua corriola, ouvir o contra-argumento de que a oposição seria de “direita”, sem apego à democracia, ou “fascista”.
O que se discute não é a qualidade da oposição venezuelana, mesmo porque, ainda que se considere a contagem fraudulenta de votos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a metade dos eleitores venezuelanos rejeitou Maduro. Enquadrar a todos como de extrema direita ou “fascistas” seria erro crasso.
O real problema para a autocracia é que o veto a Maduro não se restringe mais à “oposição tradicional”, as elites e a classe média. Espalhou-se para os segmentos mais pobres, que foram a base de sustentação do chavismo. Hoje, eles lutam para sobreviver, vão às ruas (ou às urnas) protestar, e veem parentes e amigos fugindo do país. Os setores empobrecidos são os que mais sofrem com a repressão policial e com a crise econômica.
Defensores da autocracia venezuelana, apesar de mais próximos da nota do PT — que apoiou Maduro — do que da posição da diplomacia brasileira, dizem estar a favor da “cautela”, sustentada por Lula. Nisso estamos de acordo. O reparo é que, ao longo do tempo, o governo brasileiro desenvolveu uma desnecessária relação íntima com a Venezuela, que poderia ter sido evitada, sem que as relações entre os dois países sofressem abalo. (Como escrevi no artigo Nota do PT é uma vergonha)
Para superar o impasse, governos do Brasil, México e Colômbia, buscam mediar uma saída negociada, levando em conta que Maduro não abriria mão do poder — na remota possibilidade de fazê-lo — sem a garantia de que ele e seus aliados não seriam presos na calçada do Palácio de Miraflores.
Mas os Estados Unidos atropelaram as negociações, reconhecendo o oposicionista González Urrutia como presidente. Também jogando contra um acordo, Maduro mandou prender María Oropeza, chefe da campanha de Urrutia, e ameaça prender o líder oposicionista.
O resultado mais provável desse cenário será a continuidade de Maduro no poder, com os EUA aumentando as sanções contra o país. Quem arcará com as consequência será o povo venezuelano, com mais repressão por parte do governo, e mais sofrimento devido ao bloqueio econômico americano.
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Texto atualizado em 7/8/2024, às 14h08min.
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