Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Era julho, em 2009, chovia e fazia frio em Paraty enquanto ouvia o escritor e cineasta afegão Atiq Rahimi, que havia ganhado o Goncourt, principal prêmio francês de literatura por "Syngué Sabour: Pedra de Paciência''. O livro assume a voz de uma mulher afegã, que vela o marido em coma num hospital, durante uma guerra civil que pôs o território afegão como alvo dos soviéticos e potências estrangeiras.
O próprio Rahimi viveu a conturbada política do Afeganistão,desde o golpe que derrubou a monarquia afegã no final dos nos anos de 1970. O pai, monarquista,foi preso e exilado na Índia. Quando os soviéticos assumiram o poder no país, o escritor voltou ao país, estudou literatura na Universidade de Cabul e enveredou pelo audiovisual. Quando recebeu a convocação para pegar em armas e lutar ao lado dos soviéticos para garantir o regime comunista afegão, o jovem de 22 anos disse não. Fugiu a pé, junto com um grupo de 21 pessoas, até a fronteira do Paquistão. Tempos depois pediu asilo na embaixada da França.
Mas, essa conversa toda, na verdade, é para falar das mulheres afegãs. A voz da personagem de Atiq em “Syngué Sabour: Pedra de Paciência”, em volta de suas memórias fala de um país cuja política emudece as mulheres e lhes tira qualquer possibilidade de expressão pública. O próprio Atiq contou nesse encontro em Paraty sobre uma produção intensa de poesia anônima de autoria feminina no Afeganistão mesmo durante o regime do Talibã. Alguns desses textos chegaram a ele depois de percorrer um trajeto improvável. Atiq Rahimi pôs uma pequena parte desses versos no livro “A balada do Cálamo”, que foi lançado no Brasil durante sua passagem pelo país e que reúne poesia e reflexões sobre a vida afegão.
Esta semana, quando se viu o retorno do Taleban ao poder no país asiático, impossível não lembrar das mulheres e de como elas formam a população mais desesperadamente afetada pelas ideias obsoletas de uma versão religiosa que aprisiona e joga na escuridão gerações inteiras.
Na última terça, Malala Yousafzi escreveu um artigo publicado num jornal brasileiro narrando em como escondia os livros sob xale ecaminhava até a escola, mesmo com a proibição do regime e afirma: “Não consigo sentir outra coisa a não ser gratidão pela vida que levo agora. (...) não consigo imaginar perder tudo isso e voltar para uma vida definida para mim por homens armados.”
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