Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
É incerto para mim o tempo exato que soube que Rosa da Fonseca havia sido presa e torturada durante a ditadura militar no Brasil. Talvez fosse estudante, porque quando concluí o curso, o trabalho final era prático e eu lembro de ter entrevistado o professor e escritor Oswald Barroso, que também enfrentou prisão e tortura. Só alguns anos mais tarde, ao fazer uma reportagem para O POVO sobre os desaparecidos do Ceará durante esse período foi que tive a noção mais exata do que havia significado esse tempo e ao ler “Tortura nunca mais”, meu estômago revirou diante das atrocidades sofridas por homens e mulheres tão jovens.
No caso específico da Rosa da Fonseca, essa história ficou na minha cabeça por muito tempo, até ler o relato registrado no livro que leva o nome dela, publicado pela FDR, em 2018. O jornalista Érico Firmo, autor do perfil biográfico da Rosa, narra estas e outras histórias da política cearense que rodeia Rosa e seu grupo, que inclui outros personagens históricos de Fortaleza, como a ex-prefeita Maria Luíza, o Jorge Paiva e alguns outros. Mas o que sempre me interessou nessa personagem é uma mistura de administração e curiosidade. No início era: como alguém que sofreu tal experiência conseguiu seguir em frente, sem deixar se abater ou temer pela sua vida? Ou se a experiência é que havia tirado dela qualquer temor que o exercício da política possa ter como consequência.
Ao ler o ensaio biográfico da Rosa da Fonseca muita coisa ficou mais clara, incluindo a decisão tomada ainda muito jovem de seguir um ideal, por mais utópico que possa ser, de uma sociedade mais equilibrada. Rosa deve ser uma das últimas pessoas neste País com tal apego pelo que acredita e talvez por isso mesmo causa tanta estranheza. Quando o grupo Crítica Radical começou a experiência de fundar um sítio com um sistema de vida diferente das regras impostas pelo capitalismo, gosto de me lembrar dela com aquele brilho nos olhos de menina que ganha a primeira bicicleta.
"Nos últimos anos, Rosa radicalizou ainda mais militando contra o voto, os políticos e o dinheiro. No entanto, falar numa Rosa radical está longe de ser uma raiva do mundo ou das pessoas."
Prestando atenção no jeito sereno do corpo, na convicção exposta até no silêncio e no sorriso pronto do rosto marcado pela esperança de tempos melhores é que se percebe o tipo de militância que Rosa adotou como filosofia de vida. Talvez por isso mesmo, não lembro de vê-la triste. Das ações públicas que, para a maioria, talvez fossem coisa de gente muito louca, há um ideal latente em compartilhar experiências coletivas minimamente mais justas e saudáveis. Nos últimos anos, Rosa radicalizou ainda mais militando contra o voto, os políticos e o dinheiro.
No entanto, falar numa Rosa radical está longe de ser uma raiva do mundo ou das pessoas. O que está posto para ela é que, socialmente, cada indivíduo pode fazer parte da sociedade impactando-a de alguma forma, mirando em algo que pode ser apenas uma esperança, mas é preciso seguir esse rumo, acreditar que do outro lado de um mundo tão cruel e desigual é possível encontrar alguma harmonia para se viver em paz, de forma digna. Domingo que vem, é dia de Rosa. A utopia da Rosa é necessária e urgente.
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