Os anos 20 do século XXI parecem querer desmontar alguns pilares que pareciam inabaláveis após a Segunda Guerra Mundial, no século passado. Pela história se sabe que os países aliados vitoriosos correram para criar instituições que unissem ainda mais o que sobrou da tragédia que foi o maior conflito bélico do mundo, deixando o rastro de milhões de mortes, experiências políticas devastadoras como o nazismo alemão e países destruídos.

As ideias de um mundo democrático e livre cerraram fileiras entre os povos do Ocidente. Tornaram-se o maior valor da grande maioria dos países europeus e americanos. A União Europeia foi uma tentativa de unir parte do mosaico europeu em torno desse pilar que deveria evitar conflitos armados no futuro. Era tecido pelos mercados, pelo livre trânsito de pessoas e pelo multiculturalismo. Engenharia de décadas. O que significa o Brexit?

Os Estados Unidos reinaram como o dono quase absoluto dessas ideias de povo livre, com uma economia gigante capaz de fazer cada indivíduo ter oportunidade e conseguir sucesso. Com um império econômico e bélico, os Estados Unidos subjugaram povos, interferiram em países mundo afora, apoiando inclusive regimes antidemocráticos, mas alinhados à sua política externa. Patrocinou, por exemplo, as ditaduras da América do Sul, incluindo o Brasil.

No último dia 6, durante a invasão do Capitólio pelos seguidores de Trump que tentavam evitar que os congressistas referendassem os votos do vencedor das eleições de novembro último, o democrata Joe Biden, o mundo parece ter visto que algumas peças do quebra-cabeças desse mundo democrático não mais se encaixam. A reação do estrupício que temos como presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que defende a volta do voto impresso como possibilidade de não repetirmos a crise norte-americana, dá sinal claro do que ele tem em mente.

Nos Estados Unidos, estão tentando apear Donald Trump do poder às pressas antes do dia 20. No Brasil, ainda temos dois anos de governo Bolsonaro que, se depender dele, será tempo suficiente para armar seus seguidores e incutir-lhes toda sorte de mentiras sobre o processo eleitoral. Enquanto isso, ele trabalha para quebrar o Brasil, não economicamente falando, mas quanto ao mínimo de credibilidade que ainda resta. Os novos anos 20 estão sendo contados por nós. E claramente há um novo espírito do tempo no ar.