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O 7 de setembro que Bolsonaro quer tornar inesquecível
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

O 7 de setembro que Bolsonaro quer tornar inesquecível

O presidente Bolsonaro tem como hobby dividir, esfacelar, confundir, mentir. Se existem instituições ainda funcionando no Brasil, nenhuma delas goza de tranquilidade.
Tipo Análise
JAIR BOLSONARO  tem apostado nas manifestações da próxima terça-feira como oportunidade para respirar politicamente em meio a crises (Foto: MATEUS BONOMI/AE)
Foto: MATEUS BONOMI/AE JAIR BOLSONARO tem apostado nas manifestações da próxima terça-feira como oportunidade para respirar politicamente em meio a crises

Nesses últimos dias, tenho lembrado muito de outros 7 de setembros da minha vida. Ando vasculhando na memória alguma grande expectativa, algo quese assemelhe ao desassossego confesso que a próxima terça-feira, 7, me trouxe. Não temo ruptura política, ataques verbais às instituições, invasão ao STF, golpe, nada disso. Até porque, boa parte destas coisas já fazem parte do nosso cotidiano.

O próprio presidente tem causado rupturas consideráveis no País. Pôs em lados opostos muitos líderes grupos religiosos dos mais diversos credos. Espalhou associações de classe empresarial – via de regra, muito homogêneas em torno dos seus interesses -, rompeu completamente com os limites democráticos ao xingar e atacar membros do STF e pedir o impeachment de um deles.

O presidente tem como hobby dividir, esfacelar, confundir, mentir. Se existem instituições ainda funcionando no Brasil, nenhuma delas goza de tranquilidade. A imprensa sempre esteve ameaçada por Jair Bolsonaro. O Poder Legislativo vive uma relação abertamente abusiva com o Executivo. Submete-se a quase tudo em troca de verbas de um orçamento que, pelo que o Estadão demonstrou, sofre de uma escassez medonha de transparência.

 

"De resto, não há nada mais de pé neste País em termos de um projeto político nacional: nem Educação nem Ciência nem Meio Ambiente nem Cultura nem mesmo uma Democracia no seu estado mais saudável."

 

O Judiciário é achincalhado de forma tão inédita pelo presidente da República, que chega a ser humilhante. De resto, não há nada mais de pé neste País em termos de um projeto político nacional: nem Educação nem Ciência nem Meio Ambiente nem Cultura nem mesmo uma Democracia no seu estado mais saudável. Em pouco mais de dois anos, Bolsonaro destruiu muita coisa.

Agora, se prepara para anexar à categoria de "discórdia nacional" as Polícias Militares, contando com a desobediência em massa de homens fardados e armados para, certamente, vingar-se dos governadores que o enfrentaram durante a pandemia do coronavírus, que matou até agora quase 600 mil pessoas de forma direta ou indireta.

 

"Enfim, parece que este 7 de setembro será mesmo inesquecível. E nada acontecerá pior do que o caos no qual já estamos metidos. "

 

Então, o que eu temo, na verdade, diante dessa realidade? Temo violência em escala promovida por quem deve zelar pela segurança e pela vida, temo uma postura de guerra civil entre brasileiros, temo que a surdez e a cegueira nacionais diante do bom senso se tornem uma epidemia com cura bem distante. Enfim, parece que este 7 de setembro será mesmo inesquecível. E nada acontecerá pior do que o caos no qual já estamos metidos. Esta é a fonte do meu desassossego. Saio de férias neste setembro. Um abraço.

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