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Para Hugo Motta não houve tentativa de golpe no 8 de janeiro
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Para Hugo Motta não houve tentativa de golpe no 8 de janeiro

Pelo que se vê, apesar do apoio concedido pelo PT para levá-lo à presidência da Câmara, a esquerda está sendo escanteada pela balança de Hugo Motta, desnivelada em favor da direita e seus extremos
O general e ex-ministro Walter Braga Netto é um dos pontos centrais de plano para golpe de Estado, diz a Polícia Federal. Além dele, outros militares já foram presos durante as investigações  (Foto: EVARISTO SÁ / AFP)
Foto: EVARISTO SÁ / AFP O general e ex-ministro Walter Braga Netto é um dos pontos centrais de plano para golpe de Estado, diz a Polícia Federal. Além dele, outros militares já foram presos durante as investigações

 Como é de domínio público, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi eleito por uma elástica aliança unificando vontades que vão do PT ao PL.

Em vista desse estranho consenso, somente pela imaginação é possível conjecturar o contorcionismo que o deputado fez — no campo das promessas — para firmar esses apoios, sem melindrar um e outro lado.

Em aceno para a (extrema) direita, Motta disse, despretensiosamente, que inelegibilidade de oito anos, prevista pela legislação para quem comete crimes, "é um tempo muito extenso".

Por coincidência (sqn), a fala acontece quando um deputado bolsonarista articula a aprovação de um projeto que altera a Lei da Ficha Limpa para reduzir a inelegibilidade de oito anos para dois anos, o que permitiria que Bolsonaro disputasse a próxima eleição presidencial.

Nova coincidência deu-se na declaração de Mota afirmando que 8 de janeiro de 2023 não foi uma tentativa de golpe de Estado, apenas uma agressão “inimaginável" (será?). Por enquanto, só faltou citar as velhinhas com bíblia embaixo do braço, como fazem os bolsonaristas fanáticos.

Ainda na mesma direção ideológica, Motta reclamou da regulação das redes sociais, que está em análise no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele considerou “um erro” a atuação do STF. afirmando que essa tarefa cabe ao Congresso Nacional, pois “a Casa das leis é o Poder Legislativo", lecionou ele, em entrevista à CNN

Mas só para constar, os nobres parlamentares precisam fazer um esforçozinho maior, pois a discussão está parada no Congresso Nacional há mais de 600 dias, segundo cálculos do Uol.

Por nova coincidência, a falta de regulamentação é do agrado da extrema direita, que prefere o faroeste, o pântano das mentiras, das informações falsas, dos xingamentos, da disseminação do ódio e dos escândalos fabricados.

Para completar, o pacote de benesses à direita Motta disse que deverá levar à votação a anistia para os depredadores da sede dos três poderes, o 8 de janeiro, um crime que chocou o País. Anistia que também contempla o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A desculpa de Motta é que ele não pode “ignorar uma pauta de um partido, o maior da casa, o PL”. Por mais uma dessas inexplicáveis coincidências é a legenda de Bolsonaro. E, seguindo essa lógica, ele poderá sentir-se docemente constrangido a pôr em votação o impeachment de Lula, pedido assinado, em sua maioria, por deputados do PL.

Com relação à outra ponta do arco ideológico, o PT, Motta recebeu das mãos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma lista de 25 projetos de interesse do governo. A resposta do presidente da Câmara soou um tanto dúbia. Disse que não criará "algum algum fantasma, algum obstáculo sem que ele exista (sic)", ou seja, um compromisso apenas formal com a pauta.

Com o Centrão, a direita “moderada”, Motta correu para o abraço. Garantiu a manutenção das emendas impositivas e defendeu o semipresidencialismo, uma forma de legalizar o que já acontece hoje na prática. Animado, o Centrão já entrou com uma PEC para para a mudança de sistema de governo.

Pelo que se vê, apesar do apoio concedido pelo PT, a esquerda está sendo escanteada pela balança de Hugo Motta, desnivelada em favor da direita e seus extremos.

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