Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Algumas cenas da peça “Rainha(s) – Duas atrizes em busca de um coração”, mesmo que tenha assistido há tantos anos, são inesquecíveis. A principal delas foi quando as rainhas Mary Stuart e Elizabeth 1ª, na pele das atrizes Isabel Teixeira e Georgette Fadel, entregaram à plateia do teatro Tuca cédulas de votação. As pessoas presentes escolheriam quem deveria, de fato, morrer: Mary ou Elizabeth. Nunca pensei que mesmo sabendo da história – ainda que mais ou menos – dessas duas mulheres fosse tão difícil decidir sobre quem seria levada à guilhotina, apesar de todo jogo teatral que era aquela votação.
A peça, dirigida pela dramaturga Cibele Forjaz, recriava o texto de Friedrich Schiller. E a outra cena inesquecível, inclusive, muito divertida, sem perder o ar dramático do contexto, se referia ao tempo gasto e o esforço medonho para conseguirem patrocínio para o espetáculo, após o projeto ser contemplado com a permissão de captar recursos, via Lei Rouanet. As duas rainhas levaram ao palco reuniões complicadíssimas com gerentes de marketing que pouco – ou quase nada – frequentavam teatro nem sabiam patavinas de quem eram essas tais inglesas, Mary e Elizabeth, e por que cargas d água deveriam retornar das tumbas para o palco do Tuca. Sem dúvida, eu consigo sorrir até hoje lembrando dessa cena.
Desde o início do (des)governo Bolsonaro, a cultura e as artes são vilipendiadas neste País. Muitos adeptos da crença bolsonarista tornaram artistas inimigos da Nação, e a Lei Rouanet, o pântano onde a “artistalhada” toda se lambuza com dinheiro público. O pior é ver artistas repetindo isso sem sequer pensarem no que estão dizendo e/ou fazendo.
O cantor sertanejo Zé Neto parece ter errado as contas quando, ao se importar com a tatuagem da Anitta, tadinho (que preocupação tão grande é essa, rapaz?), afirmou que ele não precisava da Lei Rouanet para fazer seus shows. Então, caso ele “precisasse”, Zé Neto não estaria tão enrolado como está agora. Porque a Lei Rouanet, da forma como está prevista – mesmo após Bolsonaro – tem regras de captação e prestação de contas claras, como deve ser todo e qualquer uso de dinheiro público, coisa que este governo, eleito para "acabar" com a corrupção não liga. Ao contrário, quanto mais em segredo o dinheiro público for gasto, melhor. Ou seja, parece que o modelo “discreto” das rachadinhas se impõe no mundo bolsonariano seja para compra de trator, carros de lixo, viagens, agenda ou qualquer outra coisa que diga respeito à gestão pública.
Faz duas semanas que o cantor sertanejo chora e pede desculpas em vídeos gravados para suas mídias sociais. Acostumado a receber milhares de reais dos cofres públicos de prefeituras, agora está às voltas com cancelamentos de shows, com o Ministério Público no seu encalço e, ainda, atrapalhando a vida dos colegas, porque a coisa respingou em todo mundo, e muitos prefeitos não querem transformar shows em dor de cabeça política.
O cantor deveria aprender com a Anitta a ler contratos e saber distinguir dinheiro público do privado. Tenho certeza de que ela não se negaria a te dar umas aulas, Zé. Para de chorar, menino, e aprende.
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