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Para onde apontava o "farol" de Olavo de Carvalho
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Para onde apontava o "farol" de Olavo de Carvalho

Mas quem era mesmo Olavo de Carvalho? Um autodidata que se chancelou filósofo e intelectual escrevendo para a imprensa brasileira. Sim, a mesma que ele tachava de "mentirosa" e mancomunada com o esquerdismo.
Tipo Análise
Olavo de Carvalho foi internado com Covid-19 em 16 de janeiro (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Olavo de Carvalho foi internado com Covid-19 em 16 de janeiro

O escritor Olavo de Carvalho (1947-2022) foi enterrado, semana passada, numa cidadezinha da Virginia (EUA), onde morava, com a presença de pelo menos um ex-ministro do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo. No Brasil, o governo decretou luto oficial pela morte dele. O presidente e seus filhos renderam-lhe homenagens pelas mídias sociais.

Confesso que sempre achei as ideias do Olavo de Carvalho difíceis de acompanhar, me pareciam confusas, atiradas como um reboco mal feito. Sem fazer uma crítica clara bem fundamentada das coisas, ele apenas destilava sentenças. Tentei ler “O que você precisa para não ser um idiota”, mas achei o livro tão imbecil logo nas primeiras páginas que dei de presente – único arrependimento que tenho de ter dado um livro para alguém – para uma pessoa que queria lê-lo por curiosidade.

Desde 2018, porém, passamos todos a conviver – de forma midiática – com esse personagem autointitulado filósofo que dava cursos de filosofia online e que arrebanhava seguidores da nova direita brasileira, essa extremista, embrutecida, sem trato e pouco inteligente que se acercou do presidente Jair Bolsonaro. Entre um palavrão e outro, o guru de parte dos bolsonaristas gritava aos quatro ventos toda sorte de radicalidade. A começar por uma tal “guerra” necessária para aniquilar o “marxismo cultural” que aparelhava universidades, a imprensa e a cultura brasileira em geral.

Para evitar a “decadência moral” no país, o conservadorismo religioso deveria dar o tom das relações sociais e políticas, uma vez que o mundo estava dominado por agentes de um sistema engendrado numa proposta global esquerdista que, mais cedo ou mais tarde, extinguiria a liberdade no Brasil, a família etc. O novo modelo deveria começar urgentemente a ser ensinado nas escolas. O governo, apesar de eleito democraticamente, deveria adotar o absolutismo como prática. Passar por cima de tudo e todos e instalar essa nova sociedade.

Olavo de Carvalho escreveu livros e tornou-se professor de filosofia quando foi morar no Estados Unidos (Foto: )
Foto: Olavo de Carvalho escreveu livros e tornou-se professor de filosofia quando foi morar no Estados Unidos

Mas quem era mesmo Olavo de Carvalho? Um autodidata que se chancelou filósofo e intelectual escrevendo para a imprensa brasileira. Sim, a mesma que ele tachava de “mentirosa” e mancomunada com o esquerdismo. Passou pelos principais jornais e revistas do País entre os anos 80 e 90 defendendo, pasmem, os militares e o golpe militar de 1964, chegando inclusive a receber troféus dos militares. Isso, os militares que ele chegou a desancar em suas lives malucas com xingamentos explícitos.

Esta semana, li não sei quantos artigos de repercussão da morte de Olavo de Carvalho e vários deles diziam que a direita que passou a segui-lo já era “burra” antes de dobrar-se aos pés do armado de Richmond.

Na homenagem do presidente Bolsonaro e sua família ao escritor, talvez esteja uma chave de compreensão para se entender Olavo de Carvalho e seus seguidores. O presidente afirmou que ele foi “um farol para milhões de brasileiros”. De fato. O detalhe é que o farol de Olavo estava posicionado para trás, criando imagens distorcidas e um desencontro fatal entre seus ensinamentos e a realidade. Pobres dos seus discípulos que, agora, correm sérios riscos de perceberem quão amorfa era sua filosofia.

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