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Bancada da bala reage a decreto do governo
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Bancada da bala reage a decreto do governo

Luiz Campos, ex-policial militar que atuou por três anos na corporação em São Paulo, reconhece que entre os abusos cometidos por PMs estão o "esculacho", a tortura psicológica e a violência física. "Me arrependo de 90% das abordagens que fiz"

Após seguidos casos de violência policial ocorridos em São Paulo, escrevi que não se tratava de “casos isolados”, mas de um padrão de conduta da Polícia Militar, em todo o Brasil.

Anotei que “esculachos”, agressões físicas, assassinatos de suspeitos rendidos, que não ofereciam risco aos policiais, sempre foram encarados com naturalidade.

Dia desses, deparei com uma entrevista, na CartaCapital (25/12/2024), com o ator e diretor Luiz Campos. Antes de dedicar-se totalmente às artes, ele foi soldado da Polícia Militar, em São Paulo, por três anos, entre 2010 e 2013.

No espetáculo teatral “Verme”, que ele dirige e atua, Campos conta a sua experiência como PM. Entre os abusos que reconhece, estão os “esculachos”, a tortura psicológica e a violência física. “Me arrependo de 90% das abordagens que fiz”, diz ele.

Segundo Campos, o processo de “desumanização” começa no primeiro dia de treinamento. “Você perde o seu nome e passa a ser identificado por um número. Eu era o 030”, relembra. “Os meses seguintes foram preenchidos por castigos físicos e humilhações”

Em outra reportagem (Folha de S.Paulo, 15/12/2024), a economista Joana Monteiro, considerada uma das principais pesquisadoras em segurança pública no Brasil, diz que a letalidade policial começou a escalar “muito” em 2015 e 2016. “Partimos de 3.000 mortes provocadas por policiais para 6.000, e crescendo”. Ela considera a Bahia, “um caso assustador”, somando 1.699 mortes (2023), o maior número absoluto do Brasil, equivalente ou até superando o número de vítimas em todo os Estados Unidos.

Na tentativa de evitar as seguidas tragédias resultantes de abordagens desnecessariamente violentas, o governo federal emitiu um decreto para disciplinar o uso da força pelas polícias. Um dos itens estabelece que as armas de fogo só devem ser utilizadas como último recurso.

Era esperado que a bancada da bala reagisse com a brutalidade de sempre, garantindo que vai trabalhar para derrubar o decreto. O inacreditável é que pelo menos cinco governadores tiveram atitude parecida. São eles: Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais), Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ratinho Júnior (Paraná).

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