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A Praça do Ferreira... de Novo II
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Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.

A Praça do Ferreira... de Novo II

Algum tempo depois, no século XX, devido às ações iniciais do boticário Ferreira, a praça ganharia a pompa de "Coração da Cidade".
Tipo Crônica
FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 16.07.2025: Como parte do projeto de requalificação da Praça do Ferreira e entorno, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) modifica a sinalização da rua Floriano Peixoto.
. (Daniel Galber/Especial para O POVO) (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 16.07.2025: Como parte do projeto de requalificação da Praça do Ferreira e entorno, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) modifica a sinalização da rua Floriano Peixoto. . (Daniel Galber/Especial para O POVO)

A Praça do Ferreira, antiga Feira Nova, foi o palco de diversos acontecimentos que ainda hoje ecoam na memória de quem viveu ou daqueles que, por mutações na loteria genética, têm o poder de viajar no tempo.

No início, ainda como Beco do Cotovelo, era uma região mal definida, tomada por areal e palhoças, o ponto extremo daquela "cidade", cuja área principal, a mais antiga e povoada, era aquela arrodeada pelo Fortim, Largo da Pólvora - futuro Passeio Público -, praça da Sé/Caio Prado, Igreja de São José... Algum tempo depois, no século XX, devido às ações iniciais do boticário Ferreira, a praça ganharia a pompa de "Coração da Cidade". Quando aqueles mais abastados perceberam que a cidade estava repleta de gente doente e pobre - que ocupava as ruas da cidade em fuga das secas - decidiram se mudar daquele ambiente e ir para "longe": Jacarecanga. Da mesma forma, outros quando queriam descansar do incômodo da rotina citadina, passavam algum tempo em chácaras "distantes": no Benfica. É importante lembrar que naquele tempo não havia bairros e aquilo que denominamos de "Centro", na verdade, era a própria cidade de Fortaleza, com todo o seu charme de "Loura desposada do Sol", pegando bochecha nos melancólicos bondes da modernidade.

Temos a obrigação de lutar pelo nosso "centro histórico". Não é fácil, eu sei, mas precisamos construir um grande projeto de qualificação e reordenação desse espaço. É certo: Fortaleza está longe léguas de ser uma Sobral, Viçosa, Aracati ou Icó. Por mais que se fale em conservação e preservação de patrimônio, das suas vantagens para a consolidação da memória e da identidade de um povo, da sua importância social, política, cultural, religiosa, entre outras, não conseguimos alcançar sucessos que mereçam registro. Aliás, posso até dizer que o centro da cidade de Fortaleza é o maior fracasso das gestões municipais. Do final do século XX até hoje, nenhuma gestão conseguiu realizar projetos de envergadura que tenham conseguido transformar essa situação de descaso com ele. Quando muito, cenografia, pirotecnia e verborragia.

Quando viajei a Europa, fiquei encantado com alguns pontos que, a meu ver, pareciam as ruas pedonais do entorno das praças do Ferreira e dos Leões. Sem considerar as edificações azulejadas e coloridas de séculos, nessas ruas havia cafés, restaurantes, livrarias, rotisseries, padarias e lojas de natureza variadas. Eu estava lá e curiosamente me via aqui, imaginando ser possível nós conseguirmos mudar essa realidade de calçamento e mobiliário depredados, imóveis fechados, pichados, vítimas de frequentes incêndios e do abandono de seus conterrâneos a passar com muita pressa, sem nenhuma atenção ou apreço por aquele território que é nosso, o qual devemos respeito e sermos responsáveis por ele: conservação e restauração de prédios históricos - inclusive das fachadas, mas não só delas; implantação de mobiliário urbano, iluminação e dispositivos de acessibilidade; promoção de atividades artísticas e culturais (espaços de lazer, cultura e gastronomia); elaboração de projetos de moradia, de comércio e turismo; promoção da segurança; busca de formas de uso a antigos imóveis, entre outras ações do poder público que deveriam obrigatoriamente ter a escuta e a participação popular.

Felizmente, o Passeio tem o seu restaurante; o Sobrado Zé Lourenço tem a sua arte; o Palácio tem as academias; o São Luiz é um presente; o Excelsior é do Papai Noel; o Museu da Indústria é uma escola; o Theatro José de Alencar, um gigante; o Café do Comércio, um sonho; o Palacete é uma fila; e a Casa de Juvenal Galeno é poesia.

 

Foto do Raymundo Netto

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