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Noite e Dia
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Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.

Noite e Dia

Tipo Crônica

O amor que corre dencanto dobrado em limalhas de pensamento regurgita à tua face de lamento, quando num momento te vestes num sorriso.

Como em margens seguras do sonho impreciso que me te tens às mãos, figura nos chãos debaixos pés uma canção de amor em teu juízo.

Por onde passas és redemoinho. Tua liberdade furiosa, sei, a ninguém pertence. Arrastas e vences o que te importas no caminho e assopras com as pernas as poeiras do teu tempo.

Forte e frágil és sombra de vento. És nubem, és contento, quando deságua de chuva irisa-se em luar. É teu corpo onírica paisagem, tua pele enluarada mingua como a noite a gozar.

Por onde ondeia és maraberto, verde e silente de amaresiar...

Engolindo toda a vida em ti descoberta. Devorando-te pensamentos. Te devorando, Dvorak. Sorris e teus sorrisos são as chaves e achaques.

Por onde teus olhos passam, constelações como em pálpebras declinam. No alvorecer, no arvorescer, noite coroa dia; dia entorna noite e se animam.

Na casta cobiça de construir peça a peça o mosaico de tua alma canora, segredo-lhe meu silêncio. Tu me ouves muda, não o abraças, não o choras.

As palavras são forjadas uma a uma pela língua mais branca, na frase cuidadosamente pró-ferida, na cautela exaurida que a tudo sublima, na neblina que acompanha a mais prenhe solidão.

Preciso de ti... ah, como te preciso... precisamente ou não.

E o horror da confissão me vem como uma dentada, minha alma dilacerada, parto de tudo na vida, o meu bálsamo e a minha dor.

E tu sempre distante, entre risos e risadas, como as frias estrelas a fingir luz e calor.

A minha penitência decora as paredes do meu coração onde sulco teu nome, em gravação, com cinzéis de saudade.

Não é, porém, meu nome que vejo em teus olhos nem de a felicidade. Pois, como no poema, repouso em tua janela, tu és meu in verso, és ela: a minha condenação.

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Encontrei-te por dentro em teu corpo desabotoado e na mais linda aflição, de repente, me tomastes ao teu lado.

E eu que não te amava, agora até teu era, e lancei para o céu a tarda espera das alegrias em troca da grande novidade de ver-te nua todos os dias.

Teus olhos de chama que acastanham meu desejo, teu batom na cama a negar-me o teu beijo e no latejo da tua mão na minha, vermelha e quente, a sentença incontinente de teu coração feraz: que enquanto de longe pareces deus, de perto, meu amor, és muito, muito mais.

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