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TV, a gigante obsoleta volta a ser desejada
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

TV, a gigante obsoleta volta a ser desejada

Campanha pela TV desperta o interesse dos candidatos. A mídia oferece pelo menos regras claras e a possibilidade de se conhecer, sem intermédio de robôs, as opiniões dos candidatos
Propaganda pela TV começa na sexta, 9 (Foto: Ilustração: Vecteezy)
Foto: Ilustração: Vecteezy Propaganda pela TV começa na sexta, 9

Começa na próxima sexta-feira, 9, a campanha eleitoral pelo rádio e TV, mas é claro que, a preço de hoje, a TV é apenas um dos caminhos que os candidatos têm para levar sua mensagem aos eleitores. As mídias sociais – um filão explorado pelo PSL em 2018 – ganharam em 2020 um mínimo de regras, mas o próprio presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso admitiu, há cerca de dez dias, que é impossível fiscalizá-las integralmente.

Em reportagem publicada hoje no O POVO, os candidatos a prefeito de Fortaleza valorizaram a TV como possibilidade de alcançar eleitores de uma forma que até me surpreendeu. Após as eleições de 2018, parecia que a TV havia se transformado numa gigante obsoleta.

mais.opovo.com.br/jornal/politica/2020/10/06/definidos-ordem-e-tempo-de-propaganda-eleitoral-em-radio-e-tv-em-fortaleza.html

No entanto, ainda restam muitas dúvidas de como realmente a comunicação dos candidatos com a população eleitora se dará nesse processo que, oficialmente, entra em sua segunda semana. Embora alguns deles falem que a TV está presente em lugares onde, por vezes, as mídias sociais não penetram, eu acredito que há outros fatores que fez a TV se tornar mais interessante nesse momento.

TV parecia uma mídia obsoleta, mas desperta a atenção dos candidatos
Foto: Ilustração: Vecteezy
TV parecia uma mídia obsoleta, mas desperta a atenção dos candidatos

O mais importante deles é que existem normas claras de utilização do tempo. Embora todos possam discordar dos critérios, eles existem e são cumpridos à risca. Há mais alguns: 1. A mídia funciona igualmente para todos do ponto de vista do suporte: ali há imagem e som que todos veem e ouvem ao mesmo tempo e hora; 2. Não é possível usar robôs na TV; 3. As desinformações flagrantes e utilizadas de forma desonesta podem ser rebatidas com mais celeridade, oferecendo um espaço público para as discordâncias e avaliação do conteúdo dessas mensagens diante dos olhos do eleitorado.

Não estou afirmando que os programas eleitorais pela TV sejam perfeitos. O que eu defendo é que a mídia tem uma operação que oferece certa possibilidade de se analisar o comportamento dos candidatos, pelos menos enquanto eles transmitem suas ideias. No entanto, é uma mídia em queda no número de espectadores.

Em julho passado, o Kantar Ibope Media divulgou dados que revelam que no período entre 2001 e 2020 as TVs abertas tiveram uma queda global média de 17% de audiência. Individualmente, a rede Globo perdeu 20% de espectadores, o SBT minguou em 40%, a Rede TV e a Band despencaram 39% e 24% respectivamente. Apenas a Record cresceu 51% nesse período.

Na contramão da queda da audiência da TV, a última pesquisa do IBGE sobre o uso de internet no Brasil, publicada em 2018, revela que 97% das 126,3 milhões de brasileiros que acessam internet o fazem por meio de smartphones. Houve um aumento de 31% de usuários a partir de 60 anos e praticamente todos os jovens entre 20 e 39 anos estão com os olhos colados no celular.

É óbvio que essa realidade tem impacto na forma como as pessoas se informam, se relacionam, consumem, vivem, enfim, muitas vezes sem levar em conta as armadilhas que se escondem na produção e distribuição em massa de desinformação pelas mídias sociais. E como muita gente se aproveita do desconhecimento de como funcionam esses mecanismos intra redes para despachar conteúdo duvidoso de toda sorte. Em época de eleições, o campo é fértil.

O pior da operação de uma campanha pelas mídias sociais são todos as possiblidades de uso de robôs, dos disparos em massa, do acesso às informações das pessoas sem autorização prévia, da demora das plataformas em dar respostas convincentes, apesar de todas as medidas tomadas nos últimos dois anos.

Hoje, o jornal Folha de S. Paulo mostra que empresas seguem oferecendo a candidatos a cargos eletivos disparos em massa pelo WhatsApp, contrariando não apenas normas do TSE, mas também a Lei Geral de Proteção de Dados que proíbe a utilização, por parte de empresas, dos chamados dados sensíveis – nome, CPF, telefone pessoal, renda – sem autorização expressa das pessoas.

A lei está em vigor desde 18 de setembro último, embora as sanções previstas na lei com multas que podem chegar a R$ 50 milhões só comecem a ser aplicadas no ano que vem.

A campanha eleitoral está apenas aquecendo, mas os cuidados com a desinformação industrial precisa ser uma preocupação de todos. Talvez por isso, essa gigante obsoleta chamada TV volte a ser tão desejada.

 

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