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Jair Bolsonaro esfolou o bode como quis
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Plínio Bortolotti integra do Conselho Editorial do O POVO e participa de sua equipe de editorialistas. Mantém esta coluna, é comentarista e debatedor na rádio O POVO/CBN. Também coordenada curso Novos Talentos, de treinamento em Jornalismo. Foi ombudsman do jornal por três mandatos (2005/2007). Pós-graduado (especialização) em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Jair Bolsonaro esfolou o bode como quis

O vídeo da reunião ministerial de 22/4/2020, cuja divulgação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, presta-se a várias análises. Nenhuma delas favorável ao presidente Jair Bolsonaro. Um comentário possível seria comparar, por exemplo, o encontro ao programa Zorra Total, não fosse a tragédia a que o País está submetido com essa récua de desajustados no governo.

Há quem defenda ser “normal” o uso de palavrões em uma reunião que seria reservada. Não é normal, é bizarro. Há de se ter um mínimo de liturgia em casos assim, pois os participantes estão ali para debater os problemas do País. Ou, pelo menos, era com isso que deveriam estar preocupados.

Mesmo em conversa de botequim - quando uma senhora entra na bodega - faz-se um silêncio respeitoso. E, no encontro ministerial, havia pelo menos uma senhora, ainda que ela não tenha se saído muito melhor do que seus companheiros homens na sua apresentação. Fez um discurso no modelo "fake news", e revelou seu ânimo em querer pôr atrás das grades prefeitos e governadores, por desgostar da forma como eles encaminham o isolamento social, devido à pandemia do coronavírus.

Mas, no tópico “autoritarismo”, o prêmio vai para o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Investindo contra inimigos imaginários, o combativo áulico de Bolsonaro disse que, por ele, prenderia “esses vagabundos todos, a começar pelo STF”.

Quanto ao presidente, ele é “hors concours”, tanto no quesito autoritarismo, quanto no de “quantidade de palavrões expelidos por segundo”. Imbatível. Não vou reproduzir nenhuma das tantas obscenidades ditas por ele para evitar o choque aos “homens de bem”, que Bolsonaro tanto preza.

O seu lado bélico-autoritário ficou exposto quando exigiu: “Eu quero todo mundo armado”, encarregando o então ministro da Justiça, Sergio Moro, de tomar providências no sentido de resolver o problema. Talvez algo no estilo “bolsa revólver”, pois assim, pobres e ricos poderiam ter suas armas, de modo a resolver qualquer pendência à bala.

Altruísta, revelou ainda não precisar nem mesmo gastar dinheiro público com a sua segurança. Garantiu ter uma rede particular de agentes que lhe dão as informações, sonegadas, segundo ele, pelos órgãos públicos, a exemplo da Polícia Federal.


Nenhum dos duros problemas brasileiros foram debatidos na reunião, como se o País fosse isento de crises. Os ministros que expuseram algum plano ou proposta, tiveram o silêncio do chefe como resposta. É que faltou tempo. Adepto da família, Bolsonaro passou a reunião toda defendendo a dele mesmo, sem esquecer os amigos, revelando toda a sua sensibilidade humana.

Uma circunstância marcante do vídeo foi o visível constrangimento de alguns ministros durante a reunião. Nenhum reagiu ou teve coragem de fazer um mínimo contraponto ao presidente, que distribuía cascudos entre eles, em meio à sua verborragia sórdida.

Vocês me desculpem o machismo, mas faltou homem ali para dizer: “Peraí, presidente, não é assim que se esfola um bode, não!”

 

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