Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Você já imaginou se todas as categorias tivessem o direito de aumentar o próprio salário? Impensável, não? No entanto, vereadores, deputados e senadores desfrutam desse (imenso) poder — e o usam regularmente.
Os deputados da Assembleia Legislativa do Ceará entrarão em 2025 ganhando quase R$ 35 mil, completando um reajuste escalonado que começou em 2023, quando recebiam R$ 29,5 mil por mês. Isto é, sem contar outros benefícios que integram a verba a que os parlamentares têm direito.
Para não ficar atrás, os vereadores de Fortaleza aprovaram um autoaumento de 35% no “subsídio” que recebem. Dos atuais R$ 19 mil, o salário passará a R$ 26 mil, a partir de fevereiro de 2025.
Atenção: a média da inflação dos últimos quatro anos está na casa dos 6%.
Não se advoga aqui que os senhores parlamentares fiquem sem aumento ou que recebam um valor abaixo do razoável. No entanto, é injusto que uma categoria tenha o poder de estabelecer o quanto deve ganhar, pois abre-se o caminho para abusos.
Essa mesma distorção observa-se nos supersalários de alguns segmentos do serviço público, como Judiciário e Ministério Público.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Roberto Barroso, disse recentemente que o Judiciário “não tem participação na crise fiscal do país”. Ele reagiu porque, no corte de gastos propostos pelo governo, havia medidas para limitar a remuneração do Judiciário ao teto constitucional.
Mesmo que o ministro nada tenha a ver com o problema fiscal, não é justo que um servidor, ainda que ocupando um alto posto do serviço público, não considere razoável um salário de R$ 44 mil por mês.
E notem que a proposta nem sugeria acabar com os penduricalhos, que dobram ou triplicam os rendimentos, mas apenas definir quais benefícios ficariam fora dos valores para compor o teto.
É da natureza humana pensar que sempre se ganha pouco ou que o salário está abaixo do merecido. Mas alguém tem de pôr a mão na consciência e lembrar que 70% dos brasileiros ganham até dois salários mínimos.
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